segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sobre o Leite Derramado

Salve, Buteco. Na 38ª e última rodada do Campeonato Brasileiro/2015, o atual 4º colocado, o São Paulo Futebol Clube, enfrentará o desesperado Goiás no Serra Dourada em um confronto no qual a derrota será um resultado normal, dado o contexto. Seu maior rival na disputa pela quarta colocação e consequentemente última vaga na Libertadores da América ("pré-Libertadores"), o Internacional, enfrentará um já sem chances Cruzeiro, de Mano Menezes, que, porém, tem a mais longa invencibilidade da competição no momento. Não sou adivinho e nem tenho o poder de prever o futuro, mas é possível que essa quarta vaga para a Libertadores saia, contrariando o histórico da competição, para o São Paulo com 59 (cinquenta e nove) pontos. Quando escrevi o texto "A Reta Final" não tinha a esperança de que algo de diferente iria ser feito nos últimos jogos do Flamengo nesse campeonato, mas me senti na obrigação de ressaltar a oportunidade que o Flamengo estava deixando escapar em um campeonato marcado pela oscilação do rendimento não apenas dele, mas dos adversários. Portanto, que fique bem claro: depois do episódio do "Bonde da Stella Artois" e de tudo o que ocorreu esse ano no Departamento de Futebol do Flamengo, o clube poderia entrar em campo no último jogo desse campeonato disputando uma vaga na Libertadores da América/2016.

Foi o estado de letargia completa que se apossou do Departamento de Futebol do clube que vergonhosamente impediu a reação, esse mesmo sentimento que tornou a derrota algo banal e o sentimento de indiferença a ela um costume, exatamente o que demonstrou o time dos toquinhos de calcanhar e efeito, balõezinhos e outras firulas enquanto era atropelado pelo Atlético/PR ontem na Arena da Baixada.

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Então seria preciso um treinador de ponta, a reestruturação do Departamento de Futebol que as Chapas Azul e Verde prometem para o time reagir? Então só poderíamos reagir em 2016? Bem, eu convido todos que acham que jogar a toalha nesses últimos jogos foi algo inevitável a refletir se a "terceirização" do Departamento de Futebol feita por Patrícia Amorim a Vanderlei Luxemburgo foi tão diferente do que fez Eduardo Bandeira de Melo ao próprio Luxemburgo, chamado por EBM de "centralizador", e me pergunto se não seria o mesmo que Wallim Vasconcellos (que viajou para a Disney com o time no Z4) e Luiz Eduardo Baptista (que gosta de ditar regras a distância) não estavam e não queriam fazer (na prática) com Mano Menezes, cujo pedido de demissão tem contornos até hoje um tanto misteriosos, a despeito de sua inconfessável vontade de voltar a dirigir o Corinthians. Enfim, o ponto é: o Flamengo voltará a fazer o mesmo com o próximo treinador? Será o próximo treinador uma espécie de "messias" que "iluminará" e "ensinará" a fazer o básico uma diretoria agora não mais noviça, porém que permanece longe de ser expert no ramo (futebol) e continua a ser acomodada, letárgica, passiva, perplexa, paralítica diante das adversidades? 

Aproveito então para perguntar a quem acha que esse modelo pode dar certo se algum treinador no universo, e os jogadores a ele submetidos, respeitarão o clube e se dedicarão com o empenho que nós, torcedores, esperamos? Uma diretoria que desiste é respeitada? Inspira seus subordinados?

Falamos muito esse ano aqui no Buteco a respeito do círculo vicioso alimentado pelos mesmos problemas que se repetem há décadas. Eis então, na minha opinião, um dos mais sensíveis problemas.

Quem vier a assumir o Flamengo no próximo triênio terá que efetivamente acompanhar de perto e viver o Departamento de Futebol. Não basta delegar a solução de todos os problemas a um treinador entregando-o à própria sorte, por melhor que seja, por maior que seja o seu currículo, pouco importando o formato do Departamento de Futebol, com ou sem "Conselho Gestor", com ou sem diretor executivo. Esse é o erro que vem se repetindo há décadas, inclusive no triênio Azul/Verde.

Eu imaginava que novatos no ramo experimentariam uma sequência inevitável de fracassos no triênio. Confesso que não esperava a absoluta passividade apresentada diante de determinados cenários desfavoráveis. Estou certo, de todo modo, que a desculpa da surpresa e da novidade acabou e admito que tenho medo da repetição do modelo da "terceirização ao messias" para salvação de todos os males e problemas.

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Entendam algo muito importante e de uma vez por todas: desistir explica por que a situação chegou ao ponto em que está e a postura dos atletas dentro e fora de campo em relação ao clube que paga seus salários em dia. Se é esse espírito que move quem dirige o Flamengo atualmente, para que tanta disputa por mais três anos?

Aliás, isso nunca, em tempo algum, teve qualquer relação com ser Flamengo e por isso mesmo jamais representou ser Flamengo.

Que a provável vitória no dia 7 não seja uma "Vitória de Pirro" para tod@s nós.

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"Bonde da Stella" inteiro em campo na Arena da Baixada e o "auxiliar fixo" se dizendo envergonhado com a postura de determinados atletas na partida de ontem. Seu relato, que me parece sincero, triste, é sobretudo constrangedor por transparecer certa alienação do ambiente no qual trabalha, considerando sua opção de escalação diante do histórico recente dos atletas que resolveu mandar a campo ontem.

Finalizo então este texto sem a intenção de crucificar qualquer profissional, mas pedindo a ajuda d@s estimad@s amig@s do Buteco para que ajudem esse colunista a entender o que Jayme de Almeida ainda faz no Flamengo. Ressalto que não sou em tese contrário à figura de um "auxiliar fixo" para as comissões técnicas do Departamento de Futebol. Preciso, porém, que alguém faça a caridade de me explicar o que a Diretoria do Flamengo pretende fazer com o setor, especialmente suas ideias, ideologia, planejamento, etc., e exatamente em que ponto o perfil de Jayme de Almeida se encaixa dentro desse eventual contexto, acaso exista.

Bom dia e SRN a tod@s.