segunda-feira, 4 de junho de 2018

2008 Não! 2018!

Salve, Buteco! E o Mais Querido do Brasil abriu vantagem na liderança após o tenso e vibrante clássico contra o Corinthians, ontem no Maracanã. Os mosqueteiros iniciaram a partida em um 4-2-4 sem centroavante fixo que resultou num gigantesco percentual de posse de bola para o Mais Querido. Poucas chances foram criadas, porém achei que o time foi bem, com destaque para Diego, além de Jonas nos desarmes. Contudo, após a contusão de Jadson, o Corinthians mudou o desenho tático, espelhando o rubro-negro, e não apenas equilibrou, como passou a jogar melhor e terminou a primeira etapa levando perigo à meta de Diego Alves. Paquetá, sumido inclusive na recomposição defensiva, e Everton Ribeiro, discretíssimo, fizeram falta.

A segunda etapa foi toda rubro-negra, a não ser pelos minutos iniciais, quando o Corinthians ameaçou repetir a parte final do primeiro tempo. Paquetá saiu da ponta e passou a jogar mais pelo meio, adiantando Diego, que manteve o nível, mas fez subir a produção da nossa jovem estrela. Everton Ribeiro, sem brilhar, também apareceu mais para o jogo. O fechado e bem composto sistema defensivo corintiano dificultou muito as ações ofensivas do Mais Querido, mas após um bom passe de Diego, Paquetá finalizou de maneira brilhante, obrigando Walter a praticar difícil defesa, cujo rebote caiu nos pés do bem posicionado Felipe Vizeu. 1x0 e consolidação na liderança contra o adversário mais difícil do ano até aqui, ao lado do River Plate.

Vieram à minha mente recordações de uma década atrás, quando o Mais Querido também despontou como favorito para o título brasileiro.


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Exatos dez anos separam a atual edição do Campeonato Brasileiro da última na qual o Flamengo liderou a primeira parte da competição na era dos pontos corridos. O curioso é que há algumas semelhanças entre as situações vividas pelo Mais Querido em ambas as temporadas, assim como algumas diferenças relevantes que podem levar a um desfecho mais favorável no final do ano. Em 2008, a maior folga que o Flamengo teve na liderança foi na 9ª e na 11ª Rodadas, com cinco pontos à frente do segundo colocado. Contudo, alguns tropeços, como contra o Vitória no Maracanã, na 12ª Rodada, marcaram o início da queda de rendimento. Já em 2018 estamos firmes e fortes na liderança, nada indicando, antes da paralisação para a Copa do Mundo, que algo semelhante possa acontecer.

Entretanto, tal como em 2008, 2018 traz o período real e concreto da segunda janela de transferências internacionais. Em 2008 Renato Augusto e Marcinho se foram, enquanto em 2018 teme-se pelas saídas de Vinícius Jr. e Lucas Paquetá, no primeiro caso se não houver acordo com o Real Madrid para sua permanência até dezembro, e no segundo caso porque algumas declarações enigmáticas sinalizam a possibilidade de oferta substanciosa vinda do mercado europeu, o que, convenhamos, não seria surpresa alguma.

As semelhanças continuam: o elenco de 2018 é forte, como também era o de 2008. Se as duas joias da base realmente saírem, sobrariam Éverton Ribeiro, Diego e o promissor Jean Lucas, além de um elenco encorpado no contexto nacional, seja por outros jovens da própria base, seja por outros de maior investimento, como Diego Alves, Réver, Rhodolfo, Juan e Cuéllar. Em 2008 sobraram Ibson, Kleberson, Bruno, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e os laterais Leonardo Moura e Juan, o que permitiu que o time ficasse entre os cinco primeiros da competição, ainda que a perda da vaga na Libertadores tenha sido traumática e, na prática, vista como um fracasso. Talvez o time titular de 2008 tivesse um maior número de bons coadjuvantes e primeiros reservas, enquanto o elenco de 2018 me parece mais forte como um todo. Todavia, a desproporcional fraqueza de algumas é peças é sem dúvida um ponto comum entre ambos.

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Uma das grandes diferenças é que, em 2008, no segundo semestre o Mais Querido só disputou o Campeonato Brasileiro, enquanto em 2018 segue vivo, firme e forte também na Libertadores e na Copa do Brasil. Contudo, o Flamengo de 2018, ao contrário de dez anos atrás, é forte (e não capenga) em estrutura no Departamento de Futebol, aumentando as chances de encarar bem o encavalamento de competições pelo cada vez melhor preparo físico e atlético dos jogadores (o que não dispensa uma boa rodagem de elenco).

Em 2018 a situação financeira do clube permite o investimento em atletas de alto nível para reforçar o elenco e/ou tentar repor possíveis perdas, enquanto em 2008 o discurso foi de que a venda de Renato Augusto se impunha para equacionar dívidas (o que jamais me convenceu).

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Entre bons resultados e alguns tropeços, Caio Júnior, jovem treinador, mas não um "estagiário", conduzia razoavelmente um time que havia sido montado e azeitado por Joel Santana. É muito difícil dizer se, mantido o elenco, no final das trinta e oito rodadas, conseguiria fazer frente ao regular São Paulo de Muricy Ramalho. Vide os 2x4 no Maracanã, ainda pelo primeiro turno, muito embora sem a presença de Renato Augusto. Não tenho dúvida de que seria uma disputa apertada e uma campanha, quando menos, próxima à pontuação do Grêmio, vice-campeão. Todavia, não há como culpar apenas as fracas reposições para as saídas de Renato Augusto e Marcinho pela queda de rendimento do time. Escalado como centroavante, Diego Tardelli compunha o elenco e jogou bem na fatídica derrota para o Vitória no Maracanã, marcando um belíssimo gol mal anulado pela “bandeirinha de Rondônia”. Faltou a Caio Júnior enxergar o que estava bem a sua frente e que veio a se mostrar evidente a partir da temporada seguinte, no Atlético/MG.

O certo, e a História nos mostra, é que, mesmo levando em conta as fracas reposições, faltou consistência tática e, após a empolgante goleada sobre o Palmeiras por 5x2 no Maracanã, pela 35ª Rodada, Caio Júnior se enrolou na reta final da competição, ou seja, nos momentos mais decisivos (Cruzeiro, Goiás e Atlético/PR), o que acabou marcando definitivamente sua até então promissora carreira, que, à exceção de efêmeros oito jogos no comando Grêmio, nunca mais passou por um time de ponta.

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Maurício Barbieri herda um trabalho que coincidentemente começou com Muricy Ramalho, o campeão brasileiro de 2008, que planejou o 2016 do Flamengo; continuou com Zé Ricardo, que elevou o time de patamar, porém não soube planejar e renovar em 2017; com Reinaldo Rueda, que em sua curta passagem foi marcante ao apontar várias diretrizes que deveriam ser seguidas, e com Paulo César Carpegiani, de quem Barbieri foi auxiliar e que planejou 2018, mas que caiu com Rodrigo Caetano tentando acomodar os medalhões e contratações fracassadas.

Mais do que Caio Júnior em 2008, Barbieri não apenas vem conduzindo de forma eficiente o time que não montou nem planejou; ao contrário, elevou o nível de jogo ao executar muito melhor as modificações que Carpegiani tentou implementar, como por exemplo a diminuição de cruzamentos e a valorização da posse de bola na construção das jogadas ofensivas, o posicionamento da linha de zaga e o próprio desenho tático principal. Tal como Zé Ricardo, Barbieri executou o que não planejou de forma muito mais eficiente do que um veterano antecessor, todavia parece não ser teimoso nem paneleiro como o demissionário treinador cruzmaltino, e tudo isso pode estar sendo facilitado pelas recentes mudanças no Departamento de Futebol, o que não diminui de maneira alguma o mérito do nosso até aqui jovem interino.

Enfim, Maurício me parece ser bem mais ponta firme do que Caio, mas talvez venha a enfrentar o mesmo cenário de saída dos dois jogadores mais importantes do time, com a diferença de que isso ocorreria em meio à disputa das três competições mais importantes da temporada.

No final das contas, a principal diferença é que 2018 está em aberto no que pode ser feito pela Diretoria para tentar evitar a saída das duas maiores joias da base ou na eventual necessidade de repô-los, sem prejuízo dos reforços dos quais o elenco necessita. Ocorre que isso também se aplica à decisão de quem dirigirá o time em qualquer dos cenários, já que a efetivação de Barbieri, cada vez mais provável por méritos do jovem comandante, inevitavelmente envolverá um voto de confiança em um novato para comandar o time no que promete ser um intenso segundo semestre, repleto de jogos decisivos. Por outro lado, mexer no que está dando certo só se justificaria diante de uma grande margem de certeza de que a mudança seria para melhor, porém não há profissional desse nível no Brasil.

Não existe alternativa simples.

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Outra semelhança em relação a 2008 é a disputa pelo título com o São Paulo Futebol Clube, o que não deixa de ser uma surpresa, haja vista que seus dois coirmãos da capital paulista, Corinthians e Palmeiras, despontavam como favoritos para a competição. E a volta do Campeonato Brasileiro, na 13ª Rodada, trará justamente um Flamengo x São Paulo no Maracanã, com a segunda janela de transferências internacionais já encerrada e os elencos provavelmente já cem por cento formados.

Mas as coincidências podem não parar por aí: adivinhem só qual é o único clube que, na 38ª Rodada, compôs o temido “Z4” em 2008 e disputa a Série A/2018...

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Que 2018 seja diferente e melhor do que 2008 para o Mais Querido do Brasil. A saga rubro-negra em busca do título seguirá no Fla-Flu da próxima quinta-feira, em Brasília, no Mané Garrincha (mando tricolor). Diego está suspenso pelo terceiro cartão amarelo.

Como sempre, passo a bola pra vocês para a tradicional resenha de segunda-feira.

Bom dia e SRN a tod@s.