segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sobre Parâmetros e Desculpas

Salve, Buteco! Dividem-se os comentários no Buteco e na FlaTT a respeito das causas do mau futebol do Mais Querido. Uma corrente sustenta que o problema é a qualidade dos jogadores do elenco; outra que, limitações a parte, o problema é o treinador e seu péssimo trabalho. Onde está a verdade? Em um dos lados ou no meio, como na lógica aristotélica? Durante o final de semana tive a oportunidade de acompanhar boa parte de três partidas, além de São Paulo x Flamengo - Fluminense x Joinville, Palmeiras x Atlético/MG e Grêmio x Ponte Preta. Chamou-me atenção como o Fluminense, o Atlético/MG e a Ponte Preta conseguiam tocar a bola, e quando digo tocar a bola não me refiro a apresentações a la Barcelona de Guardiola ou Espanha campeã do mundo, mas um mínimo suficiente para criar algumas situações de gol. Mal comparando, ao Fluminense faltava algo mais em nível de finalização, os reservas do Atlético/MG, os melhores dos três, poderiam ter goleado um Palmeiras que jogava feio, à base da bola aérea, e a Ponte Preta merecidamente empatou com o Grêmio jogando no velho estilo do futebol-força de Felipão.

O Flamengo nem sequer se aproximou de apresentar algo remotamente semelhante. O time de Vanderlei Luxemburgo se situa em uma zona cinzenta e obscura entre o nada e o coisa nenhuma - não consegue jogar o futebol rápido, ofensivo e com trocas de passes curtos que deseja o treinador, até porque o time não consegue trocar sequer três passes, e tampouco consegue jogar na base da bola aérea, com a objetividade do futebol força, feio mas pragmático. Qual é a explicação? Alguém poderia mencionar a qualidade do elenco do São Paulo, sem dúvida Top 5 no futebol brasileiro, mas quando observamos que o mesmíssimo problema se apresenta contra o Nova Iguaçu, o Vasco da Gama, o Icasa e o São Paulo, constata-se a existência de um padrão, o qual se torna intrigante quando no damos conta de que não se trata de um elenco pior do que o da Ponte Preta, do Sport Recife (em crise) ou de outros times que talvez até briguem na parte de baixo (não tenho como prever o futuro), mas incrivelmente conseguem fazer o básico no qual o Flamengo vem fracassando - trocar passes.

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Obviamente, não há razões para retroceder no que venho escrevendo há tempos no Buteco, inclusive semana passada, e continuo achando que o meio de campo precisa ser reforçado, assim como o ataque. Apesar disso, receio que se o Flamengo contratasse o Cristiano Ronaldo ou o Ibrahimovic, correria o risco do contratado sucumbir ante a verdadeira balbúrdia tática do time atualmente. Afinal de contas, o que os jogadores do Flamengo fazem em campo é marcar, ganhar a posse de bola para perdê-la segundos depois, já que os jogadores não se movimentam coletivamente e por isso nunca se encontram, recorrendo assim a arrancadas despropositadas e a passes que sempre terminam nos pés da marcação adversária. O time joga na base da individualidade e da correria. Esporadicamente, alguma esticada dá certo e a velocidade dos nossos atacantes resulta em uma a duas oportunidades por partida, ultimamente perdidas, como ocorreu com Everton logo no início do primeiro tempo (o que poderia ter alterado o rumo dos acontecimentos).

Podem contratar o mundo inteiro que, se o padrão tático continuar a ser esse, o time no máximo passará a ganhar mais partidas por conta da habilidade individual dos atletas contratados, mas a qualidade do futebol apresentado não diferirá em substância. O nome do esporte, originariamente, é football association, que remonta a associação, a jogo coletivo, ao todo, no qual, aí sim, as individualidades podem se sobressair. O Flamengo de hoje é um amontoado de jogadores sem rumo dentro de campo. E enquanto os reforços não vêm, com esse nível de futebol apresentado, pode-se esperar a repetição de temporadas anteriores.

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Dentre os muitos comentários de alta qualidade que leio no Buteco, gostaria de destacar o do amigo Márcio Ballem (RS), que ao meu ver foi extremamente feliz ao argumentar (e não pela primeira vez) que o esquema de jogo adotado não é adequado para os jogadores que o elenco dispõe. De fato. Sem meio de campo, como espera Vanderlei Luxemburgo jogar com trocas de passes curtos e em velocidade para entrar tabelando dentro da área adversária? Esse elenco continua mais para saco de cimento do que para qualquer outro tipo de filosofia. Daí eu lhes pergunto: Luxemburgo aguarda reforços realmente de qualidade e por isso insiste nesse modelo ou simplesmente deseja, como em ocasiões anteriores, provar que está certo? Continuaremos o Brasileiro como o Barcelona espanhol na formação tática, mas apresentando o futebol do Barcelona Esporte Clube, do Rio? 

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Agora, os reforços. Continuo achando que precisamos elevar a qualidade desse meio de campo, principalmente, e também do ataque. Alguns amig@s sustentam, e ao meu ver com propriedade, que o time precisa daquele jogador que assuma a responsabilidade dentro de campo e que "chame o jogo", o que faz os outros crescerem ao seu redor. Concordo, mesmo porque o histórico do Flamengo em campeonatos brasileiros é de, tendo esse jogador, disputar título ou no mínimo conquistar vaga na Libertadores.

Contudo, tanto a pressão, como o fato de que o Flamengo começa a ter alguma reserva em caixa para contratar um jogador com esse perfil não constituem exatamente um segredo. O Flamengo enfrenta sempre o pior dos dois mundos: quando tem dinheiro, por suas imensidão e magnitude, encontra as pedidas em altíssimos valores vinda dos atletas, conscientes da responsabilidade que assumirão; quando não tem, lida com a dura realidade de que ninguém mais joga por amor ao clube no mundo de hoje e o mercado dos jogadores gratuitos não reserva soluções para o que o time precisa.

Chegou a hora de tomar uma decisão e explicá-la à torcida, seja qual for. Para contratar em um patamar mais alto, o Flamengo terá que abrir o cofre, claro que dentro dos seus limites, o que, porém, é possível para um ou dois reforços. A outra alternativa é mais um ano de mera figuração no Brasileiro, talvez até com sofrimento e agonia (tomara que não), sendo que daqui a pouco mais de um semestre começa o 2016 sem Maracanã.

A palavra, como sempre, está com vocês, e aproveito para emendar a pergunta que não quer calar desde a fatídica semana pós Fla-Flu, quando Luxemburgo se ofereceu para o São Paulo: o nosso treinador perdeu o elenco?

Bom dia e SRN a tod@s.