segunda-feira, 15 de maio de 2017

Futebol Brasileiro, Tática e a Decisão de 4ª Feira


Salve, Buteco! Na última sexta-feira, 12.5, "O Globo" publicou uma interessante entrevista com o treinador do Vasco da Gama, Milton Mendes, concedida ao jornalista Bruno Marinho. Parte dela foi destacada no perfil do Twitter do jornalista Leonardo Miranda (@leoffmiranda), que tem boas análises táticas, e diz o seguinte: "BM.: O jogador brasileiro tem dificuldade para entender a parte tática?" "MM.: Tem e vem da base. Alguns entendem mais rapidamente, outros menos. Às vezes não entendem, quando falamos em ocupação dos espaços. Na Europa, eles conseguem fazer isso, todos atacam, todos defendem. Por quê? Eles são estimulados a treinar 100% e jogar 100%. Quando o cara que corre 12 Km/h tenta marcar o de 20 Km/h, porque na hora do jogo ele vai tentar, ele não consegue. O jogador brasileiro precisa ser estimulado na base. Ele é craque, mas precisa entender que o futebol tem duas ideias, atacar e defender, criar e destruir. É só você ver o Neymar, o que ele fazia no Santos e o que ele faz agora. Depois de muito tempo, estamos conseguindo dar esse salto de patamar no futebol brasileiro. Talvez precisássemos de um 7x1, de um balanço. Ele não afetou apenas os treinadores, mas todos os setores do futebol."

Os treinadores brasileiros trabalham com o produto das categorias de base no Brasil. Levará um tempo até a mudança de pensamento se consolidar. É curioso observar que, no Século XXI, o Flamengo contratou alguns jogadores que não tiveram formação em categorias de base, como Negreiros e Obina. No elenco atual, segundo as reportagens, também são os casos de Márcio Araújo e Gabriel.

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Sempre gostei de acompanhar futebol, nacional e internacional, e minha impressão é que, de maneira geral, os treinadores brasileiros historicamente tiveram como preocupação primordial adaptar esquemas táticos aos maiores talentos, enquanto no exterior, principalmente na Europa, menos talentosos, a parte tática/jogo coletivo foi sempre privilegiado. A Argentina sempre me pareceu estar em uma espécie de meio termo, pois, mais talentosos que a média europeia, mas menos do que os brasileiros (em geral), tradicionalmente deram muita importância ao jogo tático, tanto que têm um curso de treinadores reconhecido pela UEFA e vários profissionais de ponta trabalhando no futebol europeu. A escola brasileira, fruto de seu contexto, é historicamente vitoriosa, não se pode negar. Por isso não enxergo erros, afinal de contas em nenhum outro país havia tantos talentos como no Brasil. Todavia, por uma série de fatores, o contexto mudou e parece cada vez mais claro para um maior número de profissionais do futebol brasileiro que é hora de adaptações.

O mundo girou e, com a "globalização econômica", há um abismo financeiro jamais visto entre o futebol europeu e os outros centros do mundo, inclusive o sul-americano. Os craques que antes brotavam de todos os cantos no Brasil, hoje desde cedo vão para a Europa, onde emprestam seu talento individual ao jogo coletivo, executando funções ofensivas e defensivas dentro de concepções táticas modernas. E o futebol brasileiro, sem os maiores talentos, precisa reaprender a jogar de forma coletiva. A ficha demorou a cair. Foi necessário um 1x7 em semifinal de Copa do Mundo... No Brasil.

Entre treinadores brasileiros mais experientes e a safra mais jovem, é fácil notar a preocupação em correr atrás do prejuízo histórico. Dos mais experientes, Tite, o melhor, e Cuca me parecem os mais preparados em nível nacional e internacional. Da nova safra, nomes como Roger Machado e Zé Ricardo buscam seu espaço tentando implementar conceitos modernos, mas em suas carreiras já tiveram cada qual derrotas categóricas em confrontos internacionais. Torço para que o trabalho de Tite na Seleção Brasileira possa influenciar os nossos treinadores em estilo de jogo, resgatando a essência do futebol brasileiro, como Sebastião Lazaroni, Carlos Alberto Parreira, Luiz Felipe Scolari e Dunga fizeram em um estilo de jogo que tradicionalmente era jogado na Europa. Nas últimas décadas, nosso "sopro de ofensividade", e fora das concepções táticas atuais, ocorreu na Copa de 1998 com Zagallo, que já teve fama de "retranqueiro"...

O futebol europeu de hoje reviveu e modernizou conceitos implementados não apenas pela legendária Seleção da Holanda de 1974, mas também por grandes equipes do futebol Brasileiro como (exemplos não exaustivos) a Seleção Brasileira de 1982 e o Flamengo de 1980/1982, dirigido por Cláudio Coutinho, que pensava à frente dos treinadores brasileiros, e Paulo César Carpegiani, que deixou sua marca e na época era um jovem treinador cheio de ideias e com uma promissora carreira pela frente.

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Falando no nosso Zé Ricardo, que enfrenta o gigantesco desafio de treinar o Flamengo e está prestes a completar 1 (um) ano à frente do time profissional, vejo-o muitas vezes com um pé na visão, hoje anacrônica, que predominou no futebol europeu dos anos 80 e 90, copiada por toda uma geração de treinadores brasileiros, e outro na modernidade. Inegavelmente é estudioso (inclusive dos adversários), está desenvolvendo o seu estilo e sem dúvida ainda se encontra em crescimento. Já apresenta como virtudes trabalhar bem a transição da base para o profissional, como há tempos não se faz no Flamengo, e é muito respeitado pelo elenco, que parece confiar em sua liderança. O time que montou é sólido defensivamente, mas tem limitações na parte ofensiva. Parte disso decorre de algumas limitações do elenco, que vem sendo montado pela atual Diretoria há mais de três anos, e outra parte de suas escolhas em níveis tático, de escalação e também de composição desse mesmo elenco. O histórico de treinadores do Flamengo é repleto de instabilidade, inclusive entre os vencedores, que parecem triunfar em espirais positivas temporárias e efêmeras. Logo, qualquer análise deve ser feita com cuidado, até porque a Diretoria parece apostar em um trabalho de longo prazo.

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Um dos desafios atuais do Flamengo e do Zé Ricardo é se tornar competitivo fora de casa em 2017, especialmente nos confrontos de maior porte. Contra o (bom) San Lorenzo, em Buenos Aires, o Flamengo enfrentará um adversário que tem seu próprio histórico de oscilações nessa temporada. O forte jogo coletivo argentino se fez presente nos primeiros 45 (quarenta e cinco) minutos do jogo no Maracanã, quando Los Hermanos chegaram a controlar o jogo por bom tempo. Também se manifestou na Arena da Baixada nos contundentes 0x3 sobre o Atlético/PR pela Libertadores, mas em contrapartida não aparece com regularidade no Campeonato Argentino e na própria Libertadores.

Pode ser que o Mais Querido conte com a volta de importantes jogadores, os quais, porém, compreensivelmente deverão estar sem ritmo de competição. Exatamente por isso, mesmo com a volta de todos eles o cenário é turvo, indefinido. Tomando por referência o jogo do último sábado contra o Atlético/MG no Maracanã, acho que o time precisa ser bem mais firme nas divididas e disputas de bola. Além disso, se a posse de bola ficar com o adversário, obrigará o Flamengo a ser eficiente e preciso, pela primeira vez fora de casa em 2017, em seu característico jogo de contra-ataques em velocidade. Se controlar o jogo, como por exemplo no 1º Tempo em Santiago e durante boa parte do jogo na Arena da Baixada, além da precisão, o Flamengo precisará ser mais incisivo e objetivo.

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Torcendo para que o Zé Ricardo seja feliz nas decisões que tomar e acreditando na vaga, pergunto a vocês como escalariam o time na quarta-feira. Detalhe: o Flamengo só perdeu uma vez para o San Lorenzo em Buenos Aires. No Nuevo Gasómetro, são 2 (dois) jogos, com uma vitória e um empate no tempo normal (derrota nas penalidades máximas).

Bom dia e SRN a tod@s.