Saudações flamengas a todos,

Há
quem enxergue bom augúrio nisso de “baixar a bola”, ou quem,
recorrendo a laivos de memória cada vez mais rarefeitos na massa
comum, recorde-se de momentos em que o clube logrou erguer taças
após prelúdios pouco altaneiros (embora também exista farta
“jurisprudência” que igualmente narre enredos de final distinto,
ou seja, não saiu nada de onde nada se esperava mesmo). Para cada
2009 há um 2005 invocando a contradança. Destarte, não vejo ser
prudente fundar-se nesse terreno.
Então,
sem delongas, o que esperar desse Flamengo?
Em
que pese a espessa nuvem de desconfiança e frustração que insiste
em repousar em nosso firmamento desde o ainda inesquecido Gasômetro,
há alguns aspectos que podem ser recepcionados de forma positiva.
O
Flamengo inicia a temporada retendo a espinha dorsal de um elenco
qualificado. Jogadores de nível perfeitamente compatível com a
expectativa de colher resultados de nível elevado dentro do
verdadeiro pântano de mediocridade que se espraia no ambiente do
futebol praticado na “terra brasilis”. Há vários jogadores que
teriam espaço de protagonista em qualquer equipe nativa, dentro de
uma perspectiva de análise individual e de currículo, em que pese o
fraco, como um todo, desempenho individual e coletivo demonstrado por
vários deles ao longo da temporada passada.

Por
fim, a tal “limpa”. Ou “barca”. Dessa vez, o clube aparenta,
efetivamente, demonstrar um mínimo de senso crítico, ao promover a
dispensa de alguns jogadores cujos serviços já não encontram
compatibilidade com os anseios de uma instituição do porte do CR
Flamengo. Com efeito, jogadores “úteis” e “de elenco”,
incapazes de apresentar desempenho consistente de alto nível,
começam a ser descartados, abrindo espaço para o aproveitamento de
jogadores “da casa” e para a contratação de profissionais
realmente capazes de agregar performance. Porque um Márcio Araújo,
um Gabriel, um Rafael Vaz (jogadores cuja contribuição até foi
necessária em outros contextos, mas que se tornaram, pelo futebol
e/ou pela postura, um estorvo) podem perfeitamente serem garimpados
dentro dos muros do Ninho do Urubu. E, além dos jogadores, alguns
profissionais da comissão técnica também foram desligados ou
esvaziados, o que pode indicar que, de fato, o clube foi capaz de
identificar descontentamento com o funcionamento de seu Departamento
de Futebol.
Mas,
porém, contudo, entretanto, todavia, e deixo aos amigos a opção de
escolherem a conjunção adversativa que mais lhe convierem, há
aspectos que não podem deixar de ser considerados.
O
primeiro desses elementos reside na própria política de
contratações. Em que pese o CR Flamengo singrar em direção ao
SEXTO ano da administração azul, celebrada, como se sabe, pelo
êxito na reestruturação da instituição, ainda soa
incompreensível que o rubro-negro ainda precise recorrer, de forma
quase exclusiva, ao surrado expediente de forçar aquisições de
jogadores sem despender um centavo. Com isso, muitas vezes chegam ao
clube jogadores com histórico de lesões, em baixa ou mesmo
decadentes. Ademais, determinadas negociações acabam por se
arrastar por semanas ou meses, comprometendo a formação de um
elenco homogêneo e com peças de reposição adequadamente
preparadas.


Há
mais. Se é verdade que a Diretoria, ao substituir determinados
profissionais da comissão técnica, demonstra aparente
descontentamento com seu desempenho, também causa estranheza
constatar que alguns deles “saíram sem ter saído”, ou
simplesmente seguem no clube, apesar de esvaziados. A percepção
(que pode ser procedente ou não) aponta para uma certa falta de
convicção na execução de determinadas ações. Percepção que se
fortalece quando se constata o evidente papel da “opinião pública”
(ou redes sociais, como se queira) na contratação, ano passado, de
nomes como Rueda e Diego Alves. É bom ouvir a “voz rouca” das
ruas. Mas usá-la como bússola, per se, demonstra preocupante falta
de certezas. E de rumo.
Enfim,
é um Flamengo envolto em incertezas este que hoje inicia sua
caminhada na Temporada 2018. Um ano que se espera menos sofrido e
frustrante, um ano em que se sonha com um clube que, enfim, abrace
sua vocação de comprometimento com a índole de perseguição às
vitórias, que encharque camisas e estenda a mão à sua gente. Que
seja capaz de fazer brotar jogadores identificados e prontos a atrair
admiração e idolatria. Que, enfim, torcer pelo Flamengo nos faça
felizes, capazes de cantar a alegria de ser rubro-negro.
Afinal,
é nosso maior prazer vê-lo brilhar.