sexta-feira, 7 de junho de 2013

Ate quando vale apostar? By Guilherme de Baere


Um sujeito consideravelmente endividado resolve tentar um plano arriscado. Levanta algum dinheiro com amigos e familiares e parte para um cassino onde se dirige diretamente à mesa da roleta. Sua intenção é apostar aos poucos, tentar minimizar os riscos e conseguir um retorno rápido em cima do dinheiro apostado. O início da noite é promissor, com ganhos nos pares, ímpares, pretos e vermelhos que estimulam o sujeito a aumentar os riscos. Após alguns ganhos mais vultuosos, o apostador, ainda cauteloso separa uma boa parte das fichas e vai confiante num pleno, aposta extremamente arriscada e com poucas chances de retorno. É a hora em que a sua sorte começa a mudar. Agora, a cada giro da roleta, sua pilha de fichas diminui e cresce a preocupação com as contas. O apostador, se contém e busca equilíbrio novamente onde começou, jogando baixo, nos pretos e vermelhos, onde consegue algum ganho, mas não o suficiente para recuperar o que já perdeu. Olhando para o pano verde, se debate entre a esperança de virar o jogo e a necessidade de conter os gastos e usar o dinheiro que resta para pagar as contas que não param de chegar.

A situação descrita me veio à mente quando li, recentemente, diversos questionamentos à política de apostas adotada pela diretoria do Flamengo neste 2013. Analistas sérios e conhecedores de bola levantavam dúvidas sobre a manutenção do pouco experiente Jorginho como treinador do time e debatiam sobre a contratação do Carlos Eduardo, talvez o grande erro do departamento de futebol até agora.

Ora, partindo de um déficit colossal no orçamento do clube, não haviam muitas opções para o Mais Querido. Ou adotava uma política de baixo custo para estancar as dívidas, ou buscaria novos empréstimos – a sabe-se lá que custos – para custear investimentos incertos e tentar se recapitalizar no longo prazo. A política de baixo custo também não deixa de ser uma aposta, bastante arriscada, em um ambiente competitivo como o futebol brasileiro. É sabido que uma queda de divisão tem um impacto severo na arrecadação de um clube, com redução das verbas de televisão, patrocínios, etc. Isso sem contar com questões políticas seríissimas causadas pela mácula indelével à história da instituição. Definitivamente, não é algo desprezível.

Mas como conciliar a necessidade urgente de conter gastos com a montagem de um elenco capaz de garantir um ano tranquilo? Como garantir que as reformas estruturais em curso no clube sejam tocadas sem sobressaltos causados pelos resultados em campo? Não existem respostas simples para essas perguntas e, na verdade, talvez não existam sequer respostas certas.

A manutenção do treinador é um caso clássico. Todos que acompanham o universo do futebol sabem que os times que trocam várias vezes de técnico ao longo da temporada são os que acabam correndo mais riscos de serem rebaixados. Mas em que momento manter um trabalho que não está dando resultado deixa de ser confiança numa evolução futura e vira teimosia? Se Silas ou Rogério Lourenço tivessem sido mantidos, teriam acertado seus times ou o Flamengo teria sido rebaixado em 2010? No último domingo, os alfarrábios do Melo, aqui no Buteco, nos trouxeram duas histórias do passado rubro-negro sobre trabalhos de treinadores que não vinham dando certo e cujas trocas deram em resultados quase opostos. Um time foi campeão e o outro não caiu por muito pouco.

Um raciocínio análogo vale para contratações como os desconhecidos que chegaram ao Ninho do Urubu. Tantas vezes já vimos apostas que não vinham dando certo e, após uma determinada sequência de jogos passaram a dar resultado. Cito como casos recentes o Wanderley, que foi vendido e rendeu algum dinheiro ao Flamengo e o Hernane Brocador, que desandou a marcar gols no estadual. E não deve ser difícil achar paralelos também com o Carlos Eduardo. Tanto para situações de jogadores que vingaram após uma fase complicada quanto para investimentos que viraram tremendos micos.

Quando penso em todos os casos descritos, a pergunta do título sempre me volta à mente. Especialmente porque o Flamengo hoje, ao contrário do jogador da anedota, está apostando ao mesmo tempo em várias mesas diferentes, na roleta, no vinte e um e nos caça níqueis. Não temos apenas um time de baixo custo. O clube aumentou a aposta escolhendo um treinador de baixo custo - sem experiência para segurar a pressão do clube - e, ainda por cima, fez uma alavancagem na aposta ao mandar seus jogos longe de casa por conta da inacreditável falta de estádios na cidade do Rio de Janeiro.

Apostar nesse nível em que a diretoria vem fazendo pode até dar certo. Mas será que um projeto tão importante para o futuro do Mais Querido como o que está sendo tocado pela diretoria merece ser submetido a tamanho risco?


abraços a todos e SRN