sexta-feira, 2 de março de 2018

Notas Rubro-Negras














Irmãos rubro-negros,




Mais um resultado lamentável. Mais um.

De certa maneira, tudo o que havia para ser dito, já o foi pela nossa torcida.

De certa maneira, ainda, falar do jogo é, também, repetir observações que têm sido feitas há alguns anos.

Tentarei, da forma mais breve possível, tecer considerações sobre o jogo e o contexto vivenciado pelo clube, assumindo o risco de tornar-me repetitivo.



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“O Flamengo não sabe jogar a Libertadores”



Respeito quem sustenta essa tese, porém discordo bastante.

Quem “não sabe jogar a Libertadores” não sabe jogar nenhuma competição no continente, pois embora seja um torneio de menor importância, às vezes enfrenta-se adversários mais fortes na Sul-americana do que na Libertadores. O ano passado comprova a assertiva. Enfrentamos na final da Sul-americana um adversário de muito maior tradição do que o Grêmio enfrentou na final da Libertadores.

Flamengo foi finalista do que hoje é a Sul-americana, enfrentando gigantes do continente, em 1993, 1995, 1999, 2001 e 2017.

Cinco finais em vinte e cinco anos. Números excelentes.

Fomos, ainda, às quartas-de-final da Libertadores em 1991, quando a roubalheira costumeira nos eliminou da competição e, também, em 2010, quando o caos da gestão pagou seu preço.

Todas essas participações, salvo em 1991 e 2017, foram disputadas durante anos de administrações tenebrosas (Luiz Augusto Veloso, Kléber Leite, Edmundo dos Santos Silva e Patricia Amorim).

É pouco para o Flamengo? Sem dúvida, muito pouco.

Mas esses fatos servem para desmistificar a tese de que o Flamengo “não sabe jogar competição continental”.

Pode-se indagar do porquê de o Flamengo não realizar boas campanhas na Libertadores.

Não existe uma resposta única ou simples para essa questão. Não sei sequer se há resposta. Todavia, há pistas que nos mostram certas nuances, como, por exemplo, o fato de que a Libertadores tem a concorrência do Campeonato Carioca. Parece estultice algo assim, mas é verdade.

Já no caso do Campeonato Brasileiro, se o time não vai bem no certame nacional, e isso tem ocorrido amiúde desde 1994, fica muito mais fácil concentrar as forças na Sul-americana

Além disso, muitas vezes, e isso não é de hoje, o clube se reforça na janela de transferências do meio do ano, melhorando o elenco.

Porque é inviável disputar a Libertadores com Irineu, Wellinton, Bottinelli, González, Feijão, Muralha (meio campo e goleiro), Elano, Gabriel, Vaz e tantos outros times recheados de jogadores de qualidade duvidosa.

Reitero, portanto, que quem disputa cinco finais de Sul-americana, em condições dificílimas, desafiando alguns dos maiores clubes do continente, tem todas as condições de fazer o mesmo na Libertadores da América.

Só para termos uma ideia. Nosso adversário na quarta-feira passada, o River Plate, considerado um dos dois maiores clubes da Argentina, havia conquistado até 2015 apenas dois títulos da Libertadores, em 1986 e 1996, mesmo com 31 participações na competição, mais que o dobro do Flamengo. E nós ficamos nessa de que eles são “gigantes”, são “temidos”. Por favor, né. Dois títulos da Libertadores até 2015, somente um a mais que nós, embora com mais que o dobro de participações.

Concluo, então, que “quem não sabe jogar a Libertadores” não é o Flamengo, mas são os que hoje conduzem a instituição, dentro e fora de campo.

Aliás, a julgar pelas nossas participações em todas as competições disputadas nos últimos anos, notadamente a partir de 2015, ano em que investimos R$ 40 milhões em Paolo Guerrero, pode-se dizer que “o Flamengo não sabe disputar competição alguma, salvo o Estadual do Rio de Janeiro”, porque os fracassos se acumulam em todas.

Do mesmo modo que a diretoria eleita e seus grupos políticos de apoio são, com toda a justiça, os responsáveis pelo espetacular trabalho realizado na administração, nas finanças, no jurídico, na área de TI, na parte estrutural e no futebol da base, também são eles os responsáveis pelos inúmeros e incontáveis vexames do nosso futebol.

“Ah, mas quem é o profissional do departamento é o Rodrigo Caetano”. Ora, e ele está lá graças a quem? De quem é o “projeto de profissionalização” do departamento de futebol do Clube de Regatas do Flamengo? Da Vovó Mafalda? Ou da diretoria eleita e do seu grupo de apoio?

Então, acho que vale pontuar de modo claro essa questão, porque eu tenho certeza absoluta de que o Flamengo tem camisa e tradição, e hoje, graças à diretoria, estrutura e dinheiro, para disputar e vencer qualquer competição nacional ou sul-americana.








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A arbitragem



Após sermos roubados dentro do Maracanã na final da Sul-americana e servirmos de bode expiatório para a Conmebol posar de “moralizadora do desporto sul-americano”, quando em outras oportunidades atos muito piores foram punidos de forma branda, ou sequer receberam punição, somos agraciados com a notícia, a uma semana de nossa estreia contra um tradicional time argentino, que o experiente árbitro designado para a partida “teve um problemas de saúde”, sendo necessário substituí-lo por um novato.

Precisa de mais do que dois neurônios para antever o que ocorreria (e que efetivamente ocorreu)?

O que fez a nossa diretoria para chamar a atenção do que se avizinhava? Alertou? Pressionou publicamente? Avisou de que se fôssemos prejudicados seria graças à manobra da Conmebol? O que fez a nossa diretoria após sermos roubados no Maracanã ano passado?

Nossa diretoria, segundo noticiado pelo site do clube, foi jantar com os dirigentes do River. É o supra-sumo da elegância e fidalguia: paga a janta e ainda é roubado dentro de campo no dia seguinte.

Nada contra a troca de afabilidades com adversários. É até desejável e louvável a atitude. Desde que, paralelamente, se faça também a firme defesa institucional.

“Reclamar não adianta”, alguns podem objetar. E ficar calado por acaso vai ajudar? Se vai dar resultado ou não, é outra história, o dever da diretoria é lutar pelo clube com as armas de que dispõe. Tivesse sido feito o devido alerta sobre a mudança no trio de arbitragem, todos diriam: “bem que a diretoria do Flamengo alertou em alto e bom som”. Mas tem de ser algo feito corretamente. Não é papo de notinha e também não é gritaria e chororô. Basta falar firme e apontar os fatos com convicção. Isso basta.

Um pênalti escandaloso não assinalado a nosso favor e um gol do adversário no qual três ou quatro atletas dele estavam em escancarado impedimento.

Vamos muito bem assim.







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Carpegiani



Amigos, Carpegiani veio feliz e contente para exercer a função de coordenador técnico.

No meio do caminho, todavia, foi obrigado a rumar para o banco de reservas, talvez a contragosto, o que a sua entrevista na apresentação permite supor, dado que, embora dissesse que a procura por um técnico continuava, foi imediatamente interrompido pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello e pelo diretor-executivo, Rodrigo Caetano, que o corrigiram e asseguraram que “ele é o treinador e ponto final”.

Se for este mesmo o caso, ele está certíssimo em se sentir desconfortável.

Porque a situação dele agora mudou. E mudou bastante.

A não ser que venha um técnico top, daqueles que toda a torcida vai dizer “agora vai”, alguém como o Tite ou o Sampaoli, o fato é que, iniciado o trabalho, a tendência é de que o Carpegiani continue como treinador do time.

Ninguém terá a audácia de mudar um trabalho em andamento para substituir o técnico por um nome de nível médio. A mudança, se ocorrer, virá com alguém acima da média.

Neste contexto, a situação do Carpegiani é de extrema pressão, pois agora todos os holofotes estão nele. E não há meio-termo: ele é o técnico da equipe de futebol profissional e será cobrado pelo exercício desta função.

Descortina-se para o Carpegiani, por conseguinte, três caminhos no Flamengo: surgir um nome incontestável para assumir o comando técnico do time; ou ele, Carpegiani, continua na função, obtém ótimos resultados, conquista títulos importantes e daí decide se e quando quer migrar para a função de coordenador; ou, na última hipótese, caso o trabalho seja ruim e os resultados não venham, o desdobramento normal será a sua demissão do clube, encerrando qualquer papo de “coordenação”, pois não será sensato colocar na função de coordenador alguém que não conseguiu fazer o milionário time do Flamengo funcionar dentro de campo.

Na quarta-feira passada, ele repetiu um erro que nossa torcida já se acostumou a ver de quem comanda o time nos últimos anos: a covardia. Preferiu abdicar de jogar para só se defender. O time ficou sem nenhum jogador de velocidade e, mesmo para segurar a bola, quando o adversário adianta muito as suas linhas, um jogador rápido é fundamental, pois é inviável ficar tocando bola na própria intermediária.

É preciso um desafogo.

Ele tinha o Vinicius Jr., que tem qualidade de sobra para buscar uma falta, para procurar espaços na defesa adversária, até mesmo para fazer a bola girar ou correr com ela.

Mas o Carpegiani, tal como o Luxemburgo em 2014 e o Zé Ricardo ano passado, optou por escalar um jogador de cadência, num time que já tinha Rômulo, Diego e Everton Ribeiro para executar a estratégia de segurar a bola. Até o Lucas Paquetá tem qualidade de passe e domínio para tocar a bola e segurar o jogo.

Além de ser mais um “cadenciador” no meio de jogadores sem velocidade, o Willian Arão tem por característica não dividir bola e jogar de pé murcho, sendo que não havia disputado uma partida sequer o ano inteiro. Tudo isso num jogo encardido e bastante disputado.

Um belo pacote que nos tirou dois pontos dentro de casa num grupo dificílimo.



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A sequência na Libertadores



Podem me chamar de sonhador, mas confio na nossa classificação, a despeito de todos os erros que têm sido cometidos, seja na formação do elenco, seja na adoção de uma mentalidade acomodada e relativizadora, impregnada de “protegidos” e de “confiança total", sem cobrança junto aos profissionais do departamento.

Confio na nossa classificação, a despeito da arbitragem e da injusta punição sofrida.

Confio na nossa classificação, a despeito da inércia da nossa diretoria quanto aos inúmeros prejuízos causados ao Flamengo pela arbitragem.

Confio na nossa classificação, a despeito do time não apresentar padrão tático de qualidade, a despeito de demonstrar inaceitável conformismo com os reveses e de ser adjetivado por um adversário (humilhação máxima em se tratando do Flamengo) como “sem pegada”, ou seja, sem raça, sem vontade, que deixa jogar.

Confio na nossa classificação, a despeito dos erros do técnico, erros que se repetem, ano após ano, frutos de uma mentalidade fraca e frouxa da diretoria eleita e dos seus grupos políticos de apoio, a quem incumbe, em ultima análise, fazer valer o que impõe a nossa tradição e a nossa Sagrada Camisa Vermelha e Preta.

Confio na nossa classificação porque sou rubro-negro, porque sou Flamengo e sei que, quanto maior a adversidade, maior a capacidade de superação do nosso tão amado clube. Cinco finais de competição continental disputadas nos últimos vinte e cinco anos, quatro das quais em momentos extremamente conturbados do ponto de vista político e de gestão e em situação de enorme dificuldade financeira e de estrutura. Seis finais de Copa do Brasil disputadas nos últimos vinte e um anos, cinco das quais em situação de enorme dificuldade financeira e de estrutura.

Tentar impingir ao clube a pecha de “fracassado” atende apenas aos anseios de quem hoje, com todas as condições favoráveis, tem angariado vexames e humilhações.

Confio e vou confiar sempre no Clube de Regatas do Flamengo.









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Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.