segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O Saco de Pancadas

Salve, Buteco. O Flamengo, na temporada 2015, conseguiu a façanha de se tornar o "saco de pancadas" do Vasco da Gama e perder quatro partidas em oito disputadas. Nos números, pura e simplesmente, quase iguala o ano de 1993, quando perdeu quatro partidas em cinco confrontos, muito embora ainda falte um pouco para alcançar o "recorde" de 1988, quando foram nada mais, nada menos do que cinco derrotas seguidas. A diferença, em ambas sequências, é que o Vasco da Gama tinha equipes formidáveis e de primeira linha no futebol brasileiro; já em 2015 é um catado formado no desespero para não retornar à Série B do futebol brasileiro, de onde escapou com muito esforço e em circunstâncias dramáticas em 2014, o que torna o desempenho atual particularmente vexaminoso. Para quem gosta de debater a responsabilidade presidencial pelo momento do futebol rubro-negro, em 1993 o presidente era Luiz Augusto Velloso, na minha opinião o pior e mais fraco presidente da história recente do Flamengo. Em 1988, Márcio Braga, indiscutivelmente o mais vencedor. Em comum nos três cenários, um velho inimigo: Eurico Miranda, antes vice-presidente de futebol, hoje presidente do Vasco da Gama.

Para a missão a qual Eduardo Bandeira de Melo se propõe cumprir, inclusive por mais três anos, é preciso ter não apenas a sensatez e o equilíbrio que devem nortear as exemplares medidas tomadas em nível administrativo no clube, mas também sensibilidade para a paixão do torcedor e a rivalidade com os adversários mais tradicionais, ínsitas ao cenário do futebol. É preciso sobretudo mais cuidado e respeito com o "produto" que é "entregue" ao torcedor, consumidor final, e que constitui o "carro-chefe" do clube.

É preciso também ter a consciência de que, quando se propõe desafiar o sistema, e com um clube que tradicionalmente tem inúmeros inimigos entre jornalistas e profissionais do próprio meio futebolístico carioca, que dirá nacional, não pode faltar uma estratégia de defesa contra represálias, como por exemplo as ultimamente rotineiras arbitragens tendenciosas.

Quando se manda para dentro de campo um time despreparado em níveis estratégico, psicológico e emocional para a guerra que a Diretoria resolveu comprar e assumiu fora de campo, coloca-se todo o projeto na berlinda, sobretudo porque o discurso, a ideologia, as metas que se pretende atingir são duramente enfraquecidos e colocados em xeque quando uma instituição centenária é humilhada por personagens do nível de Eurico Miranda (e a forma pela qual conduz seu próprio clube), Rodrigo, Julio dos Santos, Jorge Henrique, Riascos e Guiñazu.

A verdade é que, dentro das quatro linhas, pois convenhamos é de futebol que estamos tratando, Eduardo Bandeira de Melo fracassa miseravelmente no confronto direto contra a representação viva do atraso que busca combater, e comporta-se como um autista ao lidar com o fato, como se irrelevante ou de importância menor fosse. Vive em um mundo próprio de política interna do clube, austeridade e finanças, sendo a bola um mero detalhe.

Para ser honesto e probo não é preciso ser humilhado e nem tampouco perder a dignidade diante dos adversários. Futebol é paixão, é rivalidade. E afinal de contas, não estamos falando de bocha, canastra, xadrez, patinação artística ou curling. Então, não se pode pretender dirigir um time de futebol sendo indiferente a esses sentimentos, e não custa frisar que isso também vale para todos os profissionais do Conselho Diretor e do Departamento de Futebol, e não somente para o presidente.

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O árbitro Leandro Pedro Vuaden inventou as duas infrações nos lances de bola parada que resultaram na virada do Vasco da Gama. Tanto a falta em Andrezinho foi escandalosamente inexistente quanto o lance de Jorge foi absolutamente acidental. O árbitro também foi flagrantemente parcial na marcação das faltas, podendo-se dizer, sem exagero, que o crescimento do Vasco da Gama na partida, iniciado na metade do primeiro tempo, em uma parte não desprezível se deveu à tolerância em relação às faltas sequencias praticadas a partir de seu campo de defesa, parando o meio campo e o ataque do Flamengo. Por fim, deixou de expulsar Luan ainda no primeiro tempo quando agarrou Sheik e o impediu de seguir em um contra-ataque.

Ponto.

Em que isso exime a equipe de responsabilidade pela apatia com que se portou diante do crescimento do adversário na segunda etapa? Na minha opinião, em nada.

Compreende-se a dificuldade de enfrentar um contexto hostil como esse, o qual, quando encarado pela primeira vez em uma situação real de jogo, embora previsível, pode até certo ponto surpreender, como ocorreu nas semifinais do Campeonato Estadual. Todavia, é inaceitável o time sucumbir pateticamente a ele pela quarta vez no ano, quando não pode mais ser definido como uma novidade, se é que algo que pode perfeitamente ser previsto deve ser conceituado como tal. Mais uma vez, o Vasco da Gama mais fraco tecnicamente passou a impressão de que disputava um clássico e o Flamengo não, e mais uma vez se impôs na rudeza das divididas, cotoveladas e dos gritos, enquanto nossos atletas se apequenavam covardemente dentro de campo, a ponto de passar a falsa impressão de que havia sido o próprio Flamengo e não o Vasco da Gama, supostamente com 8 (oito) jogadores acima de 32 (trinta e dois) anos de idade, que havia jogado no meio de semana pela Copa do Brasil.

Vergonhoso, patético, pequeno, frouxo, covarde, asqueroso e ridículo esse time que é indigno de carregar a marca do Flamengo.

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O Flamengo também cometeu seus próprios erros decisivos. Ontem, foi a vez de Paulo Victor tomar um frango na cobrança de falta inexistente e dar início a todo o processo de capitulação do time na segunda etapa, logo após Paulinho e Sheik, no início do segundo tempo, quando o placar ainda estava 1x0 para o Flamengo, tentarem se consagrar marcando "golaços", embora lhes bastasse tocar a bola pro meio onde Guerrero se posicionava livre de marcação.

Oswaldo também foi infeliz. Se no primeiro tempo o Vasco da Gama equilibrou as ações mas não conseguiu ser agudo, no segundo tempo, após novo início promissor do Flamengo, menos duradouro do que no primeiro, o nosso treinador só reagiu quando o placar havia sido invertido, sendo que suas substituições não surtiram qualquer efeito.

Os adversários já manjaram o Flamengo das seis vitórias. Será que Oswaldo consegue encontrar alternativas?

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Estou cansado, muito cansado de jogadores rebolarem e abusarem do individualismo; da covardia dentro de campo, com jogador tomando cotovelada na cara ou centroavante adversário derrubando agressivamente o nosso goleiro sem ninguém reagir ou dar a mínima confiança para o ocorrido; da postura "blazê" do time todo, do treinador e da Diretoria quando leva de quatro três vezes seguidas do Atlético/MG, outro rival tradicional; dos erros individuais que comprometem partidas que eram pra ser vencidas; da falta de capacidade de reação.

Estou cansado de planejamentos mal feitos, de contratações às pressas no meio do ano, com o campeonato brasileiro já em curso; da indiferença a derrotas em clássicos e a goleadas, bem como de discursos demagógicos e vazios da situação e da oposição numa briga fratricida e fútil por poder.

Austeridade, organização e modernidade não precisam vir acompanhadas de empáfia, humilhação e indiferença aos sentimentos do torcedor. Futebol é paixão, é emoção, é devoção. No Flamengo, é ainda sintonia com a maior torcida do mundo.

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Falando em sintonia, abro espaço a quem foi ao Maracanã ontem para dizer se, afinal de contas, a torcida foi "fogosa" ou "fria", como andei lendo no Twitter. Lamentavelmente, muitos jornalistas e torcedores embarcaram em uma onda negativa de "culpar" a torcida de Brasília pela derrota para o Coritiba. O tempo parece estar comprovando que o problema, inclusive de falta de sintonia com a torcida, tornando-a "fria", é com o time mesmo.

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No Buteco jamais tentamos tapar o sol com a peneira. Parabéns ao Ricardo Mattana pelo post realista e profético de sábado, para o qual, por continuar atual, tenho a honra de remetê-los à (re) leitura para os debates de hoje.

Bom dia e SRN a tod@s.