segunda-feira, 19 de março de 2018

A Diferença

Salve, Buteco! Que baita alívio a vitória na quarta-feira, né? Poucas vezes na minha vida de torcedor havia visto o Mais Querido entrar em campo tão desacreditado. Quase uma unanimidade em torno da derrota. Teve até jornalista equatoriano afirmando que o Manto Sagrado não assusta. O que mais me surpreendeu não foi a boa atuação no primeiro tempo, mas o desempenho físico na etapa final, considerando o que ocorreu contra o River Plate e nos dois confrontos recentes contra o Botafogo. Apesar disso, boa parte da torcida permanece um tanto descrente em relação ao ano de 2018. Confesso que me incluo nesse grupo. Analisando exclusivamente o desempenho do futebol dentro de campo, acredito em uma temporada bastante parecida com a de 2017. A atuação do time até as substituições em Guaiaquil é uma ótima referência para uma problema que vem desde 2016, qual seja, a falta daquele "algo mais" que deixa o Flamengo sempre bem posicionado em todos os campeonatos, mas não a ponto de levantar as taças mais importantes. Nos jogos mais importantes, o gol da vitória não sai. É sempre mais provável um empate ou, fora de casa, aquela "honrosa" derrota.

Ao se deparar com essa realidade, o torcedor olha para a Diretoria e desanima. O triunvirato formado por Eduardo Bandeira de Mello, Fred Luz e Rodrigo Caetano impede que qualquer torcedor com um mínimo de senso crítico se entusiasme. Parece-me óbvio que o elenco será minimamente reforçado no meio do ano, mas convenhamos, é tolice esperar por escolhas sólidas e criteriosas. É bem verdade que, nesse último ano de gestão, pode ser que, pressionados, mesmo sem admitirem publicamente a cambulhada de erros, esforcem-se para ter um ano esportivamente melhor. Quem sabe não diminuem a margem de risco (sendo eufêmico e evitando polêmicas) assumida, por exemplo, com Ederson, Conca e Rômulo? Seria a estratégia mais lógica, inclusive para que a sucessão seja tranquila. Todavia, convém não criar expectativas. A ficção, longe dos momentos de lazer e relaxamento espiritual, pode ser uma perigosa armadilha na vida real.

O que fazer então para esse 2018 seja ao menos um pouquinho melhor do que 2017? 

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Bem que poderia começar com o menino da foto, aquele que entrou e mudou o jogo em Guaiaquil. Vejam bem, não é jogar toda a responsabilidade em cima do garoto, que tende a ser cada vez mais visado e marcado rigorosamente. Mas se há um jogador que pode fazer as coisas acontecerem dentro de campo na base da individualidade é Vinicius Jr. O menino ainda não joga bola para se firmar no primeiro mundo da bola e talvez essa seja a senha para convencer o Real Madrid a segurá-lo por mais um ano, o que para o Flamengo pode fazer toda a diferença. As chances de convencimento dos espanhóis certamente aumentarão se Vinicius Jr. for titular e disputar as principais competições da América do Sul pelo Mais Querido, o que certamente contribuirá para o seu desenvolvimento, ponto de convergência de interesses entre os clubes e o jogador. É claro que a decisão pela titularidade não pode ser desapegada do rendimento dentro de campo, mas convém que Carpa enxergue o momento ideal para fazer sua parte e dar uma efetiva chance à sorte.

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A situação do Vinicius Jr. me faz pensar no futuro do Paquetá. Jovem, imaturo e empolgado com a titularidade e a explosão de seu talento, tem demonstrado alguma dificuldade em discernir o momento ideal para optar pela jogada individual em vez do coletivo, o que, porém, não o impediu de se tornar um dos principais jogadores do time. Lucas Paquetá está de um a dois degraus abaixo de Vinicius Jr. na escala de talento individual (não que seja pouca coisa), porém sobra em nível de Brasil e, no futuro, talvez até alcance a seleção brasileira, a depender de como se desenvolva. Desconheço os termos do seu contrato com o Flamengo, mas lanço a seguinte reflexão, baseada em uma mera conjectura: dizem que a multa rescisória alcança imponentes R$ 200 milhões e não sei qual é a proporção entre esse valor e o dos salários. Supondo que venha da Europa alguma proposta salarial vantajosa para o nosso jovem e talentoso atleta, não seria o caso de considerar o provável ganho esportivo que sua permanência no Flamengo traria a médio e longo prazo, e assim reformar o contrato não pensando tanto em aumentar o valor da multa, mas em oferecer condições para um vínculo de longo prazo? 

Vejo essa alternativa com muito mais simpatia do que automaticamente negociar e reinvestir o valor em jogadores brasileiros que retornam dos mercados europeu ou, pior, árabe ou chinês, muitas vezes em decadência, sendo pálidas sombras do passado. Para cada Diego Ribas versão 2016 parece haver um número maior de Concas, Rômulos e Edersons. É claro que cada caso deve ser analisado de acordo com seu contexto e peculiaridades, mas gostaria de ver o Flamengo voltando aos tempos em que valorizava suas pratas-da-casa que efetivamente têm relação de identidade com o clube e a torcida e dão alto retorno esportivo. Bem que poderia começar com o Paquetá...

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Jonas ou Cuéllar? Impressão minha ou as viúvas do Márcio Araújo começam a se assanhar? Brincadeiras à parte, Jonas é uma grata e agradável surpresa, dando toda a pinta de que se tornará um jogador muito importante para o elenco. Mas será que é hora de ser titular? Compreendo a sequência que Carpa pretende lhe dar, afinal de contas Cuéllar foi infantilmente expulso após o término da partida final contra o Independiente, ao xingar o árbitro colombiano (ainda que os xingamentos fossem merecidos!), o que lhe rendeu dois jogos de suspensão, para depois ser novamente expulso, também de forma absolutamente evitável e infantil, contra o Fluminense, partida na qual, lembrem-se, usou a braçadeira de capitão do time. Se forçarmos um pouco mais, podemos também contar aquela disputa na corrida com o glorioso Pipico no lance do gol do Macaé...

O colombiano merece o puxão de orelhas e até dá pra entender o momentâneo banco de reservas, mas Carpa precisa ter sensibilidade para não errar na dose. Tudo na vida é contexto e Cuéllar foi muito injustiçado no Flamengo até a chegada de Reinaldo Rueda. Além disso, indiscutivelmente é mais jogador do que Jonas, tanto no lado técnico, quanto no tático, apesar do nosso estimado piauiense cada vez mais mostrar seu valor para o grupo.

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Este texto foi escrito antes da partida contra a Portuguesa. Passo então, como sempre, a palavra a vocês para a tradicional palhinha sobre todos os assuntos relacionados com o Mais Querido.

Bom dia e SRN a tod@s.