quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A difícil tarefa do Lomba

Flamengo tem um novo VP de Futebol. Ricardo Lomba, auditor fiscal, vice-presidente do CODE, foi alçado a este cargo substituindo Eduardo Bandeira de Mello (EBM), que desde janeiro 2017 acumulava o cargo de presidente e vice de futebol, substituindo Godinho.

Isto tudo já foi falado e comentado. Mas à medida que o tempo passa, a percepção da dificuldade do trabalho que Lomba irá lidar só aumenta. Entrevistas de EBM e Fred Luz explicitam o desastre com que o futebol é gerido, apesar do aumento do orçamento e modernização das estruturas de trabalho.

Mas como um Departamento Esportivo funcionaria com vários caciques como é hoje? Temos o presidente garantindo a um grupo de associados que os resultados esportivos obtidos foram bons, que os profissionais criticados do Departamento são "ótimos" e que os garante até o final do mandato. Isto após dizer que o departamento é profissionalizado. Se é profissionalizado como o dirigente amador passa por cima de resultados qualitativos aquém do desejado para garantir a manutenção de profissionais sem rendimento?

Fred Luz, o CEO, cria um sistema de bonificação, logicamente acatado pelo Conselho Diretor, que garantem gorda bonificação por resultados financeiros e metas esportivas de baixo nível. O mesmo CEO tem livre tráfego no futebol, certamente criando duplicidade de mando no setor. Ao invés de cobrar, trabalha em conjunto. Tem o pensamento acomodado que a estruturação física do Departamento e maior volume financeiro entrarão em campo em algum momento e garantirão as conquistas que estão nos faltando. Não é assim que funciona, Fred.

Rodrigo Caetano flutua no meio disso aí. Presidente e ex-VP falam do futebol por ele, são cobrados no lugar dele. Fred Luz, também fala do futebol por ele. O dirigente profissional, que trabalha com futebol desde sempre, vê tudo isto incólume. Não se retrata, não se expõe, não é cobrado em metas e resultados. E isto, pensando bem, é ruim para ele também. Não o ajuda crescer como dirigente. A atingir o algo mais. A acomodação gera fungos.

Lomba chega neste turbilhão. É o VP de Futebol, estatutariamente o "dono da pasta". Primeiro tem que resolver o problema urgente de comunicação do setor. Tem que ser a voz a falar pelo futebol. Ele e Rodrigo Caetano. E adotar o tom que o aproxime do sentimento de associados e torcidas, fartos e indignados com o tom passivo adotado por esta gestão. Claro que não é para execrar profissionais, mas expor indignação e tristeza pelos resultados ruins aproxima o futebol da torcida. E é bom para os jogadores saberem também. Saírem desta redoma artificial e ridícula que o excesso de dinheiro e publicidade ostensiva os colocam.

Lomba tem que resolver o problema de um Departamento com maquinário executivo estragado. Rodrigo Caetano está estagnado e talvez não faça jus ao tamanho que o Flamengo quer chegar. Fernando Gonçalves não resolveu como "psicólogo". Profissionais como Victor Hugo devem ser seriamente repensados. Mozer, o coordenador técnico, segundo Fred Luz, talvez seja outro a fazer um trabalho aquém. Jayme, nem preciso dizer. Enfim, a parte profissional do staff do Departamento de Futebol parece ser tão boa quanto um "Marcio Araujo", o que explicaria suas renovações sucessivas pela identificação que têm com ele.

Agora o que o Lomba, até ontem mais um torcedor indignado, pode fazer diante desta barreira estagnada e cheia de mofo? Terá autoridade para realizar mudanças? EBM saberá se afastar de um Departamento que pelo visto não consegue se separar? Fred Luz continuará com sua presença ostensiva no local talvez prejudicando tomadas de decisão independentes do Rodrigo Caetano? E havendo autoridade do Lomba, receberá auxílio e inteligência para moldar estrategicamente o Departamento para 2018, último ano desta gestão?

Complicado. Pessoalmente admiro demais o Lomba. É um cara que me vejo representado no futebol. Mas sei que o espera um tempo de fel pela frente.