sexta-feira, 7 de março de 2014

E esse meio?


Em recente entrevista, o craque holandês Seedorf falou com jornalistas italianos sobre a organização tática de seu time e de como via a evolução do futebol atual. Lúcido como de costume, ele questionou a fixação que os analistas de futebol costumam manter com os números que definem o esquema e arrematou com uma constatação com a qual concordo. Segundo o atual técnico do Milan, o posicionamento dos jogadores, através do qual são executados os 442, 433, 4141, e etc, atualmente se resumem à parte defensiva do jogo. Quando uma equipe moderna retoma a bola, deve existir uma movimentação constante das peças, de forma a permitir a evolução em bloco e a manutenção da posse de bola.

Pep Guardiola, Jupp Reincks e outros menos bem sucedidos que eles conseguiram resgatar o futebol de toque de bola quando conseguiram consolidar o jogo de toques e movimentação com uma consistência defensiva sólida, focada na retomada imediata do controle da bola. Conseguiram encontrar em seus times o equilíbrio entre defesa organizada e ataque criativo, e a chave parece estar, talvez obviamente, no meio-campo. Com um posicionamento defensivo sólido, ocupando espaços e bloqueando o jogo ofensivo do adversário e aliando bons marcadores com excelentes passadores. Ao longo desse processo, os treinadores europeus puderam abrir mão de brucutus como primeiros volantes e mais, conseguem fazer com que até caras como Felipe Melo evoluam e melhorem substancialmente a qualidade de seu jogo.

Mas e o Flamengo? Segundo o site oficial do clube, fazem parte do elenco os seguintes jogadores de meio-campo: Amaral, Cáceres, Elano, Feijão, Muralha, Gabriel, Lucas Mugni, Luiz Antônio, Márcio Araújo, Matheus, Rodolfo, Recife, Carlos Eduardo e Éverton. De que forma o Flamengo do Jayme conseguiria encontrar seu equilíbrio no meio campo, com esses jogadores? Para imaginar esse time, não creio que precisemos recorrer a comparações irreais com o Bayern ou o Barcelona. Podemos olhar para nosso próprio passado recente, com o time que tinha o meio formado com Amaral, Elias, Luiz Antonio e Carlos Eduardo (eu acrescentaria o Paulinho nessa, pelo posicionamento defensivo, mas aí é da opinião de cada um...). Creio que podemos admitir que aquele time, no final da temporada encontrou um equilíbrio consistente entre a defesa e o ataque, jogando de forma bastante moderna e competitiva apesar da pouca qualidade técnica.

O time atual não tem nenhum dos quatro (ou cinco) jogadores entre seus titulares e vem sendo organizado de uma maneira um pouco diferente da do ano passado, mais próximo do que fazia Dorival Jr, usando meias abertos pelas duas pontas. Ironicamente, o time que me pareceu melhor em 2014, foi o do segundo tempo contra o Emelec que tinha o Everton mais pelo meio fazendo função semelhante a do Elias ano passado com o Gabriel caindo pelas pontas, variando o lado do campo.

Vejo o Éverton como o substituto natural do Elias pela movimentação em campo, embora não tenha a mesma qualidade do antecessor, e acho que faz uma boa dupla com o Gabriel caindo pelas pontas. Elano é, naturalmente, titular pela experiência e pela qualidade nas bolas paradas, mas não tem a vitalidade necessária para jogar uma partida toda em alto nível. Por mim, jogaria na posição que foi do Carlos Eduardo, ficando com a responsabilidade de prender a bola no ataque para o time avançar em bloco.

Na contenção, eu manteria o Cáceres no lugar do Amaral e só vejo problema mesmo na escalação de seu companheiro na contenção. Definitivamente não confio no Muralha, apesar de reconhecer nele um excelente potencial. Continua me parecendo disperso e mascarado, como se não tivesse aprendido nada. Sempre tenta uma jogada forçada, um lance difícil mesmo quando o companheiro está na sua frente a três metros de distância. Gostaria muito que o time tivesse de volta o Luiz Antônio dos últimos jogos de 2013, mas este ainda é uma incógnita. Não vi o Márcio Araújo jogar o suficiente para fazer qualquer avaliação do seu jogo, embora tenha gostado da estréia.

O time me parece estar buscando uma organização semelhante a do ano passado, na qual a linha defensiva na intermediária forma com os dois volantes, Cáceres e Luiz Antonio ao lado de Gabriel e Éverton fechando as laterais. Elano faria o primeiro combate junto com o Brocador e se posicionaria para receber o primeiro passe na saída para os contra-ataques. Tendo como opções o Gabriel aberto e o Éverton flutuando pelo meio e chegando ao ataque. E pelo que mostrou até aqui neste ano, em jogos mais cascudos da Libertadores talvez até o Alecsandro pudesse fazer bem essa função. A variante defensiva do esquema viria com a entrada do Amaral no lugar do Elano, como acontecia quando Val ou Diego Silva substituíam o Carlos Eduardo, com o Elias avançando para a meia, geralmente no final dos jogos.

Seja a formação escolhida pelo Jayme, acredito que a disciplina tática no posicionamento defensivo e na recomposição do time serão chave para o sucesso do time. Quando o time encaixar, com a defesa segura, peças mais instáveis como Gabriel e mesmo Muralha devem subir de produção como aconteceu com Luiz Antônio e Paulinho no ano passado, e isso deve, novamente, se refletir no desempenho do time também ofensivamente.

abraços a todos e SRN!