segunda-feira, 6 de março de 2017

O Fla-Flu e a Estreia na Libertadores

Salve, Buteco! Sentei para assistir ao Fla-Flu que decidiu a Taça Guanabara com a impressão de que o Flamengo tinha um sistema defensivo sólido mas dificuldades para articular as jogadas ofensivas, afinal de contas o time não era derrotado desde o confronto contra o Internacional, no Beira-Rio, pela 31ª Rodada do Brasileiro/2016, em 16 de outubro passado, e me passou a impressão de que apenas continuava com a dificuldade para marcar gols, apesar das excelentes fases que atravessam os dois principais jogadores do time - Diego e Guerrero. Então veio o Fla-Flu e confesso que, hoje, não sei bem o que pensar.  A rigor, a dificuldade do time para enfrentar equipes que jogam no contra-ataque não chega a ser uma novidade, como mostraram, por exemplo, os últimos confrontos contra o Botafogo - titulares, pelo segundo turno do Brasileiro/2016, e reservas, pela fase de classificação da Taça Guanabara. Ocorre que não se pode resumir o Fluminense a um time que joga fechado e explora contra-ataques apenas por ter atacantes rápidos. A verdade é que a equipe tricolor, ao menos ontem, no Fla-Flu decisivo, marcou bem melhor do que o Flamengo, via de regra com mais de um jogador disputando cada lance para retomar a posse de bola, e atacou sempre em alta velocidade com seus jogadores se movimentando bastante no meio dos nossos defensores. O terceiro gol foi prova: Lucas, lateral direito, recebeu um belo passe de Sornoza e se infiltrou pelo meio da zaga para, sem marcação, colocar o Fluminense em vantagem. Em outro lance, Diego foi desarmado após ser cercado por quatro jogadores tricolores.

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Em suma, no primeiro tempo o Fluminense marcou, atacou e se movimentou melhor, podendo-se dizer que foi superior taticamente. Ao enfrentar o primeiro adversário realmente forte na temporada de 2017, o Flamengo expôs várias fragilidades. Como o adversário era forte, atacou e se expôs mais do que os outros, mas cedeu espaços e talvez por isso foi a partida em que o time mais criou chances de gol, embora dois dos três gols tenham sido marcados em jogadas de bola parada. Em contrapartida, quando o setor defensivo foi mais exigido, falhou seguidamente.

É interessante observar que cada gol do Fluminense saiu de um setor diferente da defesa: 1º gol, pela esquerda/meio; 2º gol, direita, e 3º gol, miolo da zaga. Não é possível simplificar e atribuir os três gols e as outras chances criadas pelo adversário a falhas individuais dos nossos defensores. O problema, insisto, é tático, relacionado com a disposição e movimentação do time em campo como conjunto. Se a falta de compactação ofensiva já havia se revelado em partidas anteriores, dificultando a articulação das jogadas de gol, no Fla-Flu se mostrou presente também em nível defensivo, passando pela marcação pelas laterais e posicionamento dos volantes.

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No segundo tempo o Fluminense se postou na retaguarda e não cedeu espaços ao Flamengo. O jogo se arrastou até mais ou menos trinta minutos sem lances de perigo, quando Zé Ricardo, diante desse cenário, substituiu para buscar o resultado. Poderia ter mexido antes e a opção de Everton ao invés de Trauco para terminar o jogo na lateral esquerda não me pareceu ser a melhor diante da possibilidade de uma decisão por cobrança de pênaltis, mas conceitualmente nosso treinador fez o que pôde para impedir uma derrota que parecia inevitável até então. Com as entradas de Gabriel, Berrío e Vizeu o time conseguiu pressionar novamente e poderia até ter virado o placar. Embora tenha demorado, Zé Ricardo reagiu e se valeu das substituições e do melhor elenco que possui para modificar o panorama de um duelo tático no qual estava sendo derrotado desde o primeiro tempo.

Impulsionado pela formação mais ofensiva, o time demonstrou alguma força psicológica e capacidade de reação. As substituições trouxeram de volta o futebol de Diego e Guerrero, que até então no segundo tempo mostravam dificuldades para superar a marcação tricolor. Infelizmente, faltou a Berrío tirocínio para passar a bola a Réver no último lance do jogo, mas é inegável que o colombiano mais uma vez trouxe mais poder ofensivo. A vitória e o título talvez tenham escapado pelo passe que não existiu.

O destaque do Flamengo vai pro Guerrero e a pintura que foi o seu gol de falta.

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Traçar um prognóstico para a Libertadores é muito difícil porque, finda a fase de grupos, haverá um sorteio para definir os confrontos a partir das oitavas-de-final. Então, no momento não dá pra fazer muito mais do que projetar a campanha do time nesse "micro-torneio de pontos corridos" que é a disputa pela classificação em cada grupo. Pelo que se extrai do noticiário, San Lorenzo e Universidad Catolica estão com times reformulados, sendo que os argentinos sequer jogaram oficialmente nessa temporada devido a movimento paredista dos atletas no país. Impossível ter um diagnóstico preciso diante desse quadro. Já o Furacão se classificou tendo problemas tanto com Millonarios, de Bogotá, como contra o minúsculo Deportivo Capiatá, do Paraguai. 

Se é verdade que o Flamengo foi muito bem contra adversários de menor expressão, com reservas ou em má-fase, mas assustou a torcida com o desempenho no Fla-Flu, não se pode afirmar de antemão que entre os nossos adversários na fase de grupos haja alguém jogando o fino da bola. Aliás, analisando os desempenhos dos demais times grandes do Brasil, não há destaques no início da temporada 2017. É claro que tão pouco dificilmente levará à conquista do título, mas talvez baste para a classificação na fase de grupos, especificamente no Grupo IV.

O que se pode afirmar com 100% de certeza é que, se quiser conquistar ou mesmo chegar às fases mais avançadas da Libertadores, o Flamengo terá que melhorar significativamente o seu futebol no curso da competição. A questão é: vocês acham possível ou mesmo provável?

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A Libertadores é a obsessão do ano e não poderia ser diferente. Todavia, tenho a impressão, desde o ano passado, que esse time, por enquanto, tende a ser mais competitivo no Campeonato Brasileiro, que adota a fórmula dos pontos corridos, do que nas competições eliminatórias, como é o caso da Libertadores e da Copa do Brasil. É claro que tudo pode mudar e ainda estamos no início de março, mas talvez leve tempo para o time evolua a ponto de também se tornar competitivo em competições eliminatórias e partidas decisivas.

Concordam, discordam? A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.