quarta-feira, 28 de maio de 2014

Um gol perfeito


A bola chutada pelo craque do time, quando a partida final do Campeonato se encaminhava para o fim, parecia ter como destino as lendárias Gerais do Maracanã. Atrás do gol, o amigo ao meu lado jogou as mãos para o alto, disse um palavrão e virou as costas aborrecido. Mas a redonda fez a curva desejada pelo artista da camisa 10 e, com precisão, obedecendo ao comando de um compasso invisível centrado na torcida do Flamengo que o girava com toda a força do seu pensamento, balançou para sempre as redes inimigas;

Alguns rápidos segundos se passaram com o respiração parada pela expectativa gerada pelos movimentos da bola e do goleiro, uma contra o outro, os batimentos cardíacos em franca aceleração e um grito de gol preso na garganta pronto para explodir e se expandir, fazendo tremer a cidade como cantado numa canção, o que aconteceu depois que a coruja foi cruelmente acordada, exatamente no único espaço disponível entre a mão do esforçado arqueiro e os "paus" da baliza. Gol do Pet. Gol do Flamengo. Gol de mais um Tricampeonato conquistado há 13 anos, no sacrossanto 27 de maio de 2001, comemorado no dia de ontem;

Nos melhores momentos de minha gloriosa vida de torcedor rubro-negro está inserido aquele gol do nosso último super craque, num lance que Zico, o melhor entre eles, assinaria com prazer e com louvor ao sérvio, jogador da linhagem daqueles que no primeiro toque matava a bola vinda de um passe recebido e no segundo a enfiava onde desejasse. Ouso dizer que se o companheiro não saísse do lugar a bola bateria nele, a não ser que Pet marcasse um encontro dele com a bola na frente do goleiro adversário ou, como falava Claudio Coutinho, num ponto futuro;

Na véspera do jogão contra o arqui rival Vasco da Gama, fui à Gávea comprar os respectivos ingressos. Já com os bilhetes na mão, percebi que os portões haviam sido abertos para alguns torcedores assistirem o final do treinamento ministrado pelo treinador Zagallo e aproveitei para entrar também. No momento em que sentei na arquibancada, estavam Pet e Cássio treinando cobranças de faltas e Edilson cobrando penaltis. O gringo de cada cinco cobranças, marcava três ou quatro gols, todos na "gaveta", ora de um lado, ora de outro;

Desde então sempre me perguntei até quanto aquela e anteriores preparações influenciaram naquele sucesso no dia fatal para os vascaínos. Difícil mensurar, mas tenho a certeza que influência tiveram, pois uma obra perfeita feita pelo homem não nasce por acaso, principalmente sendo conhecedor dos princípios profissionais do sérvio mais rubro-negro do planeta, que ainda viria sagrar-se Campeão Brasileiro pelo Flamengo mais de oito anos depois do grande feito;

Obrigado Pet, pela sua arte, pelo seu talento e por ter sido jogador do Flamengo!

SRN!