domingo, 23 de novembro de 2014

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos.

O final de ano se aproxima, então é o momento de se proceder à famosa “avaliação” no elenco, como aliás alguns colegas aqui no Buteco já fizeram. Então, também vou expor meu pitaco. No entanto, evito propor a destinação aos jogadores, por não dispor de elementos suficientes. Atenho-me ao visto em campo (e um pouco fora dele), e tomando-se por base estritamente esse aspecto, o leitor poderá desenvolver suas próprias conclusões.

* * *

Paulo Victor – enfim conseguiu sua sequência de jogos. Reflexo agudo, ótimo pegador de penais. Mas sua deficiência nas bolas altas é insanável. Irregular em bolas de longa distância. Bom goleiro, mas longe de apresentar futebol de ponta.

César – segue aguardando mais oportunidades, e com isso continua superestimado pela maioria da torcida. Do que mostrou na Copa SP e na partida contra o Cruzeiro ano passado, parece um goleiro com perfil semelhante ao do Diego Bracinho. Não se espere melhora nas saídas em bolas cruzadas.

Felipe – o ótimo e seguro goleiro de 2013 perdeu foco, abusou de falhas comprometedoras e aparentemente voltou a cultivar problemas de relacionamento. Talentoso, mas instável demais para o nível de goleiro de primeira linha. Tudo indica estar fora dos planos.

Leonardo Moura – o desempenho do capitão de 2013 respaldava sua renovação. O futebol mostrado em 2014, não. Mais habilidoso jogador do elenco, começa a demonstrar de forma mais contundente a falta de vigor físico, que redundou em uma temporada irregular. Segue suscitando amor e ódio em fartas doses, e a decisão acerca de sua renovação fará emergir grosso coro de descontentes, seja qual for o desfecho.

Léo – enfrentou estranhos problemas de contusão, que o mantiveram inativo por quase todo um semestre. Quando atuou, mostrou-se impetuoso (até em excesso) e apresentou bom aproveitamento ofensivo (andou cravando gols e assistências), mas é frágil defensivamente (aliás, tradição flamenga no setor). É bom jogador, mas precisa se tornar mais confiável.

João Paulo – extremamente limitado, sua absoluta inoperância no trabalho defensivo, a ponto de se tornar um dos principais pontos fracos da equipe (que sofreu vários e vários gols por ali, e o gol sofrido contra o Santos é ilustrativo) criaram um irreversível desgaste com a torcida. Cruza relativamente bem, é raçudo e disciplinado. O que é pouco.

Anderson Pico – superou as desconfianças acerca de seu nítido excesso de peso com entrega e muito voluntarismo. Inteligente (sabe compensar sua lentidão), além de mostrar qualidade técnica e bom chute, agradou e provavelmente ganhou vaga no elenco. Espera-se que, agora amparado por um contrato mais longo, siga rendendo em bom nível.

Wallace – uma das peças-chave em 2013, caiu sensivelmente de rendimento esse ano. Andou envolvido com discussões extracampo, falhou em momentos-chave e sofreu com lesões. No entanto, segue como o melhor zagueiro do elenco, e sua presença em campo qualifica o setor defensivo da equipe. Além de mostrar personalidade e liderança.

Chicão – jamais conseguiu se firmar como titular, muito em função da sua lentidão e das sua crônica deficiência nas bolas aéreas. Tem bom “tempo de bola” e razoável técnica, mas sua entrada costuma desestabilizar o miolo de zaga. Reserva e com um dos mais altos salários do grupo, sua manutenção no elenco é bastante contestada. Aparenta certa desmotivação em campo.

Samir – mais um destaque de 2013 que “involuiu” esse ano. Lento, pesadão e dispersivo, pouco lembrou o promissor zagueiro que chegou a ser comparado a Aldair. Andou falhando alguns pontos acima do aceitável (como o escorregão na Bolívia) e chegou a perder a posição. Precisa recuperar o foco na carreira.

Marcelo – após certo encantamento inicial, decorrente de atuações seguras, caiu de rendimento e perdeu a vaga na equipe. Excelente nas bolas aéreas, mas é afoito e estabanado, além de enfrentar problemas no combate direto. É o tal “zagueiro-zagueiro” dado a bicudas, o que o fará encontrar dificuldades para se firmar com Luxemburgo, tão caro à ideia da posse de bola.

Erazo – contratado para ser titular, decepcionou desde o primeiro jogo (foi expulso), e seguiu falhando sistematicamente em todas as partidas de que participou (como na final do Estadual). Seu bom desempenho na Copa mostrou que atua bem na sobra, como uma espécie de “líbero”, algo não usado no Flamengo. Desgastado, dificilmente permanecerá.

Frauches – teve algumas chances aqui e ali, principalmente no primeiro semestre, mostrando pouca evolução. Segue lento e irregular, embora com boa técnica.

Caceres – jogador mais competitivo do elenco, impressiona por sua entrega nos jogos. Possui disciplina tática e é importante na organização do sistema defensivo. No entanto, é lento e erra passes em demasia, além de desfalcar a equipe em metade dos jogos, por lesões, suspensões ou convocações. Precisa de um reserva de mesmo nível.

Márcio Araújo – veio às pressas para repor o fracasso na negociação por Elias. Aplicado ao extremo, tem sido peça-chave na compactação da defesa. No entanto, sua função (que de certa forma emula o Luiz Antonio de 2013) carece de maior qualidade ofensiva e bom passe, atributos que definitivamente o “marujo” não domina. Pela entrega e pelo gol do título estadual, desfruta de certa simpatia da torcida. Típico jogador “de elenco”.

Canteros – chegou durante o campeonato, pegou a camisa e já foi dando o recado, sem isso de “adaptação” e quetais. Ótima técnica, boa visão tática, sabe organizar o jogo e possui boa chegada à frente, especialmente com passes longos, o que melhorou brutalmente o desempenho ofensivo da equipe. No entanto, é lento, marca mal e não tem estofo para ser a referência do meio-campo, precisando da companhia de algum jogador mais “cascudo”.

Amaral – perdeu foco e espaço. Gordo e pesado, é caricatura do cão de caça que animou a torcida na temporada passada. Trocou a transpiração pela insistência em lançamentos de efeito, que invariavelmente erra. Em forma e jogando no limite, pode ser útil em situações específicas.

Luiz Antonio – vinha em ascensão e tudo indicava que 2014 seria o ano de sua afirmação definitiva. No entanto, perdeu-se em problemas extracampo, dos quais jamais se recuperou, e desde então tem se arrastado em campo, sob ostensivas críticas de uma torcida que (com certa razão) perdeu a paciência com o jogador. Parece acomodado e sem clima no clube.

Muralha – içado da reserva de equipes periféricas, subitamente se tornou referência no meio-campo armado por Jayme. O resultado, 10 gols sofridos na primeira fase da Libertadores. Habilidoso, mas dispersivo e pouco aplicado taticamente, compromete irremediavelmente qualquer tentativa de fazer funcionar um sistema defensivo. Com Luxemburgo, mais adiantado, melhorou um pouco. Lembra muito, não pelo futebol mas pela postura em campo, o Jônatas. Cujo final não foi alentador.

Recife – andou sendo aproveitado em alguns jogos, em que mostrou severas limitações, tanto no aspecto defensivo como (principalmente) nos passes e saída de bola.

Everton – cresceu demais com Luxemburgo, tornando-se um dos principais jogadores da equipe. Muito habilidoso e veloz, é perigosíssimo em contragolpes e saídas de bola em velocidade. Tem melhorado as finalizações, e com isso começa a marcar gols com mais frequência. Talvez, junto com Canteros, a contratação mais bem sucedida de 2014.

Gabriel – enfim começa a ganhar massa muscular, e com isso apresentar um futebol mais consistente. Sua extrema facilidade em driblar e se movimentar em velocidade tornou-se uma arma da equipe. Tem minimizado sua crônica dificuldade em finalizar. Sua ascensão (já andava meio esquecido) foi a melhor novidade do final de uma temporada frustrante. Se seguir evoluindo, dificilmente sairá da equipe.

Mugni – desde sua chegada foi tratado com status de craque por uma torcida ansiosa e pressionando por vê-lo em campo, a despeito de atuações discretas. Possui qualidades, mas é pouco participativo e instável. Algumas ótimas partidas (Cabofriense, Palmeiras, Criciúma) em um ano inteiro medíocre. É jovem, pode crescer. Resta avaliar se vale a pena apostar e esperar.

Mattheus – o episódio em que tentou forçar sua saída, além de ser filho de Bebeto (vaiado em todos os Jogos das Estrelas de que participa, mostrando que a rejeição permanece viva) criaram um irreversível distanciamento com a torcida. Sua postura apática em campo também não ajuda. Tornou-se (injustamente) bode expiatório da eliminação da Copa do Brasil. Mas mostrou muito pouco em seu terceiro ano como profissional.

Negueba – é menos ruim do que se consolidou pelo senso comum, mas, pelo tempo de carreira, já deveria ter mostrado mais futebol. Vive de lampejos, o que é (ou deveria ser) insuficiente para se criar no Flamengo.

Alecsandro – um reserva em todos os clubes por onde recentemente passou não pode e não deve ser solução para o ataque do Flamengo. Esperto, gosta de apregoar raça e entrega, mas é usual vê-lo estático em campo. Dado a firulas e toquinhos, tenta exibir uma qualidade que não possui. Costuma marcar gols, mas seu futebol é obsoleto (é o típico “centroavante” das antigas) e pouco participativo. No máximo, com muito boa vontade, pode ser uma opção de banco.

Eduardo – impressiona pelo seu aproveitamento (dificilmente passa mais de três jogos sem marcar gols), mas suas visíveis limitações físicas impedem uma utilização mais intensa. Uma pena, pois possui boa qualidade de passe, exímio posicionamento e é versátil (sabe voltar para buscar jogo). Pode ser um reserva mais útil e eficaz para o time do que Alecsandro (com quem deveria disputar uma vaga no elenco).

Paulinho – esquálida caricatura do intenso atacante de 2013, também andou tentando aparecer com jogadas de efeito e exibir uma técnica que não possui. Funciona transpirando e jogando para a equipe. Se abandonar isso, torna-se comum e perde a utilidade. Espera-se que a longa inatividade lhe tenha posto a cabeça no lugar.

Nixon – mais uma grata surpresa de fim de ano. O copo meio cheio verá evolução, o copo meio vazio enxergará mero empenho para renovar contrato (repetindo o famoso “efeito Pacheco” de 2010). Pela postura em declarações, o garoto parece ter boa cabeça. Talvez fosse o caso de apostar mais um pouco. Com cautela (aumento progressivo de salário, por exemplo).

Sartori – por enquanto, é apenas o “filho do Alcindo”. E o pai em campo não era grande coisa...

Arthur – aposta que deu errado. Sentiu o peso da camisa. Corre muito, e só.

Elton – é certamente o pior jogador contratado pela atual administração.