segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Ensaio Sobre a Insanidade

Salve, Buteco. Eu não acho que perder de pouco pro Grêmio em Porto Alegre ou para o Corinthians em São Paulo seja motivo de orgulho e nem que haja motivo para conformismo diante das circunstâncias que antecederam a partida de ontem, envolvendo o afastamento de cinco jogadores importantes, em nível de titularidade, e a crise extracampo deflagrada a partir dessa medida. Tampouco acho que o futebol apresentado nos primeiros quarenta e cinco minutos sejam motivo para orgulho ou parâmetro para qualquer coisa. Todavia, bem ou mal, o Flamengo equilibrou taticamente uma partida contra um adversário que, ontem, era superior em níveis técnico (valores individuais), tático e até físico. Chegou até a ser superior.

Veio o intervalo e Roger, treinador do Grêmio, fez uma substituição e adiantou a marcação, pressionando a saída de bola do Flamengo. Ainda que o Grêmio estivesse desfalcado de seus volantes e por isso sua saída de bola estivesse debilitada, penso que a defesa do Flamengo, a terceira pior do campeonato com quarenta e seis gols sofridos, não poderia ser exposta aos contra-ataques como fatalmente ocorreu pela opção feita por Oswaldo. É claro que o gol poderia ter saído independentemente disso, eis que, reconheçamos, o adversário, como a diferença entre as duas campanhas mostra claramente, era muito superior, tanto mais com o Flamengo completamente desfigurado dentro de campo. Ainda assim, o treinador, com todo o respeito, desafiou insanamente as evidências e o retrospecto do sistema defensivo, tornando mais favorável o contexto para o triunfo adversário que, desde antes da partida, era o resultado mais esperado por tod@s, mas até então não se mostrava viável e nem próximo de acontecer.

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17 (dezessete) derrotas em uma edição de campeonato brasileiro. No Twitter, chamaram a atenção para o relevante detalhe que mais duas derrotas e o Flamengo terá perdido um turno inteiro de campeonato. De que adiante nunca ter sido rebaixado e passar por tanto vexame? De que adianta pleitear o poder de dirigir um clube por três anos se não se combate as causas do fracasso?

Quando Albert Einstein disse que insanidade é persistir fazendo o mesmo e esperar resultados diferentes, certamente não estava pensando no Departamento de Futebol do Flamengo, mas poderia perfeitamente ter sido o caso, quem sabe em um insight, uma premonição? Amig@s, o Flamengo, nas últimas duas décadas, tem sido um verdadeiro produtor de "Bondes da Stella". Sequer é preciso puxar pela memória. Basta lembrarmos que nossos três últimos títulos mais importantes foram produzidos em contextos de absoluta excepcionalidade, como não nos deixam mentir os respectivos treinadores, que estão longe de serem profissionais de ponta no mercado futebolístico nacional.

A propósito, há quanto tempo o Flamengo não tem um treinador "de ponta"? Será que poderíamos esperar algo diferente nesse triênio, com nada menos que OITO treinadores, a maioria deles oscilando entre os estagiários, os simplesmente medícores e os ultrapassados? Será que o Departamento de Futebol poderia apresentar algo digno com tantas mudanças na preparação física em tão curtos espaços de tempo? Seria possível ter atletas em sua melhor forma física com o Departamento Médico em rota de colisão com ao menos uma das comissões técnicas mais longevas do período? Como tudo isso pode funcionar sem coordenação? A propósito, e as trocas de diretor executivo? E o planejamento para a competição mais importante, incluindo as principais contratações, sendo feito no meio da temporada, com ela já em curso?

É insano imaginar que isso poderia dar certo, que não repetiria o mesmo quadro do passado tão defenestrado. Como poderia ser diferente se as causas estavam todas lá? A realidade estapeia impiedosamente a cara dos dirigentes que assumiram a missão de transformar o Flamengo; o problema é que também o faz em relação a toda a torcida, por sinal a maior do mundo, que sofre como se estivesse em uma prova de resistência a insultos e sofrimento extremos.

O Flamengo não é mais o mesmo clube da primeira metade da década de 80 há três décadas, ou seja, 30 (trinta) anos. É insano tratar a realidade de outra forma. A reversão da decadência crescente, que cada vez mais transforma o Mais Querido em um clube que se acostuma a perder e ser humilhado, não se dará nem com as bravatas coléricas e eufóricas de um lado e nem tampouco com a placidez complacente, omissa e conivente do outro (sequer preciso mencionar a corrente que prega pura e simplesmente o retorno ao passado recente..). Não se dará com a pura e simples delegação do Departamento de Futebol a uma pessoa, pouco importando o currículo, e nem com sua administração a distância por quem detenha o poder de fato no clube. 

O futebol precisa ser prioridade de fato no Flamengo, o efetivo centro das atenções. É insano imaginar que os resultados virão com o futebol relegado a segundo plano e sem um mínimo de rumo e estabilidade. Nenhum jogador respeitará a história, a camisa, a torcida ou mesmo os dirigentes percebendo que, apesar de receberem em dia, trabalharão em uma estrutura sem comando, rumo, critérios e liderança. Mais ainda se constatam que a Diretoria, de forma quixotesca, enfrenta o sistema sem um plano que se possa qualificar como minimamente digno, e que seu esforço em campo pode ser inútil diante do desnorteio do setor no qual trabalham e de arbitragens tendenciosas.

O futebol do Flamengo, hoje, até por ser a última preocupação dos envolvidos, é o resto dos escombros de guerra insana motivada por ambição e poder. Uma enorme decepção para tod@s @s torcedor@s que confiaram nas pessoas que, há três anos atrás, pediram apoio para mudar o curso da história rubro-negra.

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Eu não poderia encerrar esse texto sem falar de Paolo Guerrero e sua ridícula expulsão de ontem. Vejam bem, desde os primeiros minutos de jogo ressaltei que o árbitro parecia estar determinado a marcar aquelas "faltinhas" que irritam o jogador, de modo a provocar o seu terceiro cartão amarelo, isso especificamente em relação a Guerrero, eis que, quanto ao restante dos vinte e um jogadores em campo, criteriosamente (certo ou errado) deixou o jogo seguir, com ambos os times baixando o sarrafo em determinadas situações.

Não são novidade para @s leitor@s do Buteco as minhas críticas à Diretoria por decidir enfrentar o sistema sem um planejamento adequado, que deveria envolver, por exemplo, uma melhor preparação em níveis técnico (conhecimento das regras do esporte) e psicológico dos jogadores para a pressão que fatalmente adviria, como de fato vem advindo, da arbitragem. Logicamente, isso se aplica também à maior estrela da companhia, que apanha feito um condenado dentro de campo e é vitimado pelas inversões de falta as mais canalhas e descaradas.

Outra coisa é um jogador de nível internacional cair nas provocações mais bestas possíveis e se permitir ser envolvido em situações de seguidas advertências por reclamações e agora expulsão de campo, especialmente dado o grau de responsabilidade que lhe foi confiado e, diga-se de passagem, aceito ao assinar o contrato. Primeiro porque Guerrero é muito bem pago, e pontualmente, para suportar essa pressão; segundo, porque, e por favor perdoem o meu "francês", a seleção peruana é uma baita de uma porcaria e ele já deveria estar acostumado a jogar em times desse nível (como é o atual time do Flamengo) e ter a responsabilidade de resolver sem ficar histérico dentro de campo, ainda que se tenha que considerar as diferenças de tradição e peso entre as camisas.

Bom dia e SRN a tod@s.