domingo, 29 de março de 2015

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Tinha programado encerrar essa semana a brincadeira do Flamengo em Tweets, que comecei semana passada. Tudo bonitinho, tudo dentro do previsto, notinhas prontas, texto embalado e eis que o computador pifa aos 40 do segundo tempo.

Daí que fiquei órfão. E os tweets ficarão para a semana que vem. Hoje vou ter que lançar alguns “causos”. Espero que apreciem.

Com relação ao jogo de domingo passado, chamou-me a atenção a foto tirada entre Romário e Luxemburgo, ex-desafetos que já se reconciliaram reconhecendo terem exagerado, ambos, na condução de suas desavenças em 1995. Legal, mas na época perdeu o Flamengo. De qualquer forma, acabei me recordando do episódio que se tornou a gota d’água na briga dos dois: corria o Estadual, Romário estava afastado, por conta de uma lesão muscular sofrida na primeira partida contra o Gama, na Copa do Brasil. Ocorre que, durante o processo de recuperação, o Baixinho andou disputando animadas partidas de futevôlei, ignorando olimpicamente os exercícios prescritos pelos profissionais do Flamengo, o que irritou Luxemburgo. Vaidoso, o treinador quis mostrar quem mandava. No dia de uma importante partida em Volta Redonda, já pelo Octogonal Final, Luxemburgo mandou chamar Romário, que se dizia curado, para a partida contra o time local. O atacante, que não havia treinado, rumou com seu próprio carro até a Cidade do Aço. Chegando ao estádio, recebeu de Luxemburgo a informação de que estava fora da partida, pois “não havia concentrado”. Profundamente irritado (queria jogar, pois disputava a artilharia com Túlio), Romário assistiu ao jogo do banco de reservas. E nunca mais se entendeu com o treinador. Em última análise, a briga influenciou (talvez tenha sido decisiva) na perda do título do Centenário.

Bem, já se passaram 20 anos. E hoje o Flamengo enfrentou o Bonsucesso. O velho Bonsuça, da Teixeira de Castro que, ao menos nesses anos em que eu acompanho futebol, costuma ser um adversário dócil, dificilmente tirando pontos do rubro-negro. Mas em duas ocasiões, os rubro-anis (que ostentam em sua história terem revelado Leônidas da Silva) andaram aporrinhando.

1982, Taça Guanabara, Moça Bonita. O Bonsucesso, um dos piores times do campeonato, oferece encarniçada e estranha resistência ao Flamengo de Zico, Campeão do Mundo. Abre o placar no início. Logo depois Leandro empata num chute cruzado, mas Dé, o Aranha, novamente coloca o Bonsucesso na frente. No finzinho do primeiro tempo, Zico empata novamente. Segunda etapa, Carpegiani tenta mexer no time, que não responde e passa a maior parte do tempo sendo pressionado. Quando o empate parece inevitável, a dois minutos do fim, Zico cobra uma falta na cabeça de Adílio (lance parecido com o quarto gol no jogo dos 6-0 no Botafogo). O Neguinho da Cruzada fulmina, a bola passa pelo goleiro, mas antes de chegar às redes o zagueiro Ademir corta de testa. A bola bate no travessão e se perde. O árbitro Luís Carlos Gonçalves, o rumoroso Cabelada, corre para o meio sem pestanejar, o que dá início a um monumental sururu dentro e fora de campo. As fotos e a imagem da tevê não são conclusivas, e não dá para afirmar se a bola entrou ou não. De qualquer forma, o gol é confirmado, o Flamengo vence por 3-2, é pesadamente criticado e, na semana seguinte, uma imprensa reticente acaba se rendendo a um verdadeiro show de bola de Zico & Cia no Fla-Flu, 3-0, todos os gols no primeiro tempo, torcida gritando “queremos seis”.

O outro jogo é de 1983, também na Taça Guanabara. O Flamengo vive o auge da crise decorrente da venda de Zico. Dunshee de Abranches acaba de renunciar à Presidência, após a calamitosa derrota para o Botafogo (0-3), e o treinador Carlos Alberto Torres também é demitido. Enquanto não se definem os novos comandantes, o preparador José Roberto Francalacci assume o time. Desmotivado, desnorteado e sem rumo, o Flamengo faz uma partida desastrosa no Maracanã e empata com o Bonsucesso (1-1), jogo em que não sai derrotado graças às várias defesas milagrosas de Raul, apontado como o melhor em campo. Muito vaiados, os jogadores chegam a ser abordados por alguns torcedores mais exaltados. Um deles pergunta a Júnior até quando o Capacete irá seguir “rebolando em campo”. Nervoso, Júnior acerta-lhe um soco no nariz e vai embora. Na época, o caso não ganha muita repercussão, até porque os problemas do time dentro e fora do campo já são suficientes para encher as páginas de esportes.

Outra do Bonsucesso. Foi contra os rubro-anis que o Flamengo atuou, pela primeira vez no Brasil, com a camisa de listras largas que fez sucesso nos anos 80-90. Foi na estreia do Estadual de 1980 e o Flamengo venceu por 2-0, gols de Nunes e Júlio César “Uri Geller”, em partida em que a exibição do time foi pesadamente criticada.

Falando em camisa, termino esse pot-pourri mal disfarçado com uma perguntinha irônica: e a Papagaio de Vintém, hein? Não era azarada, micada, agourenta? É o tal negócio. Põe em campo que um dia esse tipo de escrita acaba. Taí. 2-0.

Em tempo: o time fez uma partida medonha, indigente, e sem medo de errar uma das três piores exibições no ano, talvez a pior. Mas meu nível de preocupação com esse fato é zero. Jogar de forma sonolenta contra time pequeno antes de clássico é especialidade da casa. Ninguém quer ficar fora de jogo importante, então se costuma tirar o pé.

Boa semana a todos,