terça-feira, 3 de junho de 2014

Colônia x Embaixada

Porque o Flamengo age como um mero colonizador e não como um governo que recolhe tributos e devolve a seu povo com as contrapartidas necessárias? Já passou da hora de acolher a torcida. Um dos grandes problemas do Flamengo tem sido a maneira como a torcida vem sendo abordada, o tom, a comunicação. Em geral, o tom é impositivo, infelizmente, e um grande exemplo foi o episódio de Florianópolis, primeira ação fora do RJ que apelava a um Flamengo forte apenas pelo programa de sócio torcedor. Em um primeiro momento funciona, depois é preciso mais, um trabalho de prospecção, uma mudança de paradigma, assim a maioria espera.

O que foi o Wallim na coletiva cobrando a torcida? O ST tem contrapartida ZERO. Qual o estímulo? Ele até poderia ter um pouco de razão, mas não poderia jamais atirar para tudo quanto é lado porque “também morre quem atira” e ele “morreu” atirando. Falta humildade. MUITA. Sou ST, renovarei meu pacote anual e continuarei ajudando ao futebol do clube, mas como pensar em aumentar a adesão e aproximar aos torcedores do clube e não o contrário? Porque o clube está tão ofensivo com seus torcedores? Ainda há apoio, a diretoria tem feito o que sonhávamos em relação ao pagamento das dívidas, porém esta postura de só pedir e cobrar está cansando.

O futebol, o esporte como um todo, vive de paixão, um “produto” em que o “consumidor” é fiel, não há mudanças. Tem um famoso dito em que “muda-se de religião, de esposa, de família, de sexo, mas ninguém troca de time”! Não tem jeito! Depois que a paixão pelo clube de futebol chega, não há como mudar. Penso ser um grande passo a mudança da mentalidade, os debates em torno do clube, certa contestação da torcida. Se a torcida se reconhece como nação, o clube deve atender ao pedido de seus nacionais.

O Flamengo como instituição deve parar de se pensar como “nação” e se pensar como “Estado”. Os torcedores não são colonizados e o clube sua metrópole. Deve-se imergir, adaptar, não meramente explorar uma torcida que quer ajudar, mas quer ser ouvida para fazer "parte do negócio". A relação não pode ser apenas nos dias de jogos, o clube tem que querer fazer parte da rotina diária do torcedor. Mais do que já faz. Está capenga a comunicação entre o clube e a torcida, na verdade do clube para a torcida. É centenário do Leônidas, envie pro torcedor um material sobre a história dele. Se revistas de compras eletrônicas enviam material impresso mensalmente, porque o Flamengo não poderia fazer o mesmo? Custa grana que o clube não tem? Envie eletronicamente algo previamente preparado. Isso dá pra fazer e é algo relativamente simples.

A comunicação é sofrível e se o Flamengo quer um ST forte para montar boas equipes e arrecadar cada vez mais “com os impostos à nação”, deve se aproximar de seu povo, não atacá-lo. Se quer os “tributos”, que dê contrapartidas. Aproximando de seu torcedor, o clube faz com que seu aficionado viva a experiência, num caminho de mão dupla. O amigo Thiago Gonçalves, que já foi parceiro de coluna no Buteco me enviou um depoimento de Portugal, por e-mail:

"Tenho imagens acho que podem interessar. Veja o nível do trabalho que o Benfica faz por cá. Hoje cheguei a casa e quando fui à caixinha de correio ver se tinha correspondências, deparo-me com um panfleto do Benfica, mostrando uma promoção para captação de novos sócios e junto, num destacável, um envelope e a ficha de inscrição em que bastava o cara preencher e enviar de volta (sem selo) e passado uns dias recebe em casa o cartão de sócio.
Detalhe: 3 meses de mensalidades grátis é a promoção e ainda recebe dois ingressos para um jogo no estádio da luz".

 
É um caminho. Poderia ser trilhado por nós. Atualmente o Flamengo teria como acabar com a redução do número de STs durante a Copa do Mundo? IMPOSSÍVEL! Primeiro, quase nada tem sido feito neste sentido; segundo, a comunicação, repito, é péssima. Do mesmo nível do futebol apresentado pelo time em campo. Então, porque o Flamengo abandonou as embaixadas? Qual o trabalho que vem sendo executado para elas ou com elas? Alguém sabe? Se souber e eu estiver sendo injusto, peço desculpas e as publico sem problemas.

O Internacional já ultrapassou a casa dos 116 mil socios-torcedores e hoje tem em torno de 700 Consulados, isto quer dizer que podemos considerar que cada Consulado conseguiu trabalhar para que 165 torcedores em media se tornassem sócios do clube gaúcho... P-A-R-C-E-R-I-A! Hoje o Flamengo tem algo em torno de 70 Embaixadas. Bem fraco o trabalho, que nunca foi bem desenvolvido desde sua concepção, e que até agora não se sabe o potencial. 

As Embaixadas seriam as parceiras ideais para o Flamengo na captação de socios-torcedores. Como temos sete vezes mais torcedores do que o Internacional, depois de muito trabalho, alcançaríamos, certamente, a milhares de adesões. Existem rubro-negros em quase todos os 5.570 municípios do Brasil, demanda reprimida, potencial desconhecido. Um grande trabalho, se bem-feito, promove grandes oportunidades e cabe ao clube uma ação que envolva as Embaixadas, maior parceira em potencial que o Flamengo poderá ter.

Penso em “Comunidades Rubro-Negras”, Embaixadas que promoveriam experiências ligadas ao Flamengo de modo virtual e físico (coletivo), nos dias de jogos com sede física ou ponto de encontro avalizado e registrado pelo clube, chancelado. O exemplo já existe, o da união de pontos “físicos” e redes virtuais, torcedores de alguma maneira em contato com o clube. Acreditem. Trocando uma ideia sobre embaixadas, André Amaral do ótimo Ninho da Nação, me informou sobre a “Rubro-Negros da Ilha”, uma Torcida Organizada da qual ele é parte, e que está tentando se transformar em Embaixada, no ES.

André me disse que “no grupo do Facebook são mais de 3.400 pessoas e geralmente 100 torcedores, aproximadamente, assistem aos jogos do Flamengo, juntos em Vitória”. Se estimulados pelo clube, quantos estariam dispostos a contribuir? Suponhamos que 60% destes tenham a vontade de se integrar ao ST. Só desta "Embaixada", seriam 2040 CRNs, capitalizando aproximadamente R$ 500.000,00/ano. 

Para alcançar 250.000 sócios, algo complexo, o Flamengo poderia explorar 50.000 sócios na cidade do Rio de Janeiro e ativar a 200 comunidades com 1000 sócios em média ou 1000 comunidades com 200 sócios, dependeria da estratégia de captação. É grandioso? É. Difícil, complexo? É. Impossível? Não. Não mesmo.

Poderia subdividir a administração deste projeto em nucelos regionais: Norte, Nordeste, Centro-oeste, Sudeste, Sul. Como a demanda de Norte e Nordeste são maiores, poderia se dividir ainda mais para administrar. Criando pequenos nucelos de no mínimo 100 pessoas em cidades de até 50 mil habitantes para promover a parceria institucional do clube. O clube poderia retornar o investimento para própria embaixada, como “prêmio”. Se parte da receita retornasse para a manutenção da estrutura da embaixada, seria um ótimo negócio para as duas partes.

Quantas cidades de até 50 mil habitantes existem no Brasil? Até 200.000 habitantes? Com mais de 200.000 habitantes? O Flamengo sabe? Deve saber. Ou deveria. O ideal que se façam testes com as embaixadas já existentes, iniciando com 20 projetos pilotos, estimulando as embaixadas a prospectar o torcedor. Ideal para criar um padrão, treinar, normatizar. Poderia também se pensar na criação de um selo ou carimbo, que registre a originalidade, autenticidade; assim como a criação de um estatuto, com regras de manutenção do programa com punições individuais, coletivas passiveis de responsabilização das embaixadas e individualmente em casos de crimes (roubos, brigas...).

Cada lugar teria uma abordagem diferente, porque tem característica diferente. O Flamengo deve se adaptar a torcida, com suas regionalidades, não o contrário. Algumas ações e medidas deveriam ser definidas para o estabelecimento destas parcerias e o fortalecimento das Embaixadas como representantes oficiais do Flamengo. Os parâmetros de valores e distâncias para a prospecção e contato com o clube seriam estabelecidos. Quanto mais longe do RJ mais barato para o associado:
  • R$ 40,00 para torcedores no raio de até 75 Km da Gávea
  • R$ 30,00 no raio entre 75 Km e 200 Km da Gávea
  • R$ 20,00 para torcedores além de 200 Km da Gávea.
Para o torcedor da Comunidade/Embaixada Rubro-Negra, que costuma e deseja vir ao Rio de Janeiro, visualizo outra fonte de receita e aproximação entre as partes, um programa em conjunto com a prefeitura da cidade, já que a torcida é um bem cultural e o clube um patrimônio da do Rio. Seria ótimo a criação de um City Tour do Flamengo (Gávea (clube, Museu, Megaloja), Lagoa (remo), Orla (Leblon, Ipanema, Copacabana, Leme, Enseada de Botafogo (passar), parada na praia do Flamengo e nas dependências que fundaram o clube), Porto do Rio, Maracanã. Itinerário de ida e volta. “Pontos finais” na Gávea e no Maracanã. Paradas Gávea, Lagoa (Remo), Praia do Flamengo, Maracanã.

Essa é uma opção entre as dezenas que podem e devem ser criadas. O mais importante é a aproximação entre as partes e a formatação de um setor de projetos, para que sejam desenvolvidos e apreciados, avaliados, catalogados, nunca esquecidos. Desenvolver uma linha de produtos específicos para esse torcedor das embaixadas, que está interessado em “consumir o Flamengo” é parte fundamental da proposta. O Feedback é uma obrigação, respeito com quem enviou o projeto. Ouvir, ouvir, ouvir, para ao menos considerar. Algo precisa ser feito para aproximar o clube de seu torcedor. A benevolência está acabando, a paciência de muitos acabou. Até quando com a “beneficência”?