quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Bola Quadrada


Muitos torcedores do Flamengo, em particular, e do futebol em geral, têm reclamado que está cada mais difícil acompanhar os jogos dos seus clube​s, o que tem sido corroborado pela mídia especializada, tendo em vista a qualidade do futebol oferecida pelos times envolvidos em cada partida. Vários manifestam a vontade de não mais ir aos estádios e ficar no conforto de suas casas assistindo e torcendo pela TV, dando ao evento o valor que ele faz por merecer, com a vantagem de não perder tempo nem de gastar dinheiro comprando futebol e recebendo verdadeiras peladas;

Lá se foram as belas tardes de domingo quando se esperava, ansiosamente, por uma partida de futebol que, às vezes por mais incrível que possa parecer nos dias atuais, nem envolvia o time de coração do torcedor. Escrevo isso com tristeza e propriedade, pois compareci a muitos jogos que passavam longe da camisa do Flamengo, apenas movido pela qualidade do espetáculo, o que hoje é sugerido pelo professor doutor Muricy Ramalho "para ser procurado num teatro por quem deseja vê-lo";

Ao meu primeiro jogo no velho Maracanã, a final do Fla x Flu de 1963, fui levado por um tio que torcia pelo América. O velho americano gente boa devia ter boas razões para ir àquela partida decisiva, da qual não participaria o seu time Campeão Estadual no ano de 1960, mas grandes artistas da bola nos dois lados do campo, e ser espremido por 163 mil pagantes e com a presença estimada de 200 mil pessoas no estádio, sem ter nada a ver no aspecto emocional com aquela decisão;

Já em 1971, um flamenguista e um vascaíno, eu e meu cunhado, fomos à final de Botafogo x Fluminense, numa derrota botafoguense chorada até hoje (a coisa vem de longe !!!), em que eles alegam falta do atacante Lula no goleiro Ubirajara Mota, no gol da vitória do título tricolor "na última volta do ponteiro (/Jorge Cury)";

Nos anos 1980, meu sogro botafoguense me acompanhava em alguns jogos do Flamengo para ver...Zico jogar, de quem era fã, talvez para me devolver, inconscientemente, as minhas presenças nos campos onde reinavam Garrincha, Didi e Amarildo;

E assim se vivenciava o futebol, com torcidas de terceiros acompanhando bons times e muitos craques da bola graças ao gosto pelo futebol de excelência sem distinguir camisas, ora num Botafogo x Santos, ora num Flamengo x Botafogo ou um Flamengo x Santos. Tendo citado o Santos, o time de Pelé chegou a disputar a decisão do Mundial de clubes no Maracanã, com a casa cheia...de cariocas;

Cabe perguntar agora: atualmente, quantos dos amigos do Buteco saem de suas casas para ir a um estádio, por mais perto que seja, a fim de ver um clássico que não envolva o Flamengo? E quantos de outros clubes tomam o caminho inverso? Não vale citar eventos internacionais, pois a maioria ainda é capaz de pagar bem caro para ver um embate entre Argentina e Espanha, por exemplo;

Alguns podem pensar em nostalgia de minha parte, enganam-se, trata-se apenas de uma tentativa de demonstrar sucintamente como o padrão mudou para pior, produzindo um comportamento reativo no mais simples torcedor, infelizmente. É história. Uma pedaço de um futebol que ficou para trás, de boas recordações, mas que sumiu no túnel do tempo.

SRN!