Chega ao Flamengo em 2007.

Nenhum
conseguirá mostrar condições de desenvolver uma longa sequência
como titular.
Exceto
ele. Justamente o menos cotado.
No
início, mantém-se na reserva de uma equipe montada com três
volantes (Paulinho, Claiton e Renato Abreu). Entra esporadicamente em
uma ou outra partida, normalmente com a função de segurar alguma
vitória, papel revezado com Toró e Léo Medeiros, num setor onde se
vislumbra forte concorrência e aridez de talento.

Assume
Joel Santana, que logo identifica severos problemas no sistema
defensivo. Afasta alguns zagueiros, recebe reforços e remonta a
equipe. Mantém a ideia do antecessor de utilizar os laterais Léo
Moura e Juan como os pilares ofensivos do time, mas cria um cinturão
no meio-campo para que a dupla possa atuar com inteira liberdade. É
um meio-campo com nada menos que quatro volantes (Rômulo, Cristian,
Toró e Ibson). Nasce a Tropa de Elite.
Com
o novo conceito de montagem da equipe, o volante enfim começa a
ganhar oportunidades. Seu futebol duro, fortemente físico e de viva
aplicação tática agradam o novo treinador, que o “promove” a
reserva imediato. O volante começa a frequentar o time quando algum
dos titulares se lesiona ou está suspenso.
Na
reta final do Brasileiro, o jovem volante Rômulo sofre séria lesão.
É a chance que enfim surge.

No
ano seguinte, o Flamengo pensa em conquistar a Libertadores e o
Brasileiro. Avalia-se a necessidade de se contar com peças que dêem
mais opções ofensivas. Entende-se que, apesar de muito bem
executado, o Esquema da “Tropa de Elite” é previsível. Assim,
desembarcam jogadores como o volante Kleberson (de futebol mais
técnico) e os atacantes Diego Tardelli e Marcinho, entre outros
reforços para composição do elenco.
A
chegada dos reforços sacrifica um dos volantes. E o “escolhido”
é exatamente Jaílton, que perde a vaga de titular, em uma
formação-base que conta com Cristian, Toró, Ibson e Kleberson. No
entanto, recupera a vaga na reta final do semestre, quando Joel opta
por formações mais conservadoras. O Flamengo conquista o Bi
Estadual ao bater novamente o Botafogo nas Finais, mas protagoniza um
dos maiores vexames de sua história, ao perder de forma
inacreditável a vaga nas Quartas-de-Final da Libertadores para o
América-MEX, em partida que assinala a despedida de Joel Santana,
que assume a Seleção da África do Sul.
O
novo treinador, Caio Júnior, chega com a intenção de montar uma
equipe fundamentada numa
filosofia de jogo mais moderna, baseada na posse de bola e marcação
alta, sem abrir mão de um jogo veloz e intenso.
Mantém boa parte da base deixada por Joel, mas traz Renato Augusto
para o meio-campo (o jogador, com Joel, atuava como falso atacante,
opção muito criticada pela torcida) e passa a utilizar dois
atacantes de ofício (Marcinho ou Tardelli juntamente com Souza). Com
isso, resolve montar um sistema defensivo mais pesado, e com isso
mantém Jailton na equipe. Com um meio-campo formado por Jailton,
Ibson, Kleberson (Cristian) e Renato Augusto, o Flamengo voa nas
rodadas iniciais e assume a liderança isolada do Brasileiro,
praticando um futebol vistoso e extremamente eficiente.
Os
problemas começam na janela de transferências.

Já
sem muita paciência e traumatizada com o vexame na Libertadores, a
torcida reage com fúria. Entre vaias ostensivas, críticas
estridentes e mesmo uma invasão à Gávea em que chega a atirar
bombas no campo de treinamento, a massa avisa que o copo transbordou
e a paciência está no fim.
Nesse
contexto, rapidamente aparece o bode.
Outros
nomes já haviam ensaiado exercer o papel expiatório tão comum nos
momentos difíceis. Juan (sempre criticado), Kleberson (tido como
“sem sangue”), Toró (pela insipiência técnica de seu jogo) e
mesmo Bruno (por algumas falhas em jogos pontuais) andaram roçando o
papel de vilões, mas o “eleito” pela torcida é mesmo Jailton.
Não
sem fundamento.
Com
efeito, nos tempos da “Tropa de Elite”, em que o time praticava
um futebol de transpiração, as limitações técnicas do volante eram mitigadas pelo próprio perfil do “onze” titular. Sob Caio
Júnior, cuja proposta é um jogo mais de toque de bola, voltado para
o gol, a relação estritamente formal de Jailton com a bola passa a
ser mais exposta. Com sólidas dificuldades para executar passes simples e mesmo
dominar uma bola, o volante, até então, justificara sua presença
no time titular pelos bons números defensivos (é o líder de
desarmes da equipe no Brasileiro). No entanto, Caio Jr, buscando
encontrar alternativas para a falta de opções ofensivas do
Flamengo, agora recua Jailton para a zaga, formando um esquema com
três zagueiros com a ideia de voltar a usar os laterais Léo Moura e
Juan como o esteio ofensivo do time.
O
resultado é desastroso.
Sem
o menor cacoete para atuar na zaga, Jailton se atrapalha na execução
de noções básicas de combate e cobertura. Erra vários botes. É
envolvido no combate direto a atacantes mais velozes e ágeis.
E
passa a falhar sistematicamente.

Jailton
é ostensivamente vaiado sempre que entra em campo. É vaiado ao
tocar na bola. Vaiado ao dar um carrinho. Escorraçado ao menor erro.
A rejeição ao volante é verborrágica e logo transborda as quatro
linhas. Comentaristas esportivos analisam a função tática do
jogador, e muitos engrossam as críticas da torcida. Irritado, Caio
Jr reage mencionando a “ignorância alheia” para defender a
escalação do jogador. Encontra coro nos líderes do elenco, como
Bruno e Fábio Luciano, que se referem a Jaílton como “o ponto de
equilíbrio da equipe”.


Mas
o novo Flamengo de Caio Júnior está longe da equipe azeitada do
início da competição. É frágil defensivamente. Marca e sofre
muitos gols. Não transmite, em nenhum momento, a sensação de que
será um sério postulante ao título. No entanto, a vaga para a
Libertadores, destinada aos quatro primeiros colocados, parece um
objetivo bem mais viável.

No
entanto, Caio Jr. não dá o mais remoto sinal de que pretende
promover mudanças no setor defensivo. O Flamengo segue sua
instabilidade, exposta em uma crua estatística. Nas últimas seis
partidas do Brasileiro, sofre assombrosos 15 gols. Uma inacreditável
média de 2,5 gols sofridos por jogo. Alguém vaticina: “Caio Jr e
Jailton vão morrer abraçados”.
Numa
delas, a partida que efetivamente define a sorte do Flamengo na briga
pela vaga na Libertadores, o rubro-negro, em 35 minutos, abre 3-0
contra um desinteressado Goiás, no Maracanã. A partida parece
tranquila, mas Jailton comete um pênalti infantil ainda na primeira
etapa. O volante falha novamente antes do intervalo, e, na segunda
etapa, o Goiás chega ao vergonhoso 3-3 que virtualmente elimina o
Flamengo da disputa pelo torneio continental.
Ratificada
a desclassificação na última rodada (constrangedores 3-5 na Arena da
Baixada, jogo em que Jailton comete mais um punhado de falhas), a
Diretoria do Flamengo acena com um discurso de mudanças e
reformulação. O treinador Caio Jr é demitido. Jailton não tem seu
contrato renovado. Vai atuar no Fluminense, onde se lesiona. Acaba
transferido para o Coritiba, onde participará da campanha do
rebaixamento da equipe paranaense para a Série B. O goleiro Bruno e
o capitão Fábio Luciano, principais líderes do elenco, são
mantidos.
E
o vaticínio se consuma.