quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Alfarrábios do Melo

Eles vêm de todos os lados.

Jorram caudalosos, de todos os cantos, sem rosto, sem nome, sem idade, sem origem. Irmanados apenas e tão somente em uma mancha em rubro e ébano, formando uma massa disforme e pulsante, feérica, quente. Quase se pode tocar a energia que irradiam.

Mas quem são eles?

Quem são esses que fecham ruas, que ocupam praças, que estendem faixas, que entoam cânticos divinais, que invadem, sem pedir licença, casas, lojas e bares com sua flamante presença?

O que os move?

O sol escaldante em suas frontes, o suor que se mescola ao vapor iridescente que se refrata do chão embrasado, tudo apenas inflama ainda mais o ânimo e o espírito dessa sagrada turba, ornada em andrajos de gala, ostentando orgulhosa suas cores. As cores que definem uma identidade.

Por que os temem?

Não são feios, sujos, tampouco malvados. Mas se multiplicam em escala geométrica, sua grandeza assusta os desavisados e os acostumados com a índole cevada pela pequenez de pensamentos. São ruidosos, mas não fazem arruaça. Caminham e cantam, batucam e dançam, impávidos. Convergem sem um átimo de hesitação ao mais inusitado dos altares.

Querem celebrar o amor.
Querem apenas cantar ao mundo inteiro a alegria de ser rubro-negro. Viver Flamengo em sua linda essência. Exalar-se flamengos, fazer jorrar de suas entranhas a transbordante e arrebatadora paixão que os define parte, corpo e alma da mais grandiosa das dádivas que se pode receber em vida. O maravilhoso dom de ser Flamengo.

Que se festeje, pois.

Que se transforme aeroportos em estádios, estádios em templos, que se transfigure a milagrosa alquimia da sacra e cósmica fusão que se reveste na síntese do caráter que tem forjado o Flamengo ao longo de mais de 120 anos. A fusão do Flamengo com sua gente. Porque o Flamengo é a sua gente. A sua gente faz o Flamengo. Sem sua gente, não existe o Flamengo.

Onde estiver, estarei.

Uma grande batalha se avizinha. Não as tememos, não as receamos, não nos escondemos. Ao contrário, vivemos e nos alimentamos desses grandes momentos, é quando nos agigantamos e nos fazemos fortes, temidos, imparáveis. Não fomos concebidos para fenecer à sombra da obscuridade. Nossa sina, nosso destino, nosso desígnio, é a luta, a guerra, a lide nos maiores palcos, nosso alvo sempre estará nos triunfais píncaros da conquista, da glória. E, enquanto pulsarmos, lutaremos ardentemente por cada naco, cada átimo de êxito, pois simplesmente nos recusamos a conceber e a aceitar o revés.

Tiraram nossa torcida, negaram-nos algumas vitórias, quebraram-nos jogadores, desfiguraram em caolha a tal cega Justiça. Mas jamais nos arrancarão de nossa essência, nunca nos tirarão aquilo que nos é mais caro, aquilo que nos define e nos alimenta. Nossa voz. Nossa força. Nossa fome. Nosso amor.

Porque, entre aqueles anônimos em preto e escarlate que suaram sol e fecharam aeroporto, estou eu. Está você. Estamos todos nós, braços acorrentados em uma indestrutível corrente de fé, amor, paixão e energia. Logo mais, torceremos, vibraremos, gritaremos, pularemos, expeliremos sangue, se for necessário. Estaremos no estádio. Seremos maioria. E jogaremos. Como só nós sabemos fazer.

E venceremos.