quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Vamos Vamos Chape



Dois dias avassaladores. 29 e 30 de novembro de 2016. Primeiro dia, tragédia, estupefação. O avião da Chapecoense caiu, com toda sua delegação mais equipes de jornalismo, nas montanhas da Colômbia. Relatos chegavam. Poucos sobreviventes. Um e outro jogador bastante machucados, um jornalista, tripulante e só. Avião despedaçado. Como conseguiram? Do choque, do baque, o mundo inteiro sentiu. Todos que amam o futebol se identificaram na mesma dor. Europa, América Latina, EUA, de todo canto chegavam homenagens a Chapecoense. Os clubes brasileiros, quase todos, colocaram o escudo da Chape em seus perfis. Foi o futebol se fazendo pertencer a uma grande família. Times são rivais, jamais inimigos. Cada torcedor faz crescer a chama que aquece este esporte. Dor e choro eram sentidos em milhões de torcedores. As imagens dos jogadores vibrando no vestiário, do gol que San Lorenzo perdeu no último minuto... Tudo fazia aumentar a tristeza, a dor do que "poderia ser", do futuro destes jovens e de todos profissionais embarcados no fatídico voo.

No dia seguinte o mundo o consagra ao Chapecoense. O Atlético Nacional de Medellin enche seu estádio para prestar homenagens a quem seria seu adversário. Numa demonstração a mim, inimaginável, de empatia e solidariedade. Uma multidão de colombianos comparece, comovida, em paralelo a outra que comparecia ao estádio em Chapecó. Afastados entre si por milhares de quilômetros mais ligados no mesmo sentimentos. Dois clubes, irmanados pelo destino, faziam juntos o ritual de despedida, tornando a emoção muito maior e única. Algo que certamente o mundo jamais irá esquecer. O Presidente do Atlético Nacional recordou emocionado, as tantas vezes que seu clube viajava também. Certamente isto passou na cabeça de todos os jogadores, dirigentes e jornalistas esportivos de diversos países. Os riscos que correm nestas constantes locomoções. Neste dia o Flamengo também homenageou o jornalista rubro-negro Victorino Chermont, morto no acidente, dando seu nome ao Centro de Imprensa no CT Ninho do Urubu. Um jornalista sério, muito bem quisto pelos colegas, profissional ilibado e marcante. Respeitado por todas as torcidas e uma presença que muitos de nós nos acostumamos a ter em nossas casas, através da televisão. Deixará saudades.

Em meio a este caos emocional, fica o alerta para clubes e jornalismo esportivo, sujeitos a inúmeras viagens em veículos aéreos ou terrestres. A necessidade de treinamento para maximizar as possibilidades de sobrevivência. Consta por testemunho de sobrevivente, que as pessoas dentro do avião entraram em pânico com a notícia do colapso do veículo e se levantaram, minimizando assim, as chances de sobrevivência em caso de impacto. Caso todos tivessem cumprido as normas de segurança, mantivessem cabeça baixa em seus assentos, com cinto de segurança, em posição fetal, etc poderia ser que tivéssemos mais sobreviventes. Fora isto o fato que, aparentemente, viajaram em um avião preparado para trajetos mais curtos do que foi realizado. Os clubes não tem como saber a enrascada que estão entrando nos veículos que contratam ou lhes dão a disposição de uso. Porém pode ser que seja imperativo que haja profissionais certificados que homologuem que determinado avião contratado como taxi-aéreo corresponde as especificações de quantidade de pessoas, distância a ser percorrida e peso da bagagem. Vê-se que a própria seleção da Argentina viajou neste mesmo avião. Cabe, acho eu, a CBF, Commebol, e em última instância ao próprio clube, se preocupar com este importante detalhe, que hoje parece estar por conta de terceiros.

O Futebol é lúdico e emocionante. Causa raiva, tristeza, alegria, frustração, entusiasmo e torpor. Futebol é como a vida, um jogo que nós procuramos vencer embora  levemos muito gol contra, enfrentando adversários fortes que nos ganham quase sempre, mas continuamos jogando, jogando, para ganhar. E quando ganhamos, festejamos. Mas o  campeonato da vida nunca acaba. O futebol também é assim. E é por causa disso que a Chapecoense pode retomar seu caminho. Talvez de uma forma diferente. Ela agora está no panteão de times marcantes. O mundo a homenageou. Que aproveite a energia positiva de todas as pessoas que torcem por sua recuperação e saia contagiando a todos novamente.