sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Um pouco de bom senso e os limites do ridículo

A acusação de clubismo feita contra a Procuradoria da Fazenda Nacional pelo presidente de um dos nossos rivais foi uma das coisas mais estapafúrdias surgidas nos últimos tempos. Para a maioria de nós, que vive falando e discutindo sobre futebol, é até comum presenciar afirmações desse tipo, em conversas de bar ou no intervalo para o cafézinho no trabalho. Mas ver um presidente de clube chorando ao dar entrevista, acusando um órgão federal e incitando sua torcida, extrapola qualquer limite do bom senso. 

Naturalmente, fazem-se necessários alguns esclarecimentos com relação ao Flamengo e a renegociação de suas dívidas que levaram a suspensão das penhoras das receitas e a consequente obtenção das CNDs.

Em primeiro lugar, a penhora que o CRF estava sofrendo era por conta de dívidas recentes, criadas por diretorias que recolhiam, mas não pagavam o INSS e IRRF entre outros impostos. Dívidas posteriores ao acordo da timemania, que previa o parcelamento de débitos antigos com a fazenda nacional.

Após inúmeros atrasos de diversos clubes em todo o Brasil e após a modernização de seu sistema de controle e cobrança, a PFN endureceu com os devedores e fez um alerta no íncio deste ano: Que todos ficassem cientes de que seriam excluídas do programa de repactuação aqueles que atrasassem os pagamentos por 3 ou mais meses. O Flamengo, graças a nova postura implementada pela diretoria eleita no fim do ano passado, tratou de pagar suas parcelas, ao contrário do que fizeram, por exemplo, as diretorias de Botafogo e Fluminense que, como consequência, tiveram suas dívidas executadas através de penhoras.

Em segundo lugar, o acordo feito pelo Flamengo é infinitamente mais pesado que aqueles propostos pelos outros clubes do RJ. Diferentemente de seus rivais, a nova diretoria do Flamengo ao assumir o clube, resolveu enfrentar diretamente o problema, dando total prioridade ao pagamento das obrigações tributárias. Imediatamente, a quase totalidade das novas receitas, provenientes dos contratos firmados no início do ano, foram direcionadas ao pagamento das dívidas que causavam as penhoras e asfixiavam o clube. Assim, o Mais Querido conseguiu não apenas aliviar sua situação emergencial, mas demonstrou com uma atitude pró-ativa, a mudança de mentalidade e a real intenção de resolver as pendências com o fisco. 

O restante da dívida foi parcelada com aumento progressivo do valor das parcelas. Enquanto isso o Fluminense entrava com liminar na justiça pedindo liberação de verba penhorada para pagamento de funcionários e o Vasco procurava meios para burlar a penhora e ficar com o dinheiro da venda do zagueiro Dedé, por exemplo. Vale ressaltar que, ao menos na história recente, nenhum clube brasileiro pegou um valor da ordem de 40 milhões de reais e direcionou de uma única vez para pagamento de dívidas, sem que tal quantia tivesse sido bloqueada por medida judicial.

Mas o Flamengo foi além, não apenas procurou uma solução para as dívidas que estavam sendo executadas, como foi atrás das certidões negativas diversas nas três esferas, federal, estadual e municipal. Isso permitiu, entre outras coisas, que o Mengão enviasse projetos de captação de recursos para custear seus programas olímpicos fazendo uso das leis de incentivo ao esporte, gerando mais dinheiro novo e permitindo que esses recursos possam custear nossos atletas sem riscos de novas penhoras e sem onerar o futebol, que não é mais o único responsável pela receita do clube.

Hoje o Flamengo paga todo mês algo próximo a 5 milhões de reais em impostos atrasados, resultado dessas renegociações, além de quase 2 milhões em impostos correntes. Somente no primeiro semestre de 2013, o clube já pagou mais de 70 milhões de reais, além de ter tido requisitados pelo governo, como garantias das renegociações, o CT George Helal, o Ninho do Urubu e o imóvel de São Conrado.

Cabe a reflexão: Algum outro clube fez algo desse tamanho na busca da reconstrução de sua credibilidade?

Nosso rival que se queixa de não receber do governo tratamento semelhante contou nos últimos anos com o maior patrocínio do Brasil ao seu lado. Mesmo tendo uma enorme dívida a pagar, escolheu priorizar a montagem de times fortes, para disputar o campeonato  brasileiro, a libertadores e etc.. Ao acusar os procuradores de falta de isonomia, esquecem que é muito fácil manter um custo altíssimo para estar no topo, ignorando o fato de ser um dos maiores devedores e contando com anistias e leniência por parte do governo.

Mas é preciso muito trabalho e esforço para reestruturar um clube com uma dívida gigantesca, tendo que manter um time de custo inferior e sofrendo com a pressão e as críticas de uma torcida exigente e acostumada a conquistas. Chorar e jogar para a torcida são atitudes que não cabem mais num futebol cada vez mais profissional. O tempo dos dirigentes folclóricos e personalistas vai, cada vez mais, ficar no passado. 

Após décadas congelado no tempo, remoendo seu passado glorioso, o Flamengo resolveu se levantar e caminhar com suas enormes mas (ainda) atrofiadas pernas. Seus rivais fariam bem em seguir o exemplo e avançar ao seu lado, ajudando a reeguer o outrora grandioso futebol carioca. Ao invés disso, insistem em perder tempo com muxoxos queixosos, dignos de crianças mimadas que não conseguiram o que queriam.

abraços a todos e SRN

P.S.: A coluna desta semana nasceu da sugestão de um amigo do Buteco do Flamengo indignado com as insinuações feitas pelo presidente de uma agremiação rival. Por motivos pessoais, nosso colaborador pediu para permanecer anônimo.