segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Separando as Coisas

Salve, Buteco! O placar de 1x0 magro em um jogo truncado contra os reservas do Cruzeiro está longe de atender às altas expectativas da Nação Rubro-Negra, mas ao menos serviu para remediar a enorme frustração pelas tristes atuações contra os reservas do Grêmio e os titulares do Cruzeiro.  Ontem, os reservas do time mineiro pareceram apostar na pressão mediante marcação alta no início da partida, provavelmente tentando marcar um gol logo no início, tal como ocorreu no confronto pela Libertadores. Passados esses primeiros minutos, o Flamengo foi aos poucos ocupando o campo defensivo mineiro e construindo algumas jogadas, porém pecando nas finalizações, com Vitinho e Everton Ribeiro. Não demorou muito, porém, e o time abriu o placar com uma troca de bola que se iniciou no lado esquerdo do ataque, na altura da grande área cruzeirense, com Vitinho, que tocou para Everton Ribeiro, que por sua vez se encontrava no setor direito, também na altura da linha extrema da grande área. Lucas Paquetá "puxou" a marcação ao se infiltrar em diagonal, da esquerda para a direita, abrindo espaço para a assistência de Everton Ribeiro para Henrique Dourado, que com um toque tirou do goleiro Rafael e mandou a bola para as redes, chorando após bater nas duas traves.

O Flamengo quase ampliou em uma jogada individual de Vitinho, que bateu forte e cruzado de média distância, mas a bola passou perto da trave direita de Rafael. Antes disso, Lucas Paquetá se precipitou e finalizou de fora da área quando poderia ter procurado Dourado perto da marca do pênalti. Defensivamente, o time não teve maiores problemas no primeiro tempo, senão em uma bola aérea cabeceada por Henrique entre Réver e Paquetá, tirada em cima da linha por Miguel Trauco, muito bem colocado.

No segundo tempo, o Cruzeiro cresceu na partida após as entradas de Thiago Neves e De Arrascaeta, quase empatando com uma finalização do jovem atacante uruguaio, que obrigou Diego Alves a operar um milagre "nível Gordon Banks". Barbieri demorou a mexer, mas quando o fez neutralizou a equipe mineira e devolveu a iniciativa de jogo para o Flamengo com as entradas de Willian Arão, Pará e Marlos Moreno. De uma maneira geral, o Flamengo passou a impressão de iniciar jogadas de ataque que poderiam resultar no segundo gol, mas sempre se precipitava com um toque a mais na bola antes do passe ou da finalização. Destaco, não pela qualidade da atuação, mas pelo foco e pela dedicação, o estreante Piris da Motta, os (merecidamente) criticados laterais Rodinei e Trauco e Henrique Dourado, que mostrou muita raça e vontade de acertar. Tecnicamente, Diego Alves e Léo Duarte fizeram mais uma ótima partida.

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Sobre as laterais, na direita Rodinei, como mostrou ontem, pode ser importante para dar volume de jogo na base da força física. Costuma ser criticado na marcação, mas acredito que, ao contrário de Pará, seu desempenho no confronto 1x1, em lances de velocidade, é regular. Não é pelo seu lado que os ataques adversários costumam se criar. O defeito que frequentemente apresenta nos jogos é de posicionamento na marcação dentro da área, nas bolas aéreas e lançamentos adversários. Ontem permitiu que De Arrascaeta, muito mais baixo, cabeceasse nas suas costas no lance da defesa espetacular de Diego Banks (ou Gordon Alves, como preferirem).

Todo lateral deve saber marcar. Trauco precisa ser cobrado nesse sentido. Ontem teve atuação segura, muito embora o Cruzeiro tenha atacado muito pouco por seu setor.

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O jogo de ontem teve suas especificidades. A arbitragem de Dewson Fernandes de Freitas da Silva foi uma das mais desonestas que já vi o Flamengo enfrentar.

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Comparando os times de antes e depois da Copa, nota-se que duas peças saíram (Vinícius Jr. e Matheus Thuler) e duas entraram (Réver e Vitinho).

Como venho sustentando em diversos posts esse ano, Vinicius Jr. é quase insubstituível, levando em conta o talento, a visão de jogo e a constante movimentação que atraía a marcação e gerava grandes espaços nas defesas adversárias, facilitando o trabalho dos demais jogadores. Sem Vinícius, o time volta a jogar no estilo "arame-liso". Vitinho aos poucos dá a impressão de que pode devolver ao time ao menos parte da agressividade que ficou no período pré-Copa do Mundo, mas ainda parece sem ritmo de jogo.

Já Matheus Thuler ainda está no elenco. Os números evidenciam que sua barração pelo capitão Réver não ocorreu baseada em critérios técnicos. O time perdeu não apenas em velocidade, como também em desarmes e no combate individual com atacantes adversários, o que forçou até mesmo uma mudança de posicionamento na linha defensiva, agora mais recuada. O número de gols sofridos pós-Copa prova a fragilização da defesa. Maurício Barbieri erra ao insistir na barração de Thuler, seguindo uma tradição negativa do clube, que permite a titularidade incontestável de veteranos em decadência.

Feitas essas ressalvas, é hora de separar as coisas.

Pipocadas históricas como na final da Copa do Brasil de 2004, nas Libertadores de 2002, 2007 (Uruguai), 2008 e 2011, além da reta final do Brasileiro de 2008, mostram que o problema de pouca competitividade em contextos decisivos, surgido neste século, não começou na atual gestão. Contudo, é preciso reconhecer que se intensificou durante os dois mandatos de Eduardo Bandeira de Melo, período em que o clube demonstrou fragilidade constrangedora nas competições eliminatórias, com sucessivas eliminações na Libertadores, na Sul-Americana, na Copa do Brasil e até mesmo na insossa Primeira Liga.

Os números não mentem. Levantamentos feitos por torcedores ao longo da semana mostraram que, comparando os desempenhos dos grandes clubes do futebol brasileiro em confrontos diretos desde 2013, o Flamengo é o que menos vence jogando como visitante, critério que, sem a menor sombra de dúvida, faz a diferença para disputar os maiores títulos. Isso quer dizer que, nesse quesito, o Mais Querido, durante as duas gestões EBM, vem apresentando desempenho inferior aos dos combalidos rivais cariocas e interestaduais que chegaram a ser rebaixados nas duas últimas décadas, o que é indefensável. A melhoria da estrutura e do elenco, especialmente a partir de 2016, exigiria resultados bem melhores.

Aliás, afirmo sem hesitação que, no plano atual, os elencos de Grêmio e Cruzeiro não são superiores ao do Flamengo, que hoje nada lhes deve em nível de estrutura (muito pelo contrário). Seus times reservas normalmente capengam e perdem muitos pontos quando atuam pelo Brasileiro. Portanto, nada explica os reservas do Grêmio e os titulares do Cruzeiro se imporem com tanta autoridade, senão uma brutal diferença na forma de encarar e se preparar para esse tipo de confronto. Estamos falando de um meio campo com Cuéllar, Everton Ribeiro e Lucas Paquetá ser completamente envolvido por outro composto por Jailson, Thaciano e Douglas e seus quilos a mais; de Cuéllar, Everton Ribeiro e Diego serem completamente envolvidos por Thiago Neves (até então em má-fase e jejum de gols) e De Arrascaeta.

Amigas e amigos do Buteco, o que aconteceu quarta-feira passada, no Maracanã, e no sábado anterior, em Porto Alegre, foi vergonhoso e constrangedor. Ainda que se alegue que a falta de priorização de uma competição levou a um maior desgaste do time titular do Flamengo em relação aos de Grêmio e Cruzeiro, estamos falando em atuações fraquíssimas e flagrante inferioridade rubro-negra frente aos adversários em cento e oitenta minutos de bola rolando. Quatro gols sofridos e nenhum marcado. Dois atropelos. Desgaste em razão da maratona pode até existir, mas até pela sequência pós-Copa ainda estar no início, não pode servir de muleta para tudo.

A estrutura do Departamento de Futebol subiu de patamar, mas a mentalidade permanece nos anos de fuga do rebaixamento. O Flamengo precisa reagir imediatamente.

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A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.