quinta-feira, 14 de julho de 2016

Modelo Teórico de Funcionamento do Futebol

Sim, sei que na prática tudo é diferente...

Sim, sei que na teoria tudo é supostamente bonito e funcional. E a realidade é dura, é um lutador de UFC batendo sem piedade deixando suas crenças, ensaguentadas, espalhadas no ringue da vida. Mas sem o imaginário não se constrói sequer castelos de areia. E, em um exercício mental, ouso levar sob a forma de proposta alguns pensamentos que venho tendo há algum tempo, sobre o que poderia ser um Departamento de Futebol eficiente e de sucesso em resultados esportivos e na formação de cidadãos.

Para começar não acho o modelo atual eficiente. Evidente que pode gerar resultado esportivo se uma cachoeira de dinheiro inundar o Departamento e aumentar as chances aleatórias de escolha de elenco e comissão técnica. Compra-se os ditos "melhores" e voilá. Pode ser que ganhe campeonatos. Dispute tudo em alto nível. O Orçamento maior dita esta regra. O gigante comprador devora o mercado vorazmente.

Mas não é este modelo que proponho. Até porque, a longo prazo, pode gerar uma dívida impagável, gigantesca, além de prejuízo enorme de imagem. Mas como é o modelo atual? Um dirigente amador, VP de Futebol, interferindo no Departamento, diretor de futebol, um CEO por ali, metendo o bedelho, afinal o Diretor de Futebol está abaixo de sua hierarquia, o que pode causar confusão com VP de Futebol e o próprio Presidente do clube, dando aquela impressão que "todos mandam e ninguém obedece". O Diretor de Futebol tem a comissão técnica abaixo de si, escolhendo ou aceitando a mesma, mas não parece ter poderes para maiores decisões em relação a própria. O "crivo" deve vir do dirigente amador, que, como vimos, também participa de negociações. O que não é necessariamente bom, haja visto a pouca experiência neste mercado e pouco conhecimento de seus agentes e de técnicas específicas de negociação. Temos um "Centro de Inteligência que avalia jogadores que podem ser contratados, assim como a performance dos próprios jogadores do elenco. E comissão técnica com poder de indicar jogadores e "bypassar" o crivo deste Centro de Inteligência desde que autorizados pelo Diretor de Futebol e estejam dentro do orçamento do Departamento. Pode não ser exatamente assim, mas para podermos continuar, imaginemos que seja.

Enfim, funciona? Não. Precisa de um orçamento grande para contratações que supram constantes e perenes deficiências de elenco. OK então. O que proponho?

Proponho o resgate do Flamengo como Centro de Excelência técnica na formação de jogadores e uma supervisão técnica, digamos assim, que garanta ao clube a utilização ótima de seus recursos.

Explicando. O Flamengo tem uma base, certo? Sub13, sub15, sub17 e sub20, o jovem vai passando por estas etapas para ver se chega no profissional, um jogador formado. Mas chega? Não. O que poderia mudar? O Conceito de certificação do jogador. Cada jogador para passar de um nível para outro, deveria ser certificado, isto é, reunir o mínimo de qualificação técnica, física, comportamental, emocional, psicológica para subir de nível. Como faixas de judô. O jovem nas categorias inferiores, até o Sub17, aprenderia fundamentos, técnica de jogo, habilidades específicas, obediência, disciplina, para criar jogadores efetivamente técnicos e habilidosos, com boa finalização, ótimo passe, boa marcação e senso de jogo. Saber chutar e passar com as duas pernas, cabecear, driblar, enfim, seria exigido um bom nível, com testes periódicos que definiriam a "faixa" do jogador em cada categoria. No sub17 os jogadores, além dos fundamentos aprendidos exaustivamente nas categorias inferiores, aprenderiam um amplo aspecto de "esquemas táticos" e como se posicionar e atuar em cada um deles, alterando marcação em linha, individual e por zona. Nesta categoria se definiria, enfim, a melhor posição para o jovem. Caso "certificado" nesta categoria, o jogador iria para a sub20, na posição selecionada, para aprimoramento máximo. Toda e qualquer deficiência deveria ser suprimida. Suas qualidades aprimoradas. E estes jogadores, de alta qualidade técnica, deveriam suprir o elenco profissional, o dispensando de contratações desnecessárias. Aqueles que não fossem aproveitados, poderiam ser emprestados com bom potencial de retorno financeiro, visto que seriam certificados, o que garantiria jogadores disciplinados, de bom nível técnico, ótimos fundamentos e conhecedores de sistemas táticos diversos, facilitando o trabalho dos técnicos com quem vierem a trabalhar.

Os jogadores da base do Flamengo, não seriam largados ao léu. Seriam oferecidos boa educação, curso técnico profissionalizante, preparação para o ENEM e créditos para universidade. O Flamengo formaria atletas e cidadãos, facilitando suas vidas em caso de insucesso no futebol. O dinheiro para custear tudo isto viria da venda de direitos destes jogadores certificados, mais valorizados pois sabidamente muito bem preparados, e da utilização dos mesmos pelo profissional, que retornaria em créditos para o departamento de Base, como compensação às compras não efetuadas no mercado.

E o Profissional? Bem, proponho o conceito de uma Supervisão Técnica Superior, com componentes de alto conhecimento técnico e tático, que avaliariam os trabalhos de campo, da base e do profissional, e, no caso do profissional, traçariam o perfil do técnico a ser contratado ou cuidariam da preparação dos técnicos da base do Flamengo, que também "subiriam de nível" e receberiam treinamentos UEFA, por exemplo, para depois serem aproveitados dentro do clube ou alocados em clubes parceiros para teste aplicado de seus conhecimentos adquiridos. Esta Supervisão Técnica analisaria, com o elenco disponível, o estilo de jogo que poderia ser aplicado e se há jogadores da base para suprir eventuais deficiências ou se deve ir ao mercado. Toda e qualquer indicação deverá passar pelo crivo do Centro de Inteligência, sem exceção. E a comissão técnica? A comissão técnica contratada pelo perfil desenhado pela Supervisão técnica na qual aceita o estilo de jogo definido.

A Comissão técnica chega no clube, se não for formada por um técnico oriundo do próprio Flamengo, com o conceito de Head Coach, isto é, um treinador principal. O Flamengo disporia a ele vários outros "treinadores" ou auxiliares: auxiliar de defesa, auxiliar de ataque, auxiliar de fundamentos e auxiliar de análise do adversário. Todos estes formariam uma comissão de modo a armar o time da melhor forma possível, tanto defensivamente como ofensivamente. O técnico teria a seu dispor uma equipe que o ajudaria a tomar as melhores decisões tanto em escalação como de enxergar lacunas no adversário a serem aproveitadas.

Preferencialmente, os jogadores seriam contratados no modelo de "ganho de performance", isto é, a maior remuneração seria na premiação por resultados. E com um elenco vencedor os resultados viriam, facilitando a contratação de jogadores neste modelo. Evidente que jogadores figurões podem não aceitar. É do jogo e teria que saber lidar com isto, mas a ideia seria sinalizar ao mercado o quanto o jogador pode ganhar com a remuneração variável.

O Diretor Executivo teria metas por resultados e seria cobrado por isto. Seus gerentes, seriam cobrados por ele para atingirem suas metas. Os bônus financeiros só seriam distribuídos se o Departamento atingisse uma meta mínima de resultados. 

O Departamento de futebol cuidaria de seu próprio orçamento, com staff (adm,financeiro, comercial, jurídico, etc) próprio, para não se misturar com outras unidades de negócio do clube. Seria encarado como uma "empresa independente". Teria também negociadores experientes, olheiros espalhados no Brasil e outros mercados. O futebol do Flamengo ganharia peso como local atraente, não só pela remuneração mas como pela qualificação contínua técnica e física do elenco, em CT de alto nível.

Caberia ao VP de Futebol cuidar da política do departamento frente ao clube, mas sem se meter na parte técnica ou operacional. Esta seria exercida exclusivamente por profissionais capacitados. A Supervisão Técnica poderia se reunir ocasionalmente com o VP passando alguns relatórios e avaliações que são discutidos com o Diretor e comissão técnica.

A ideia é construir uma instância de futebol com rendimento ótimo e altamente profissional. Focada em resultados e alta performance tática e técnica, certificando jogadores e profissionais em formação.