quinta-feira, 19 de novembro de 2015

BRANDING



O futebol mudou. Processos internos, perfis de jogadores, formas de negociação, contratos, métodos de treinamento, qualificação dos profissionais envolvidos, tecnologia aplicada aos campos de treinamento, material de trabalho esportivo, fisiológico, médico, computacional. Analistas dedicados a softwares de performance,desempenho e scout. Técnicos mantenedores de sistemas, análise da concorrência, preparadores de goleiro, assistentes técnicos de treinamento de zaga, ataque, meio de campo. Psicólogos, nutricionistas experts em esporte de alta performance, logística, vestuário, tratamento com imprensa, qualificação de resultados e priorização de competição. Além disso, junte-se a base que deve prover o profissionais de jogadores qualificados para serem aproveitados no time principal ou negociados para terceiros, exigindo, para melhor lucratividade e efetividade, que seja muito bem trabalhada e gerida. Enfim, o futebol, hoje, tornou-se efetivamente, muito profissional e, por tratar com uma complexidade cada vez maior de todos os fatores envolvidos no jogo, exige-se um cuidado cada vez mais científico, frio até, pois analítico em extremo. O "vamos lá" foi substituído por "performance". 

Enfim, o futebol mudou. Mas o torcedor não. A marca do futebol, para o torcedor, continua aquela que carrega em sua paixão, na qual quer se reconhecer no clube que ama. O torcedor precisa de boas experiências com o futebol do seu clube para sua relação ficar cada vez mais forte. A marca para crescer precisa proporcionar boas experiências de forma contínua. O clube, então, precisa apresentar boa performance nas competições em que participa. Mas, hoje, em esporte de alto desempenho de grande competitividade, a boa performance está necessariamente e obrigatoriamente vinculada a profissionais de alta qualidade, processos já estabelecidos e validados, estrutura de treinamento, recuperação, força muscular, tratamento  e alimentação de ótima qualidade.

E não é só isto, todos os profissionais trazidos para o Futebol precisam ter a mesma motivação de ter ótimos resultados, de ser vencedor. Trazer pessoas para trabalhar no clube, seja staff ou jogadores, que vêm apenas por dinheiro, sem se importar com que o clube se importa, é jogar dinheiro fora. Para a melhor construção da marca, é necessário que os profissionais estejam plenamente envolvidos com os objetivos estabelecidos para a mesma. 

O clube acredita que pode ser vencedor, que pode se classificar bem a ponto de jogar as Libertadores, que o produto a ser entregue, deve ser um futebol aguerrido, bem treinado, fisiologicamente bem preparado, com os melhores jogadores possíveis dentro da verba disponível. Isto é que o clube acredita. E se é o que o clube acredita, a pessoa que vier a trabalhar no clube tem que acreditar na mesma coisa. O alheamento dos propósitos dos profissionais aos propósitos do contratante não produz um bom trabalho, dificultando, portanto, que a percepção do torcedor a marca, o futebol, seja a esperada pelo clube.

Flamengo ao longo de sua história criou experiências memoráveis para seus torcedores, criando, portanto, uma marca muito forte. A maioria dos envolvidos, seja no staff ou nos jogadores que eram aproveitados da base ou eram contratados, vinham focados em satisfazer a torcida e apresentar um trabalho dedicado e focado em ganhar. Claro que muitas vezes isto não acontecia. Mas faz parte do jogo e das competições, a oscilação.

Mas a percepção negativa da torcida quanto a falta de comprometimento de parte dos jogadores, comissão técnica, staff, etc quanto a produção de resultados que garantam vitória ou luta constante pela mesma, causou esta sensação de estranheza em relação ao que o Flamengo representa, enquanto símbolo de luta esportiva em seus corações.

Não é problema de "comando", apenas. O Futebol hoje é muito mais complexo que ditames de um "sargento" no setor. É uma estrutura profissional maior, mais cara, com treinamentos, tratamentos e análises sendo aperfeiçoadas a cada momento, profissionais mais preparados que exigem uma liderança especializada, enfim, uma "enterprise". Mas tem que ter a "persona" da marca, viva. Que luta até o fim, entra na competição para ganhar, que se arrebenta, que chora de raiva se perder. Não só dos jogadores como de todos profissionais envolvidos além de dirigentes. Esta é a marca Flamengo. Está na hora de recobrar a boa experiência. E irá. 

Por Flavio H Souza
twitter: @PedradaRN