segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Pensando em 2017

Salve, Buteco! Felizmente o Mais Querido proporcionou à Nação Rubro-Negra e em especial à torcida que compareceu ao Maracanã uma atuação digna do Manto Sagrado, vencendo o ótimo time do Santos por 2x0. A vitória foi sobretudo de alma e superação. Basta ver as estatísticas do jogo e o percentual de posse de bola da equipe santista, que demonstram o reconhecimento da superioridade tática do adversário, que vinha em momento muito melhor no campeonato, e por isso forçou a implementação de uma estratégia ao final bem sucedida de pressão na saída de bola adversária e contra-ataques. Guerrero, autor do primeiro gol, desperdiçou outras chances e o placar poderia até ter sido mais elástico. Outras peças funcionaram bem, caso dos meias-pontas Gabriel e Everton, assim como o volante Willian Arão e Diego, que marcou um golaço e comemorou emocionado com a torcida, demonstrando toda a sua satisfação em jogar pelo Flamengo.

Restando uma última rodada e com a vaga na fase de grupos da Libertadores da América/2017 garantida, confesso que pouco me importa a segunda ou a terceira colocação e sim jogar na Arena da Baixada sem pressão e quem sabe quebrar o incômodo tabu em campeonatos brasileiros. Outro ponto importante é não permitir que a empolgação e a felicidade com a vitória e a atuação de ontem impeçam uma análise racional dos desempenhos do elenco e da comissão técnica em 2016.

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É inevitável levar em consideração a crise econômica mundial e o câmbio desfavorável em relação à moeda brasileira (real), o que pode dificultar as investidas no mercado sobre atletas de melhor nível. Ainda assim penso que o Flamengo não deveria se apegar a alguns jogadores, renovando seus contratos, apenas porque são "adaptados" ou "conhecem" o clube se o mercado oferece melhores opções. Menciono como exemplos imediatos Emerson Sheik (cuja permanência é improvável, mas especulada em poucos setores da imprensa) e Márcio Araújo (pretensão de renovação por dois anos anunciada pelo presidente EBM).

Zé Ricardo não teve participação alguma na montagem do elenco de 2016, mas certamente terá influência importante na formação do elenco de 2017. Particularmente, não acho que esse fato justifique a fragilidade tática da equipe na reta final do campeonato atual, já conquistado pelo Palmeiras, mas a partir da temporada de 2017 definitivamente não servirá mais como argumento. 

É bom lembrar, nesse ponto, que nas últimas edições as equipes brasileiras, em nível tático, vêm sendo superadas de forma cabal por equipes dos mais diversos níveis de investimento e países da América do Sul. O Corinthians de Tite e o Grêmio de Roger, por exemplo, que o digam. As decisões a respeito de dispensas e renovações determinarão com o que o jovem e ainda inexperiente treinador contará na implacável Libertadores da América, cujo histórico do Flamengo no Século XXI provoca na torcida o anseio por no mínimo uma campanha digna, diferente das anteriores.

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A questão da "adaptação" ao Flamengo e de "conhecer o clube" também influi seguidamente na escolha de treinadores. Alguém se recorda de quando um treinador "de fora", ou seja, "não prata-da-casa" conquistou um título importante no Flamengo? Recentemente, lembro-me apenas de Waldemar Lemos/Ney Franco na Copa do Brasil em 2006. Antes disso, Jair Pereira (Copa do Brasil/1990) e Cláudio Coutinho (Brasileiro/1980). É curioso observar que mesmo as melhores campanhas em campeonatos brasileiros costumam ter à frente treinadores que, se não são "pratas-da-casa", "conhecem o clube", tendo com ele alguma afinidade. São os casos de Vanderlei Luxemburgo (2011, vaga na Libertadores) e Joel Santana (2007, vaga na Libertadores).

As conquistas mais recentes (Brasileiro/2009 e Copa do Brasil/2006) têm em comum o fato de haverem partido de fulminantes arrancadas após um treinador "prata-da-casa" haver assumido a equipe logo em seguida à saída de um treinador "de fora" (Cuca em 2009 e Mano Menezes em 2013). Conquanto o time tenha sido bastante mudado por Andrade em 2009, não creio em soluções mágicas ou em "geração espontânea" no futebol, e acho que uma base de treinamento de Cuca, que dirigiu o time por praticamente 7 (sete) meses, foi aproveitada (a execução do trabalho era minada pelo próprio treinador e seu relacionamento conturbado com o elenco), assim como o trabalho de Mano Menezes em 2013. Basta ver aonde cada um desses treinadores, prata-da-casa ou não, está hoje e o que cada um conquistou.

Zé Ricardo, da mesma forma, sucedeu Muricy Ramalho em 2016 e conseguiu aprimorar o trabalho que vinha sendo feito, elevando o padrão de atuações do time, comandando a melhor campanha do Flamengo em campeonatos brasileiros em muitos anos. Contudo, em linhas gerais, não conseguiu escapar do que havia sido taticamente arquitetado por seu antecessor, além de ter passado a impressão de ter se perdido na reta final.

Nesses três últimos casos, vejo em comum o fato dos jogadores haverem se unido em torno do treinador. Nos dois primeiros, o tempo mostrou que a solução não tinha fôlego e ambos os trabalhos se encerraram prematuramente. Resta saber o que ocorrerá com o treinador atual, no qual, em comparação com os demais, enxergo maiores qualidade e conhecimento tático, inobstante suas juventude e inexperiência. Portanto, ainda há um sopro de esperança.

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A chamada "solução caseira" tem sólida tradição na Gávea, tendo como melhores exemplos Carlinhos e Paulo César Carpegiani. Penso, contudo, que não pode ser um "freio cultural" (by Flávio H. Souza) e se tornar uma solução obrigatória, impedindo o Flamengo de se renovar e abrir suas portas e mente para o que há de melhor e mais moderno no mundo do futebol.

Com a permanência de Zé Ricardo decidida, resta torcer para que as decisões dele e da Diretoria sejam sábias e não contaminadas por "freios culturais" distantes do que é melhor em nível de qualidade para o clube.

Bom dia e SRN a tod@s.