terça-feira, 24 de junho de 2014

Começando de Novo (Exatamente o Quê?)

Buongiorno, Buteco! Notícias esparsas a respeito dos treinamentos do Flamengo em Atibaia dão conta que o trabalho de fato "recomeça do zero", como havia afirmado o treinador Ney Franco. A começar pela preparação física, no âmbito da qual a meta é deixar o elenco "voando", a nova "pré-temporada" da equipe passa por treinamentos específicos, como com campo reduzido, de modo a aprimorar os passes e tabelas em espaço curto, e atenção especial a alguns jogadores, como Elano, cuja forma física exibida no Flamengo não estava no nível do futebol profissional brasileiro da Série A (e olhem que esse nível já foi bem mais alto), e André Santos, do qual foi cobrada postura "de quem quer ficar no Flamengo". Há também experiências em nível tático e o time vem treinando também com a formação de três zagueiros, algo que não pode ser descartado se a zaga, hoje, é o setor melhor servido do elenco.

Essas notícias, a primeira vista, dão a esperança de que o time deixe de pontuar tão pouco e comece a vencer alguns jogos e iniciar uma reação. Sempre defendi nesse espaço que o elenco está longe de ser o ideal para as aspirações do clube e da torcida, por força da fase de realinhamento financeiro, mas também está longe de ser fraco a ponto de disputar a fuga do rebaixamento e muito menos de ser um dos sacos de pancada do campeonato, ocupando a "vice-lanterna". Tenho esperanças de que o time melhore, por exemplo, se Paulinho voltar a jogar no ataque e pare de tentar ocupar e exercer todas as funções dentro de campo, se Hernane conseguir voltar em forma e sobretudo com a recomposição da parte física. Em contrapartida, ainda preocupa a situação das laterais, especialmente a esquerda, pois já passei da fase de acreditar em mudança de comportamento de boleiros como André Santos, e a parte ofensiva do meio, que segue com pouquíssimas opções para titularidade. A dúvida é se, no saldo, será o bastante para tirar o Flamengo de onde se encontra, inclusive porque há a parte disciplinar a ser considerada.

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Muitos torcedores e também amigos do Buteco tinham expectativas a respeito de uma postura mais severa da Diretoria em relação ao elenco na parte disciplinar (reparem que não me refiro necessariamente a rescisão). O Flamengo tem um histórico, que vem desde pouco antes do início da década de 90 até todo o mandato da gestão anterior à atual, de ser um clube tolerante e até mesmo leniente com indisciplina, a ponto de, somada à imagem de mau pagador e inadimplente contumaz que a atual Diretoria está se encarregando de remover, haver também a fama de clube "zoneado", bagunçado e completamente desorganizado, no qual as estrelas do elenco podiam fazer o que bem entendiam. O histórico comprova: desde Renato Gaúcho ganhando a queda de braço que levou à demissão de ninguém menos que Telê Santana, passando pelas noitadas de Romário, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Vagner Love, mencionando apenas os mais famosos, a imagem de "Casa da Mãe Joana dos Boleiros" foi "cuidadosamente construída" ao longo desses anos e décadas.

Não são poucos, portanto, os que anseiam (e palavra ansiedade, aqui, está longe de ser um eufemismo) por uma mudança também nesse quadro. Incluo-me dentre eles, confessadamente, e por coerência tenho que admitir que, eventualmente, essa ansiedade pode nublar minha interpretação dos fatos que ocorreram recentemente no âmbito do Departamento de Futebol. Sob essa sincera perspectiva e ciente de que corro o risco de pecar pelo exagero, confesso a quem quiser ler que ainda não consegui assimilar a falta ao treino por parte de Felipe, o descaso de André Santos, a cobrança de Elano pela titularidade, ainda mais enquanto exibia uma forma física tão constrangedora; o Alecsandro fazendo embaixadinhas durante a partida contra o Cruzeiro com evidente tom de deboche com o clube, a Diretoria e a torcida, e o Leonardo Moura jogando a braçadeira no chão do vestiário, recusando-se a usá-la novamente durante o segundo tempo da partida contra o Cruzeiro, logo após nada menos do que três gols saírem pelo seu setor.

A cereja do bolo, por mais incrível que pareça, veio agora de outro jogador experiente do elenco, de quem não se espera qualquer ato de indisciplina. Chicão declarou ao GE.com que "Não foi a chacoalhadoa pois o jogador que tem autocrítica sabe o que fizemos contra o Cruzeiro. Não precisamos ficar tomando dura de diretor ou de treinador para saber o que tem que fazer dentro de campo." Leram? Então eu tenho que respirar fundo para não violar os termos de uso do blog, mas vamos lá: não é simplesmente incrível que o jogador, que ganha milhares de reais por mês e pertence a um grupo que está manchando a imagem e prejudicando os interesses do clube ao deixá-lo na vice-lanterna do campeonato brasileiro, tenha a cara-de-pau de dizer, insubordinadamente, que "não precisa levar dura de diretor ou treinador"? Como se fosse normal um subordinado falar à imprensa a respeito do que fazem seus superiores.

O tal do Bom Senso F.C. parece ser uma via de mão única mesmo, como bem observou Wallim Vasconcellos. Sim, Wallim Vasconcellos. Nem tudo que ele diz está errado, convenhamos. E o nível do futebol brasileiro atual não é apenas culpa de dirigentes e treinadores, mas também de atletas que não têm um mínimo de "bom senso" e se comportam de forma antiprofissional pelo Brasil afora, inclusive em países estrangeiros. Resta saber se, com esses jogadores, o trabalho de recuperação que vem sendo feito terá alguma chance de ser exitoso, se o treinador poderá escalar quem bem entende ou será achacado por boleiros veteranos e decadentes, em prejuízo da performance do time dentro de campo.

A Diretoria claramente aposta nesse elenco boleiro e no formato Diretor "Linha-Dura", responsável pela parte disciplinar, e treinador que cuida mais da parte de campo. Ao meu ver, arrisca bastante alto, dado o contexto atual, inclusive a posição na tabela. O tempo dirá se a fórmula funcionará e exatamente o que o Flamengo está começando de novo em Atibaia.

Bom dia e SRN a tod@s.

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Nota da Administração: solicitamos @os amig@s que evitem temas que se relacionem com política partidária e política internacional. O tema do blog é basicamente futebol e o C. R. Flamengo. Às vezes já é difícil administrar as divergências com um tema central tão suscetível a polêmicas, que dirá se ampliarmos o leque de debates para outras áreas igualmente controvertidas e até mesmo de complexo conteúdo, porém totalmente estranhas à finalidade deste espaço. SRN a tod@s.