segunda-feira, 14 de abril de 2014

A Justiça Divina do Futebol

Buongiorno, Buteco! Uma final emocionante, na qual o Flamengo não jogou bem e nem foi superior ao adversário, muito pelo contrário. Desvantagem no placar. Torcida adversária cantando, debochando, xingando, tripudiando. Time desorganizado e jogando na base do chuveirinho na área. Acréscimos do árbitro. Escanteio. E os Deuses do Futebol promoveram a sua justiça implacável e divina pelos pés do limitado, do humilde Márcio Araújo. Sim, Márcio Araújo, que até então não jogara porcaria alguma, e que, sim, estava em posição irregular; porém, irregularidade por irregularidade, o Vasco da Gama chegou ao segundo jogo da final podendo conquistar uma vitória simples graças a outro erro da arbitragem que lhe favoreceu, quando o nosso goleiro Felipe foi bloqueado, empurrado na pequena área e com isso impedido de disputar o lance pelo alto. Mas desse lance ninguém fala, como ninguém fala do gol mal anulado de Athirson na Taça Guanabara de 2003 ou do absurdo impedimento do nosso então centroavante Souza, na final de 2007, quando, ao final do primeiro tempo, saiu igualmente livre, cara a cara com o goleiro do Botafogo, e a marcação irregular do impedimento o impediu de abrir o placar para o Flamengo. O que teria ocorrido se o Flamengo saísse na frente do placar naquela final? Pelas leis da física, da teoria da relatividade e do espaço-tempo, o lance do Dodô jamais teria ocorrido, pois a partir de então os fatos teriam se desencadeado de modo diferente, imprevisível até, diga-se a bem da verdade. Todavia, todos sabemos qual é o lance chorado incessantemente até hoje, certo?


Vejo nesse tipo de desfecho algo místico, sobrenatural. Quem disse que os Deuses do Futebol não existem? Sua justiça, porém, segue um conceito próprio e faz pouco caso das regras objetivas e pretensamente imparciais dos pobres mortais que as elaboram, e parece ter no sofrimento do torcedor um peculiar requinte de crueldade. Tamanha relação direta permite indagar: seriam eles Deuses pagãos? Após nos levarem ao limite do sofrimento com a eliminação de quarta-feira e com uma partida que parecia fadada a coroar o fim de um dos nossos maiores orgulhos de torcedor, que é o tabu contra o mais tradicional freguês da era contemporânea, eis que no último instante decidem inverter a ordem dos acontecimentos e nos permitir a apoteose, a explosão de alegria incontida, ao mesmo tempo devolvendo a agonia e a aflição da derrota aos seus tradicionais guardiões, retornando-os a sua infindável rotina de sofrimento, revolta, humilhação e autocomiseração.

A esses Deuses, estejam onde estiverem e pouco importando exatamente o que sejam, o meu muito obrigado e o compromisso de jamais me tornar chorão, resmungão e infeliz como os torcedores dos meus rivais. Acho que essa postura é que nos faz gigantes como somos, com a bênção dos impiedosos e temperamentais Deuses do Futebol.

Como torcedor do Flamengo, sempre tenho um motivo para sorrir, ainda que pouco após sentir o peso da dor. Sempre pode ser bem pior.

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A vida segue. O Flamengo precisa deixar para trás o vexame da campanha a fase de grupos da Libertadores/2014, assim como a vitoriosa campanha e o título estadual. Para o Mais Querido, o Campeonato Brasileiro começa domingo que vem. A discussão do momento é o treinador Jayme de Almeida e a qualidade do seu trabalho. Há quem entenda que deve sair, enquanto outros são da opinião de que é preciso lhe dar tempo para trabalhar a longo prazo, inclusive porque ofereceria ao clube uma favorável relação de custo/benefício.

Em 2013, Jayme, em circunstâncias totalmente desfavoráveis, pegou o time em crise, questionado e com a moral baixa para brilhantemente levá-lo a um emocionante e inesquecível título da Copa do Brasil. Até então tudo pesava a favor de Jayme, portanto. Entretanto, em 2014, com tempo para formar o grupo e para treinar e fazer a pré-temporada, uma campanha horrorosa na Taça Libertadores da América, em que pese a perda de Elias e Luiz Antonio mas contando com um elenco bem mais completo e versátil, e um título estadual com sobras. Como interpretar esses resultados?

Os resultados, na minha opinião, são relativos. Não há como desconsiderá-los, o que seria inclusive absurdo, porém é preciso interpretá-los dentro do contexto em que foram produzidos. Um relevantíssimo fator a ser considerado é que, em nível tático, o trabalho de Jayme até aqui, em 2014, é simplesmente miserável. Sinto muito, mas não consegui encontrar outra palavra. O time, em quase quatro meses de trabalho, segue uma mesma formação tática, sem qualquer variação, cede evidentes espaços no sistema defensivo e hoje apresenta graves problemas de articulação no meio de campo, especialmente contra adversários mais fortes. Ontem jogou à base de chutões e ligação direta em busca de um contra-ataque. Foi engolido taticamente por todos os adversários da fase de grupos da Libertadores, inclusive no Maracanã, em vários momentos das três partidas disputadas em casa. Claro que houve contusões e falhas individuais, mas por acaso problemas semelhantes não atingiram os adversários? Como então explicar os "nós táticos" que o Jayme levou?

A dúvida que daí surge é se Jayme enxerga esses fatos ou acha que está no caminho certo. É justo então perguntar: Jayme é capaz de fazer uma séria autocrítica e tentar se aprimorar ou continuará a impor seus monocórdios conceitos até os resultados começarem a aparecer, correndo o risco de abreviar sua passagem pelo clube pela ausência deles? Campeonato Brasileiro é coisa séria!

Que resposta @s @mig@s do Buteco dariam a essa pergunta?

Acredito que o quanto o Flamengo deve permanecer com Jayme dependa dessa resposta e espero sinceramente que a Diretoria a tenha até o momento da parada para a Copa do Mundo. Em seguida ainda reviveremos os dramas e dilemas característicos da janela europeia de transferências. Velhos problemas, mas dessa vez espero novas soluções e não os mesmos erros.

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Outra discussão da hora é o elenco para o Brasileiro. Como já era de se esperar, a precoce eliminação na Taça Libertadores da América impedirá o Flamengo de captar milhões de reais em receitas. Gostaria de saber d@s amig@s do Buteco, por posição, quem dispensariam com o objetivo de readequar as finanças do clube com a folha salarial e, na medida do possível, sem perder a versatilidade e a quantidade de opções que tem nessa temporada.

Então, você, @mig@ do Buteco, Manager do Mengão, reestruturaria esse elenco em qual proporção e como faria?

SRN a tod@s.