quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Encontrar um rumo pro futebol profissional do Flamengo

Flamengo está sem rumo. E como tal, montou um departamento de futebol semi-profissional. Temos um Diretor Executivo de Futebol que controla uma estrutura básica e, como vemos, insipiente. E, como cereja de bolo, um dito CEO, que deveria ser, digamos, a cabeça pensante estruturante do profissionalismo do Flamengo, que está mais preocupado em participar com os jogadores de seus momentos de vestiário.

Junte a isto um dirigente amador, que vem a ser o presidente eleito do clube. E no sistema presidencialista ele é o "rei". E como rei se sentiu confortável em impor sua forma de pensar o jogo e a forma de funcionar do Departamento de Futebol sendo que até 2012 seu conhecimento não passava da arquibancada. E lá deveria ter continuado. Como vimos.

Talvez por sua experiência profissional, de funcionário de 2º ou 3º escalão do BNDES, um banco de fomento público, achou por bem aplicar seus conceitos gerenciais a um Departamento Esportivo cuja "rentabilidade" se mede por títulos. A desgraça foi completa. Convencido que proteger jogadores desqualificados e manter profissionais muito além do necessário, iria magicamente fazer todo o Departamento funcionar melhor, ele deu com os burros n'água. E com isto comprometendo o resto da gestão, que funciona muito bem em seus respectivos setores.

Mas, convenhamos, porque as idiossincrasias ruins de um dirigente amador se tornam tão relevantes a um departamento de futebol profissional, core Business do clube, que mantém o CEO dedicado a ele, junto com o Diretor Executivo supostamente especializado?

Porque o futebol profissional do Flamengo não tem rumo. A montagem do mesmo não obedece a uma lógica funcional e voltada a competitividade. Ela, propositalmente ou não, dá valor excessivo ao que pensa o dirigente amador da vez. Ele tem que dar o rumo, que decide passar a mão na cabeça ou não, que decide o profissional que vai contratar ou não. Enfim, é um poder enorme ao torcedor voluntário que consegue subir no alto da escada. Claro que há aqueles que anseiam por isto. O sonho destes é chegar lá e poder (que glória) definir os rumos do futebol do Flamengo baseados em seus achismos pessoais e convicções. O futebol do Flamengo se baseia no que acha o dirigente amador para que o departamento de futebol se mova.

O que é isto senão uma reprodução "nutella" de uma gestão amadora?

Tá errado. E, infelizmente, este erro é aceitado com enorme tolerância pelo presidente, conselho gestor e o tal CEO do ônibus e resenha de jogadores. Flamengo não pode mais se dar o luxo de manter este modelo. Vai continuar montando times sem propósito? O diretor trader contrata um lateral esquerdo que não defende e outro que não ataca. Tudo na base do "vamolá quem sabe". O CIM analisa jogadores, marca como C+, caso do Muralha, e vem o futebol e contrata. Não tem sequer filtro de nivelamento. "Ah não temos grana vai este C+ mesmo". Dane-se. Goleiro é irrelevante". Enquanto renova com Marcios Araujos e Gabriéis e esnoba o Departamento Médico que veta um jogador com contusão séria como Conca. Sonho do dirigente amador, Godinho, Conca veio. Fez um jogo "forçando a barra" (Departamento semi-profissional). E agora Flamengo paga um volume alto de dinheiro para ele por mês. 

Enfim, renovações estapafúrdias, que seguem critérios de simpatias pessoais, contratações bizarras de jogadores sem ritmo, o que demonstra que sequer enviam olheiros para realizarem análise do jogo do atleta antes de contratação. Um Departamento de Futebol, que recebe um volume alto de dinheiro, mas sem critério, sem objetivos, desperdiça o investimento, frustrando a torcida que esperava muito mais. Embora, como vemos, esta é uma esperança vã enquanto se manter este estado de coisas.

"Então, sabichão, jogar pedra é fácil. Isto aquele perfil bisonho do twitter (@PedradaRN) faz direto e não serve para nada." Sim, concordo. Então vou colocar alguns princípios que imagino que poderiam ser aplicados:
 - Flamengo tem que ter o "estado da arte" em todo seu quadro de funcionários do staff. Os melhores analistas técnicos, os melhores preparadores físicos e de goleiros, os melhores auxiliares técnicos, um CEO dedicado e especialista em gestão esportiva e competitiva, um diretor de futebol que controle o Departamento, com orçamento independente, para evitar que dirigentes amadores façam palpites e tragam "concas" da vida. E, complementando, um coordenador técnico. Ele será o evangelista do estilo de jogo a se buscar no Flamengo, da base ao profissional, preparando os jogadores e auxiliares técnicos para atuarem seguindo o que determina os padrões mais modernos de futebol.

- O coordenador técnico citado acima determina, junto com equipe auxiliar e mesmo a VP de futebol, que representa o torcedor neste momento, o MODO do Flamengo jogar. O estilo de jogo. A coordenação técnica deve ser antenada com as possibilidades infinitas das modernas análises técnicas, determinando, entre outras, tempo de posse de bola esperado de cada jogador, função. Deslocamentos ótimos em campo. Criando e analisando o jogo e o comportamento do time, dando subsídios ao técnico da vez. As contratações deveriam ser decididas de forma conjunta entre a comissão técnica e a coordenação técnica, aprovadas pela direção executiva.  Com o orçamento independente à parte para que as decisões profissionais sejam feitas por profissionais.

- Definido o "como", deve-se montar a equipe profissional de entorno. Técnico capaz de colocar isto em funcionamento e mesmo aprimorar com sua visão de jogo, auxiliares técnicos que se tornem aptos a darem treinamentos para manutenção/evolução desta ideia. Analistas técnicos competentes que busquem no mercado jogadores que possam executar estas tarefas em cada posição. Preparadores físicos com treinamentos equilibrados para cada posição, visando a sustentação fisiológica deste conceito de jogo. Ou seja, o departamento profissional se organizaria em torno da ideia de jogo. E não a ideia de jogo viria de um Departamento de futebol disfuncional e semi-profissional.

- Organizado como empresa independente dentro de um clube amador, os dirigentes profissionais envolvidos, deveriam retornar o investimento feito em títulos e também revenda de jogadores. Parte vital da receita para manter a roda girando. Metas, métricas individuais e de grupo, competições com pesos diferentes, vitórias em clássicos e contra adversários importantes com mais pesos que demais, tudo isto levaria a uma contagem matemática de performance, que ajudaria na avaliação periódica do departamento, podendo assim corrigir rumos e mesmo substituir profissionais que não obtém sucesso no período. 

- Os dirigentes amadores fariam o que? Chupariam o dedo? Não. Eles seriam o "Board" da gestão de futebol. Expectativas de títulos, peso das competições, seriam decididas previamente de comum acordo. Também teriam o papel vital de retornar ao futebol profissional eventuais preocupações oriundas do sentimento da torcida evitando desgastes políticos desnecessários como manutenção e renovação de perebas, em uma temporada de insucessos frequentes. Se não têm performance diferenciada devem vazar ao fim desta temporada. Futebol não é só resultado. É sentimento. E o sentimento da torcida é muito importante. 

- Equipamentos e softwares de ponta de análises técnicas e fisiológicas, ERP integrado do futebol à gestão administrativa, facilitando o controle orçamentário e contratual. O Futebol seria uma máquina empresarial montada para ganhar. Com um estilo de jogo constantemente aprimorado e defendido pela coordenação técnica, com jogadores recebendo valores altos de bônus por títulos e ganhando visibilidade, com isto tendo medo de fazer besteira e sair do clube. Flamengo não pode ser paternalista. Flamengo tem que ser mau e cruel. Impiedoso e vencedor. Não ter medo de mandar embora seja o técnico ou jogador que não tem performance. Sem festinha de despedida, sem comoção. A felicidade da torcida, o cliente final, estará nos títulos que vier a ganhar desta forma.