
Na última quarta-feira, em mais um brilhante alfarrábio, Melo explicou o seu desejo por vencer o Estadual. Concordo com ele que somos torcedores e torcedores devem torcer, óbvio, para que nosso time conquiste tudo sempre, mas muitos aqui já conhecem minha opinião: eu cago para o Carioqueta. Para mim, esse arremedo de torneio início não deveria nem mais existir no calendário do futebol brasileiro. Centenas de clubes por todo o país que empregam jogadores por apenas três meses e que estão amarrados a federações arcaicas num modelo entremeado por questões além-campo.
Dito isso, como a luta do Flamengo é inglória e longa, especialmente contra a Federação do Rio, e, já que teremos que conviver com esses estaduais por mais alguns anos, tratemos dele da forma que merece, como uma continuação da pré-temporada, sempre muito curta no Brasil. Na Europa, os clubes tem três meses de preparação antes do início das competições, enquanto que por aqui esse tempo não passa de três semanas. Como parte da preparação, então, temos que relativizar muito do que acontece no Estadual. Eu, tal qual vocês, adoro vencer. Golear então...
O que temos para tirar desses três primeiros jogos? Alguns mitos vem sendo quebrados, vamos a eles.
1. Treinador mono-esquema: Zé Ricardo continua armando o Flamengo num 4-3-3. No entanto, ao contrário da temporada passada, podemos perceber claras diferenças. A começar pela utilização de um armador por um dos lados, ao invés dos dois "pontas burros". A maioria torceu o nariz quando o treinador anunciou que usaria Mancuello na direita, reclamaram que o argentino não teria a intensidade necessária para marcar lateral. Mancuello não joga como ponta. Partindo da direita para o centro, ele auxilia na armação e divide essa tarefa com o Diego, que ficou muito sobrecarregado no ano passado. No outro lado, a ideia é escalar um velocista. Já foi o Éverton, deve ser o Berrío, assim que esteja pronto. Ontem, por falta de opção melhor, jogou o Adryan que não é exatamente rápido. Assim, as características mudaram pelos lados mas ganhamos velocidade por dentro, já que Gabriel foi o escolhido para substituir o poupado Diego. O Flamengo de 2017 é uma equipe com muito mais variações e, por isso, muito mais imprevisível para o adversário.

3. Zé não gosta de gringos: curioso... quais são os destaques do time nesse início de ano? Mancuello, Guerrero e Trauco? Que coisa, um argentino e dois peruanos. Berrío está chegando com status de titular, deve entrar no time assim que possível. Conca está sendo preparado e também poderá ser bastante útil quando estiver recuperado enquanto Cuéllar e Donatti ainda estão buscando espaço. Existe algo muito importante que poucas vezes é levado em consideração, que é a adaptação. Adaptação a um novo país, uma nova cultura, tanto social quanto futebolística. Alguns chegam e se adaptam rapidamente, a maioria, entretanto, precisa de um tempo para isso. Vemos hoje as entrevistas do Mancuello, por exemplo, e percebemos como ele está mais à vontade, falando o portunhol com muito mais desenvoltura. A própria quantidade de estrangeiros no grupo, além de jogadores com experiência internacional como Juan e Diego, auxiliam bastante na aclimatação. A tendência é que melhorem cada vez mais e, assim, sejam ainda mais úteis ao Flamengo.
Depois de três partidas contra equipes fracas, a próxima semana nos proporcionará outro tipo de experiência. Estrearemos na Primeira Liga contra o Grêmio na quarta, os gaúchos provavelmente com um time reserva, e teremos o primeiro clássico no domingo. Veremos o que nos espera.