segunda-feira, 22 de julho de 2013

Papo Reto

Buongiorno, Buteco! É muito difícil escrever um post após o time perder uma partida com um gol em impedimento faltando poucos minutos para o final, tendo o goleiro falhado bisonhamente no lance. Encontrar o ponto de equilíbrio entre os problemas políticos e financeiros que levaram o clube a ter um banco com poucas opções, os erros da Diretoria na pouca margem de manobra que possuía, assim como reconhecer os seus acertos e ainda falar do time de forma isenta é o desafio. A janela fechada, com vidros escuros, representa um vão de oportunidades que se foi. Salvo alguma contratação inesperada, a realidade terá que ser enfrentada no Brasileiro com esse elenco. Vamos por partes então.

Gostaria de começar dizendo que a Diretoria tem o meu integral apoio, pois acredito piamente que mudará a história do clube e já deu provas inegáveis disso com a inédita, corajosa e dolorosa auditoria da dívida, publicizada para todo o mercado. O avanço administrativo em pouco mais de sete meses e meio de gestão equivale ao que o clube jamais conseguiu em décadas e mais décadas de existência. Sim, falta algo no âmbito do futebol, e pretendo dar minha humilde contribuição nas próximas linhas, mas confesso que não estou surpreso e até esperava por isso. Lembro do Zinho dizendo algo como as peculiaridades do futebol profissional em relação ao mundo executivo com o qual os Blues estavam acostumados. Sempre achei que o Zinho tinha razão. Futebol não se aprende do dia para a noite, mas por outro lado também acho que o clube não está no rumo errado; precisa apenas de alguns ajustes no setor. Nem por isso deixo de ver os Blues como heróis e ter incondicional admiração e gratidão pelo trabalho que vêm fazendo.

Com a dívida que o Flamengo tem nesse exercício e o pouco fluxo de caixa, montar um elenco equilibrado era, e ainda é, uma tarefa dificílima. Apesar disso, Wallim e Pelaipe acertaram em cheio em algumas contratações, como as de Gabriel, Elias e Marcelo Moreno (esse, para mim, fora o Adriano em 2009 e talvez o Vagner Love em 2010, parece ser o único centroavante que dará realmente certo no Flamengo desde o Liédson, em 2002). Os reforços do interior de São Paulo ainda estão se ambientando e prefiro não fazer, agora, qualquer juízo definitivo, mas Paulinho parece ter sido um tiro certeiro, apesar de considerá-lo com nível apenas para compor elenco e embora seja titular com justiça no contexto atual. Até mesmo Wallace está evoluindo e João Paulo caminha para ser um reserva aceitável.

Em compensação, dois erros colossais foram cometidos: o primeiro foi a renovação (pois o temperamento do atleta e sua ojeriza ao banco de reservas eram mais do que notórios) e depois a dispensa irresponsável de Renato Abreu sem dinheiro para tanto; o segundo a contratação pródiga de Carlos Eduardo, com salário altíssimo e vindo de longuíssimo período de inatividade por seríssima contusão articular, sendo absolutamente previsível que não renderia o mesmo futebol que o levou a ter direito a salários em valores tão vultosos. Antes, ao menos tinha-se dois jogadores no elenco que não aguentavam uma partida inteira, mas poderiam revezar entre si; agora não, pois o Flamengo paga aos dois, apenas um joga e somente por um tempo, apesar da idade, e em ritmo lento, situação que, devido ao custo que proporciona, inviabiliza que o elenco seja reforçado de forma efetiva em tão importante posição - o Flamengo não tem um armador eficiente, mas incontáveis incógnitas na posição, e somente dois atacantes que sabem fazer gol, ambos centroavantes de área que se autoexcluem. O resultado é um time que pouco cria e quase não marca gols.

Para terminar, inexplicável a situação da lateral direita. Confesso que Leonardo Moura me surpreendeu esse ano, fazendo uma temporada, até aqui, bem mais equilibrada defensivamente do que as anteriores. Contudo, não precisa ser um gênio para perceber que, com sua idade, não suportará sozinho todas as partidas e o jovem Digão, com todo o respeito, parece estar longe de ser uma solução para o problema.

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O jogo de ontem foi reflexo desse quadro e espelhou exatamente o que será o restante da temporada com esse elenco. Lembro aos amigos que, em vários dos anos nos quais o Flamengo disputou a fuga do rebaixamento nas décadas passada e corrente, o time disputou partidas equilibradas e duríssimas contra os favoritos ao título e mesmo contra os campeões. O problema sempre foi, e esse ano não será diferente, a "síndrome do cobertor curto" ou a pouca gordura para suportar situações pelas quais todas as equipes passam, em maior ou menor proporção, tais como falhas individuais como a do goleiro Felipe, erros de arbitragem como a não marcação do impedimento no mesmo lance ontem, contusões, como a de Gabriel, ou mesmo as inevitáveis futuras convocações de alguns dos nossos atletas para seleções estrangeiras, como González para a seleção do Chile, Cáceres para a do Paraguai e Marcelo Moreno para a da Bolívia.

Além disso, o time, completo, talvez tenha a exata conta do chá para um tempo de partida. Carlos Eduardo, que sem dúvida subiu de produção, agora consegue dar alguns bons passes e participar de tabelas importantes, arrematando com perigo a gol, mas sempre de forma muito lenta e por apenas um tempo, tanto que sempre, invariavelmente, é substituído no início das segundas etapas de todas as partidas. Aonde fica a relação custo x benefício? O pior é que o time cai com sua saída, pois não há no elenco um jogador que tenha a sua visão de jogo e um passe com a sua qualidade. Adryan tem potencial, mas seu jogo é extremamente irregular, entre pontuais boas jogadas e o sumiço tático, como ficou claro ontem. Reputo tal condição muito mais à juventude e imaturidade do atleta que a qualquer outro fator, como a exótica cor dos seus cabelos.

O máximo que esse elenco tem conseguido são boas primeiras etapas, com um time extremamente bem postado em campo, mas sem conseguir manter o ritmo no restante das partidas, exatamente onde os pontos têm sido perdidos, como contra o Coritiba, ou quando não as próprias partidas, caso da derrota para o Internacional ontem, em Caxias do Sul. A verdade é que, independentemente do impedimento não marcado e da falha do Felipe, o Flamengo se limitou a dar chutões para o ataque como um time de várzea no segundo tempo e o Internacional criou chances para abrir o placar. Algo parecido ocorreu com o bom e organizado time do Coritiba, que empatou a partida em Brasília em poucos minutos, todos nos recordamos. E repito de novo: o time pouco cria e quase não marca gols.

Há, porém, uma sensível diferença em relação aos anos anteriores: o treinador Mano Menezes, que sem dúvida está bem acima da média dos treinadores brasileiros. Infelizmente, parece que parte da Diretoria não agiu com a devida correção com o treinador, prometendo-lhe algo em termos de reforços que não foi cumprido. Gostei da entrevista de Mano, que tinha o direito de esclarecer uma situação que lhe fora prometida e confirmada para a imprensa quando de sua contratação. Espero que o treinador cumpra o que disse na entrevista e lave a roupa suja internamente, de modo a que o clube não passe por turbulências desnecessárias. Mano, antes de tudo, parece ter uma personalidade serena, sábia e que prima pela estratégia, pensando longe, o que é ideal para um clube como o Flamengo e o momento histórico que atravessa.

No final das contas, para mim, é o seguinte: a) assistiremos ainda a muitas partidas parecidas como a de ontem, independentemente do resultado final, pois essa tende a ser a tônica de um time arrumado taticamente, mas quase sem armação de jogadas e bons finalizadores, e que pouco cria e marca gols; b) não sei se ainda dá para reforçar e com qualidade esse time, mas Wallim e Pelaipe devem pensar seriamente nisso, inclusive na possibilidade de devolver Carlos Eduardo e aproveitar melhor o dinheiro que é pago mensalmente a ele, talvez com algum jogador de fora sem contrato e que possa render mais (o jogo todo, por exemplo), e c) a Nação terá que ser guerreira e unida até o final do ano, pois, repito, veremos muito mais do mesmo até lá.

São 24 (vinte e quatro) pontos disputados, sendo 9 (nove) conquistados e 15 (quinze) perdidos, como lembrou o Rocco ontem à noite. Não discuto com Sua Excelência, o Fato, como sempre lembro por aqui.

Bom dia e SRN a todos.