“As vacas
estão gordas.”
A frase
do cupincha saiu assim, direta, seca, de uma sinceridade quase infantil, sem
qualquer pudor ou receio, revestida por uma robusta camada de espontaneidade, o
descompromisso dos que se acreditam impunes, eternos, inatingíveis. É meio
recente, coisa de um e meio a dois anos atrás.
“As vacas estão gordas.”
Aí
estava, estampada com toda sua cortante crueza, a melhor definição para o
último triênio vivido pelo CR Flamengo, assolado pela mais devastadora das
tempestades, o mais medieval dos momentos obscurantistas, a mais iníqua das
noites, a pior página da história recente e não tão recente da mais que
centenária instituição.
“As vacas
estão gordas”. Não havia mais o que falar, o que explicar, o que traduzir.
Até que
um dia isso chegou ao fim.

O
Flamengo cometeu o supremo crime de querer ficar com o que lhe é de direito.

Daí há
reações.
A
estridência de setores da mídia impressa, falada e televisada que, movidos por
ódios políticos, pessoais, picuinhas geradas pela perda de privilégios a soldo
ou mesmo simples aversão à instituição, intrigam, garimpam o tumulto, espremem
factoides dia sim, dia também, quando simplesmente não travestem veleidades em
verdades, espancando uma realidade fática que, ao lhes ser exposta em carne
viva, os ofende, deprime, tripudia. Ou os protestos alaranjados, faixas no
miolo de torcidas, ameaças, coações, agressões físicas, entre outras
manifestações de um amplo arco de resistência composto pelos mais diversos
setores que, historicamente, sempre vicejaram à sombra de relações
institucionais fluidas, molentes, derretidas por redes pessoais vaporosas e
volúveis como a rodada do fim de semana.

Apenas
estrebucham.
Diferente,
bem diferente, é o que se presenciou na semana próxima passada. Que não é
irrelevante. Não é inexpressivo. Não suscita despreocupação.
O que se
viu, viveu e relatou é aviltante. Revoltante. Indigna. Envergonha.
Os
motivos podem ser diversos. Política, ou no caso, politicalha interna, reação
de setores talvez incomodados pela virtual perda de faturamento no ancestral
cambismo, logo no mais rentável jogo do ano, necessidade de surfar no raso
populismo dos anos 50, ou simplesmente a anabolização de alguma polêmica que
ajude a vender jornais.
Mas nada,
absolutamente nenhuma justificativa valida a deprimente pantomima exposta nas
dependências do CR Flamengo e fora dele, onde órgãos de estado foram
aparelhados para funcionar a serviço do mais repugnante proselitismo político, operando
ao sabor de pageviews e índices de audiência, escravo de um “senso comum”
imposto e motivado por diferentes apetites.
Foram
estapeados os mais basilares princípios de funcionamento das leis do mercado,
os mais viscerais mandamentos do Direito Constitucional, adotaram-se práticas
que remetem aos mais nefandos momentos da Gestapo, da Stasi, da Pide. Tomaram
de assalto um domicílio privado, tentaram saquear documentos estratégicos,
sequestraram um dirigente ao mais fulgurante arrepio da lei.

É o
momento do CR Flamengo e de nós, seus torcedores, que buscamos a consolidação
do processo de reerguimento pelo qual atravessa a instituição, mantermo-nos
solertes e atentos ao que motiva os movimentos de determinadas personagens e de
seus paus mandados, estejamos sempre prontos a denunciar e a reverberar
quaisquer tentativas de manter o clube imerso em um atraso que sempre se
revestiu conveniente aos interesses de muitos dos que hoje gralham em “defesa”
de ideias que nem sabem ao certo quais são, vestais da causa própria.
O CR
Flamengo é a mais expressiva instituição esportiva do país. É do sacerdote, da
puta, do magistrado, do favelado, do menino, do idoso, da empresária, da dona
de casa, do pivete, meu e seu. E todos, sem exceção, queremos ver um Flamengo
forte, protagonista, vencedor.
Não mais
o Flamengo do assecla, do comparsa, do amigo.
(em
tempo: cuidado. Ainda podem querer meter a mão na arrecadação da final. Sempre
existe uma penhora inesperada, um protesto, uma ação qualquer. Que o jurídico
do clube se mantenha atento).