terça-feira, 23 de setembro de 2014

Obsessão pela Independência

Corriqueiramente posto sobre estádio. Não consigo admitir que o Flamengo seja explorado por quem quer que seja, governos, empresas, qualquer um. Sugado. O clube tem deixado de arrecadar em seus últimos jogos algo em torno de R$ 1.000.000,00, inclusive no do último Fla x Flu. Além disso, há um processo de impedimento do clube de maior torcida do país tenha sua própria casa e continue alimentando a todos, menos a si mesmo. A história é antiga e o Flamengo é o trem pagador do futebolcarioca. Sem contar ainda com a falta de controle da meia entrada, somada à farra da imprensa e escoteiros de penduricalhos no Maracanã. Até quando?

A arrecadação com o estádio é um dos pilares econômicos do futebol e obriga a quem não tem o seu, a se organizar, melhorar a gestão para uma construção ou reforma sempre difícil. O Flamengo está se preparando para isso. Rodrigo Mattos diz que os estudos sobre um estádio na Gávea estão quase concluídos. Só não concordo com a capacidade reduzida, para apenas 22 mil pessoas, no máximo 25 mil. Não é megalomania, só não resolveria o problema. Talvez trouxesse mais problemas ainda. Um estádio que possa garantir a independência do Flamengo igualando aos concorrentes teria de 35 a 45 mil pessoas. Penso na independência financeira, política, logística, institucional do Flamengo.

Uma casa de 39 a 45 mil pessoas daria tranquilidade patrimonial e financeira, já que o Maracanã poderia ser utilizado para os clássicos, preservando o patrimônio. O valor do custo de toda a operação no Maraca, poderia perfeitamente ser utilizado para a construção com todas as benesses possíveis. Se construído de forma eficiente, comercializaríamos camarotes, lojas, cadeiras cativas e direito de nome. Só depois um financiamento. Pensaria no assunto já para 2015/2016. O aparelho seria fundamental para o aumento de receitas e patrimônio do Flamengo.

O Grêmio já opera seu estádio novinho, o Palmeiras está terminando o seu com recursos próprios (ambos); Internacional, Corinthians, Náutico, Atlético-PR aproveitaram da passagem da copa do mundo pelo Brasil; São Paulo, Santos, Vasco, Sport, Coritiba, Figueirense e Avaí tem projetos para a modernização e/ou a construção e gerarão receita a seus cofres; Atlético-MG (que também tem um projeto) tem o Estádio Independência e o Cruzeiro o Mineirão. A facilidade de financiamento neste período nunca mais será repetida para nenhuma categoria e construção neste país. É inútil dizer, mas o Flamengo perdeu o bonde da copa, infelizmente. E dos jogos olímpicos, já que poderia ter construído um estádio para abrigar o Rúgbi.

Não importa aqui a escolha de um lugar específico para a construção (Zona portuária, Ilha do Fundão ou Barra da Tijuca e adjacências), desde que se tenha transporte eficiente e facilidade de locomoção, o mesmo vale para os municípios vizinhos como Niterói e Duque de Caxias. A preferência de boa parte dos sócios é a Gávea, lógico. Gosto da Gávea, desde que para no mínimo 35 mil pessoas no mínimo, não limitada a 25 mil pessoas. Minha preferência é o arrendamento do Engenhão, numa oferta hostil, como já publiquei anteriormente, desde que se tenha as condições explicadas no mesmo texto.

O investimento total giraria em torno de R$ 400.000.000,00 com capacidade aproximada de 45.000 pessoas (de 39.050 a 43.550 comercializáveis, capacidade real de 45.300). Para iniciar a comercialização e construção iniciaria com três pilares: Concessões de Camarotes (por período preestabelecido, os primeiros 5 anos), Concessão de assentos (cadeiras cativas, pelo mesmo período) e direito de nome (Naming Rights). O ideal é que se consiga pagar todo valor do estádio. Com planejamento e um financiamento preciso, se garante a liquidez do negócio.

Começando pela comercialização dos camarotes, os 80 camarotes com capacidade total para 1800 pessoas, se obteria o VALOR POTENCIAL de R$ 108.000.000,00 a cada 60 meses. Cheguei a estes números com os seguintes cálculos: Aluguel do espaço, 30 eventos por ano (2.5/mês, jogos ou shows), concessão limitada a 60 meses que é o tempo do “aluguel” e/ou exploração do espaço (cinco anos) e também a quantidade de parcelas, número de camarotes disponíveis (sem a inclusão da taxa de manutenção). Os camarotes/salas poderiam se transformar em escritório, sala de reuniões, de relações interpessoais e comerciais, ao gosto do locatário, não apenas em dias de jogos, até porque as lojas dentro do estádio funcionariam em pelo menos 350 dias no ano. Números:

O modelo de comercialização dos camarotes teve inspiração no estabelecido pela Wtorre para o novo estádio do Palmeiras, o Allianz Parque, que já tem sua venda quase completa (o Palmeiras vai arrecadar aproximadamente 250 milhões de reais a cada 5 anos). O Estádio do Mineirão (Minas Arena) é o modelo de estruturação e conceito de camarotes (em vermelho ilustração). Camarotes com capacidades diferentes, para 10, 20 e 30 torcedores.

No modelo que proponho de estádio, teríamos setores Norte e Sul parecido com o do Maracanã, só que em minha visão mais íngreme, perto do campo para fazer pressão. O meio do campo, setores Leste e Oeste com divisão superior e inferior. A peculiaridade seria o setor Norte com a possibilidade de ser aberto sem “poltronas” como nos novos estádios, mas com cadeiras que permitam torcer de pé, como no velho Maraca ou na Arena do Grêmio. Veja:

Para a comercialização das cadeiras cativas, proporia dois modelos. O pagamento seria em 60 meses e a utilização nos mesmos 60 meses a partir da abertura do estádio, ou seja, o comprado começa a pagar hoje e utiliza pelo mesmo período da parcela, se assim quiser pagar, depois do estádio aberto. Não seria como cadeira cativa, onde há direito “vitalício” como propriedade do comprador. Apenas concessão por período. Em processo idêntico ao dos camarotes. Construção do estádio é projetada para de 30 a 42 meses. Cuidado, pois mesmo com o Palmeiras vendendo quase todas as suas cadeiras concessionadas, o Corinthians "encalhou" as suas.

A segunda opção para comercializar as cadeiras “cativas” seria em setor único, com alto valor aquisitivo. Diferentemente dos 20% de todos os setores disponíveis, algo equivalente com o que hoje é o Maracanã+. O comprador adquire o local por concessão e com isso tem direito a um espaço restrito. A cada partida, caso seja de sua escolha, os serviços de alimentação e conforto (Catering) estaria então oferecido a apenas o custo do mesmo. Por um cartão exclusivo do jogo ou evento. Ex: Ingresso normal 160 reais (ingresso + serviço). Ingresso “cativo” 40 reais (apenas o serviço). O custo do serviço. Este pacote poderia ser vendido em condições especiais por pares, duplas, porque ninguém vai ao estádio sozinho, raramente. Descontos também para pacotes familiares. A se pensar.

O total é de 4.250 cadeiras (premium) à se conceder com o valor de R$ 76.500.000,00 para o clube e o preço do assento em R$ 18.000,00 (neste caso no setor Leste superior). O valor, caso o torcedor resolva pagar parceladamente, seria de R$300,00 mensais. É saber explorar, divulgar as vantagens para todos os interessados (torcedores, imprensa, sócios, patrocinadores, futuros e atuais parceiros do clube). Penso em algo adaptável, próximo do que conseguiu o Barcelona de Guayaquil, que pagou a construção de todo o estádio apenas com a venda dos camarotes, áreas comerciais e cadeiras cativas. Proponho um modelo misto, com financiamentos somados a direito de nome e a locação das áreas pelo Flamengo.

Mesmo sem comparar com o Real Madrid pergunto: seria demais o Flamengo, no mercado brasileiro, conseguir 1/5 do valor, para os mesmos 20 anos? Nas condições atuais do Maracanã, hoje, não há como se obter direito de nome, direito a exploração de marca, ativação de patrocínio, não tem direito a nada, ou quase. A única “exploração” do Maracanã é sobre o Flamengo e sua torcida. Culpa do contrato, da concessão ao clube (parceria) e principalmente da concessão do estado para o consórcio Maracanã, altamente prejudicial aos clubes de futebol do estado.

O direito de nome pelos primeiros 15 anos do estádio podem ficar em torno de R$ 15 MM/ano a R$ 20 MM/ano. Direito de nome para a área mais nobre do RJ (Gávea e adjacências), não deve ser difícil tão difícil de se vender (sei que na prática não é assim). A estimativa é conservadora. Com direito de nome fechado no anúncio do projeto (se possível), o clube poderia financiar bem menos do que os R$ 400.000.000,00 dispostos pelo BNDES.

Outra fonte de receita seria a concessão de algumas lojas, como as de shopping centers (não um shopping, no caso da Gávea): 50 lojas, 100 m² por R$ 10.000,00 o m² com a receita total de R$ 50.000.000,00. Somados a isso teríamos ainda a construção de 60 bares (concessão/aluguel, lucro partilhado) por dois anos, quatro bares/restaurantes temáticos operados pelo Flamengo e o estacionamento para 10% da capacidade ou 2.250 vagas, com novas tecnologias que evitam lugares ociosas (concessão/lucro partilhado).

Apenas com as receitas de camarotes e lojas, cadeiras cativas, se atingiria a R$ 459.500.000,00, ou seja, mais do que o valor do estádio. Sem falar no financiamento do mesmo, que nos moldes dos estádios da Copa do mundo, juros de 1,4% ao ano, o clube poderia financiar R$ 400,000,000,00, que nas parcelas mensais daria algo em torno de R$ 29.750.150,67 ao ano com juros compostos já calculados o equivalente a R$ 2.479.179,22/mês. Em 15 anos. Hoje, repito, paga-se ao Consórcio Maracanã aproximadamente R$ 1.000.000,00 por jogo acima de 35.000 pagantes.


Os estudos de viabilidade do novo estádio na Gávea, não foram executados com a “cooperação” da Odebrecht, segundo a imprensa. Ótimo, sem amarras. Penso ser benéfico a criação de uma empresa para a gestão do estádio em todas as etapas, como no caso do Atlético-PR. Surgiria um aparelho esportivo novo, que se sustentaria por um financiamento via BNDES ou outro banco, ou uma parceria com outra construtora como nos casos do Grêmio e Palmeiras. Algum tipo de isenção fiscal + financiamento é possível pagar sem onerar os cofres do clube no médio prazo, sem estrangular o fluxo de caixa, sem a verba de bilheteria. Teremos de contar ainda com o nada favorável FATOR POLÍTICO. O importante é um Flamengo forte dentro e fora do campo. Independente.