quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A reintegração

"Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, neglicenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados fazendo nada."
Sêneca


Imagem: Globo.com
E os cinco cavaleiros da farra foram reintegrados aos treinamentos em conjunto com o resto do elenco. Alan Patrick, Marcelo Cirino, Everton, Pará e Paulinho estão de volta aos treinos, e, em tese, com todas as possibilidades de serem utilizados nos próximos jogos pelo técnico Oswaldo de Oliveira.

A suspensão por tempo "indeterminado" durou apenas um jogo. O que bastou para, dizem os boatos, Paulinho aparecer em uma festa em Piracicaba, a cidade do time (XV de Piracicaba) de onde saiu para jogar no Flamengo. Aliás, no momento seguinte à punição revelada por Fred Luz e Biscotto, Oswaldo Oliveira já apareceu em entrevista se revelando contrário a postura da diretoria à respeito da punição, pois ele mesmo gostaria de ter dado aos jogadores o afastamento por um jogo. 

A punição em multa de salários e suspensão se caracterizou, portanto, em uma decisão da direção de futebol em conjunto com a diretoria amadora. Uma vez observado isto, Oswaldo Oliveira deveria ter ficado quieto, uma vez que é bem pago por seu contratante.

O técnico, obviamente, observado o jogo contra o Grêmio em que não contou com alguns integrantes do bonde, embora pese a constância das derrotas em série do Flamengo, deve ter implorado pelo volta dos mesmos, particularmente, acho eu, de Alan Patrick, Everton e Pará, visto as alternativas hoje existentes no elenco. Paulinho, um caso perdido, creio que nem o Oswaldo deve estar considerando. Não acho sequer humanamente possível. Embora, claro, a vida sempre nos surpreenda para o bem ou para o mal.

Então, observado a perda esportiva para o elenco, a desvalorização dos jogadores e a perda do poder de barganha do Flamengo, uma vez mantida a tal suspensão "indeterminada", o Diretor Executivo de Futebol, Rodrigo Caetano deu por encerrada a suspensão, mantendo ao menos a multa.

Vozes coléricas já esbravejaram por amadorismo, outros gritaram exaltados que o desrespeito não teve a punição correta, outros, como eu mesmo, falaram que "não existe suspensão indeterminada por um jogo", e o futebol, para estes muitos ficou mais triste, mais melancólico do que já está. A fúria passional e emocionada exigia punição extrema para um ato de total desprezo ao Flamengo proporcionado por estes jogadores. Torcedores são coléricos e movidos a paixão. Racionalismo é para profissionais.

Aí que me deu o estalo. Paradoxalmente, em meio a n acusações de amadorismo, o Departamento de Futebol, neste caso foi exemplarmente profissional. Um departamento amador certamente colocaria os cinco em um cadafalso para "dar o exemplo", e o clube perderia esportivamente e financeiramente. Além de mostrar ao já difícil mercado de jogadores que é um local conturbado de punições extremamente rígidas, para o ponto de vista deles.

Não. A Diretoria de Futebol, mostrou primeiro em um comunicado simples e objetivo, para a imprensa, clubes, agentes, punição para um caso de desagravo às necessidades do clube no momento. 1,2, 3, 1000 jogos poderia ser indiferente. O que importou, neste momento, foi o comentário lacônico, de punição por perda salarial e afastamento do treinamento junto a outros companheiros, por problema de conduta em horário de folga.

O mercado está difícil. Dólar explodindo. Tão logo se anunciou a punição, e já esperando um comportamento amadorístico, certo que outros clubes entraram em contato procurando contratar os jogadores a baixo ou nenhum custo, visto que seriam "dispensados" pelo Flamengo. Não o foram. Reintegrados, continuam "com preço". Flamengo mantém poder de barganha e não sofre a considerável perda financeira que teria com a dispensa. Além de ganhar esportivamente com a reintegração desde que, uma vez superado o "trauma", os jogadores enfim, deixem de se manterem ocupados em fazer nada, e trabalhem de forma profissional fazendo juz aos salários que recebem em dia, feito conquistado com muito esforço e dedicação por todos.

Concluindo, a reintegração rápida dos jogadores embora pareça inadequada do ponto de vista disciplinar, pois parece "pouca", parece a mim adequada do ponto de vista esportivo, financeiro e do planejamento para o próximo ano, em que terá que trocar boa parte do elenco e, por isto, não pode se dar o luxo de ter jogadores saindo de graça. 

Que o futebol do Flamengo aprenda desde já a identificar possíveis problemas no elenco, fazendo um trabalho de maior aproximação com os jogadores para evitar desmotivação e perda de foco. Uma vez identificado isto, agir rápido para resolver, seja punindo ou reeducando. Mas não deixar barato. Não deixar rolar. Deixando rolar, o bonde não pára. Na minha opinião, contratar um bom gerente de relacionamento com o elenco, competente, estudioso e honesto, para manter uma ponte do elenco com o diretor, estimulando a motivação, controlando a disciplina e monitorando o desempenho interpessoal, poderia ser uma boa sugestão.

Por Flavio H Souza
twitter:@PedradaRN