Resolvi assistir na
Band.
Meio cansado dos
exageros verborrágicos e das sistemáticas elegias à irrelevância praticadas
pela equipe da Vênus Platinada e sem paciência para aturar os torcedores de
microfone que comporiam a equipe local de transmissão do canal pago, preferi
trazer para o canal menos cotado. Ao menos o narrador faz o estilão
low-profile, da escola do Luciano do Valle. E o comentarista, o rechonchudo
ex-goleiro corintiano, tem o mérito de não se sentir muito à vontade comentando
jogos, o que o faz intervir pouco nas transmissões, mantendo-as assim em um
nível tolerável.

Voltando à Band.
Lá pelos 30 do segundo
tempo, eles encerram uma espécie de enquete. Se minha limitada capacidade de
compreensão não foi afetada, os telespectadores podem ligar, mandar recado em
rede social, enfim, escolher de alguma forma aquele que entendem ter sido o
melhor jogador da partida. Daí, perto do final, é divulgado o resultado.
Pois ganhou o Márcio
Araújo.

Então, senhoras e
senhores, há um simbolismo na escolha do bravo Marujo como o nome do jogo. Sim,
ele correu, pegou, marcou. Ajudou a trancar a porta da defesa. Trabalhou seu
jogo operário que manteve os paranaenses a uma certa distância do nosso “bastião
inexpugnável”. Suou a litros. Enfim, pode-se dizer que fez, sim, uma boa
partida, dentro daquilo que é capaz de entregar.
E qual o problema,
afinal de contas?
Ora, senhoras e
senhores, essa é a questão. Quando uma partida se desenvolve de uma forma que
seu grande nome é justamente um atleta que pratica um jogo tão divorciado
daquilo que concebemos ser o futebol, algo está errado. O nosso futebol nativo
parece doente, revestido de uma absoluta falta de perspectiva técnica, tática,
enfim.

Aos apressados. Não,
isso não é uma deplorável condenação ao time do Flamengo. Uns dizem, “o time é
ruim”. Lógico que, em termos absolutos, o time é horroroso. Mas, em termos
relativos, está dentro do que se pratica em uma primeira divisão do nosso
futebol brasileiro. Anda se reforçando, e, a se confirmar a calmaria que
aparenta irromper no horizonte, pode até pensar grande. Mesmo jogando algo não muito
diferente do visto hoje, esse time do Flamengo é capaz de ir mais longe do que o
mais surreal vaticínio poderia ser capaz de cravar.
Porque essa sessão de
maus-tratos é universal. Jogos medíocres e inassistíveis pululam aos cachos
semana sim e também. Com Flamengo, sem Flamengo. Dos dez jogos semanais, uns
oito ou nove seguem roteiro similar ao espancamento de hoje. Quase tudo o que é
time tem lá seu Márcio Araújo em campo. Outro dia vimos uma Copa do Mundo, a
vanguarda do futebol aqui, na nossa porta. Algumas seleções jogando um futebol
interessantíssimo, colaborativo, talentoso, ofensivo. Jogos espetaculares, ou
no mínimo vistosos. Nenhum gênio ou craque fora de série (exceto o Messi,
talvez o Robben), mas o conceito de coletividade e da competência técnica
levado a dimensões bastante agradáveis aos olhos dos espectadores.
Aqui, na nossa porta.
Para aprender no amor. Ou até na dor dos sete no lombo.
Mas aqui ainda continuamos
correndo, pegando, marcando.