O link acima nos leva a
uma matéria que nos chama a uma reflexão. Quero deixar de lado qualquer
discussão sobre o objetivo da chamada sensacionalista e sobre o relacionamento
do Flamengo com os veículos de comunicação e me ater ao fato em si. A
constatação de que o clube de maior torcida do país detém o record de pior
público no novo maracanã é, ou deveria ser, preocupante.
Imaginemos um torcedor
inglês ou alemão, que por algum motivo qualquer tenha no seu pacote de TV a
cabo um canal que transmita o futebol brasileiro. E suponhamos que, tomado de
curiosidade pelo futebol do país que vai sediar a copa do mundo resolve
assistir ao jogo de uma quarta-feira de madrugada (no horário de lá) em que
supostamente vai ver o time de maior torcida do Brasil jogar. Time cuja camisa
ele viu sendo vendida recentemente em lojas da adidas em sua cidade e que ele
se lembra de ter tido grandes times no passado. O que passaria pela sua cabeça
ao ver o enorme estádio vazio? Será que ele acreditaria que aquele é o mesmo
clube, super-popular de que ouvira falar? E quando, no intervalo do jogo, forem
exibidos os gols de outros jogos, ele vir alguns dos rivais de outras cidades
jogando com estádios cheios?
Voltando ao mundo real, é
bem pouco provável que uma partida como a de ontem tenha sido retransmitida
internacionalmente. Mas mesmo assim, os gols e os lances estão disponíveis na
internet levando ao mundo todo a imagem do Flamengo jogando semana após semana
num enorme Maracanã vazio.
Em debates no Buteco, no
trabalho, na escola e no bar, todos nós já conhecemos os inúmeros fatores que
fazem os jogos estarem vazios. Conhecemos até a velha desculpa de todas as
temporadas, que o estadual não vale nada, que ninguém quer ver jogos com Madureira,
Bonsucesso, etc. Esse mantra segue repetido, ano após ano, até os primeiros
jogos do campeonato brasileiro contra Figueirense, Náutico, Goiás, etc em dias
de semana nos quais vemos o mesmo estádio vazio.
Esse ano, a culpa está sendo
atribuída ao absurdo preço que foi colocado para os ingressos, resultado direto
da falta de bom senso da Federação, da desunião dos clubes e do pouco interesse
desses pelo seu torcedor. Mas eis que surge hoje a notícia de que quatro anos
atrás, com ingressos pela metade do preço, no mesmíssimo Maracanã, o público
não foi muito diferente. Com isso, a teoria de que o preço vem sendo
determinante para a ausência do público perde força consideravelmente, dando espaço
para outros vilões como o horário, o excessivo número de jogos sem importância
e mesmo o fato de que estamos jogando o campeonato com reservas.
Mas sabendo de tudo isso e
sabendo que não vamos mudar a federação, nem a televisão que decide os horários
dos jogos, o que se pode fazer para diminuir tanto o prejuízo financeiro quanto
o dano à imagem do clube? Sabendo que é uma questão muito complexa e que a
televisão pressiona muito os clubes, se oferecendo para “compensar os prejuízos”
com a cota de televisão, maior inclusive que a da Libertadores. E lembrando
também que nesta temporada, a federação reduziu a cota do Flamengo e do Vasco
para aumentar a premiação do estadual.
A única coisa que me ocorre rapidamente
é insistir para que o Flamengo não jogue nenhuma partida contra os pequenos no
Maracanã, especialmente nos jogos transmitidos pela TV. No campeonato estadual,
o Flamengo sempre joga em casa independente do adversário e pode, quando for
mandante escolher outros estádios em que o público baixo fique menos evidente. Macaé,
Volta Redonda e Moça Bonita tem estádios pequenos e com boa iluminação, podendo
ser usados – como ocorreu no ano passado após o fechamento do Engenhão – para quase
todos os jogos contra os pequenos do estadual.
Não dá para saber se seria
possível fazer promoções com patrocinadores, venda casada para mais de um jogo
ou mesmo campanhas para atrair o torcedor para o estádio. Em muitos casos, os
recursos a serem investidos em cada uma dessas ações não terão retorno
suficiente neste péssimo campeonato. Outra incógnita seria tentar convencer a
federação, com a qual o Flamengo não tem uma boa relação, a nos deixar levar
jogos para praças mais rentáveis como Brasília ou o Nordeste. Lembrando da
dificuldade que foi para mandarmos jogos fora do Rio no campeonato brasileiro
do ano passado, essa idéia não me parece muito promissora.
É fato que alguma coisa
precisa ser feita e não temos muito tempo. Em Maio recomeça o campeonato
Brasileiro e o Flamengo dessa vez não vai ser nômade nem ter a desculpa das
mazelas do Engenhão para ter baixa média de público.
abraços a todos e SRN!
Apenas para marcar posição,
reforço que não concordo sob nenhuma hipótese com a política de precificação que o Flamengo vem
praticando, desde a final da Copa do Brasil, exceção feita aos pacotes vendidos
para a 1ª fase da Libertadores. Ainda que a lei da oferta e procura seja a
justificativa – plausível – para os altos valores, a qualidade do espetáculo e,
principalmente, o péssimo serviço prestado no estádio, não são nem de longe
compatíveis com os preços cobrados.