segunda-feira, 29 de outubro de 2012

(Des) Serviços Prestados

Buongiorno, Buteco! Durante este final de semana sem jogo do Mais Querido eu li uma reportagem que me deixou estarrecido: o empresário FIFA François Gallardo afirmou que Pep Guardiola impôs como condição para a renovação do seu contrato as negociações de Daniel Alves, Cesc Fábregas, Gerard Piqué e David Villa. Agora pasmem ao saberem os motivos: os três primeiros por falta de comprometimento e a o último por razões esportivas. É claro que me lembrei do Flamengo e do seu histórico de tratamento aos seus ídolos, tomando por base as últimas renovações, nos últimos anos, de Dejan Petkovic, Ronaldo Angelim, Renato Abreu e Leonardo Moura, esses dois últimos com grandes chances de terem novamente renovados  seus contratos prestes a expirar. Lembrei-me, primeiramente, pela diferença abissal do nível físico e técnico dos jogadores do Barcelona e dos jogadores do Flamengo que citei especificamente quando ocorreram suas últimas renovações de contrato (talvez a última renovação de Leonardo Moura não sirva aqui como exemplo, pois já faz algum tempo), ou seja, como o Flamengo se apega e gasta rios de dinheiro com atletas que não têm mais o nível de competitividade exigível para o futebol profissional de uma equipe de ponta. Em segundo lugar, pelo altíssimo nível de exigência e de qualidade imposto por Pep Guardiola para prestar seus serviços atualmente, algo intangível para o nível, os padrões e os parâmetros com os quais nossos dirigentes se acostumaram a trabalhar, ainda que não se concorde com seu pedido no caso daqueles quatro atletas.

O exemplo, pra mim, atingiu as raias do surrealismo quando, durante a semana, pude ler duas matérias do Globo, a primeira quarta-feira, abordando a história de "serviços prestados" por Leonardo Moura e Renato Abreu ao Flamengo e como isso poderia "pesar" na decisão de renovação de contrato por dois anos - a matéria vinha ilustrada com uma grande foto de Renato Abreu suando e correndo no treino. Na sexta-feira, a segunda grande foto de Renato Abreu novamente correndo e suando durante o treino e no texto uma abordagem sobre sua difícil história de vida e, vejam só, uma crítica à Diretoria que adia a tomada de decisões importantes.

Pelo que pude perceber, de acordo com o que pensam os dirigentes do Flamengo, um jogador que cumpriu o seu contrato como jogador de futebol profissional a contento, fez o seu trabalho e se destacou por isso tem o direito de ficar milionário as custas do clube com o melhor contrato de sua carreira, porém com um  desempenho muito abaixo do que o levou a obter o próprio contrato renovado. Paradoxal, não é mesmo? É difícil acreditar que não haja algo por trás desses contratos que nossa vã filosofia não possa perceber.

Por isso mesmo, que a decisão de renovar ou não com esses dois atletas é importante, disso eu não tenho a menor dúvida. E deixando pra lá o absurdo que é o nível do jornalismo esportivo atualmente, mas apenas para demonstrar a força do argumento, vou aqui tomar por base salários na órbita de R$ 200 mil mensais para cada um renovar, o que para mim é pouco, pois acredito que ambos, individualmente, já ganham mais do que isso atualmente. Somando com os salários de Ibson, que devem atingir patamar semelhante, atingimos, por baixo, R$ 600 mil por mês, e, se contarmos outras vantagens, uma despesa anual com os três superior a R$ 6.500.000,00, novamente lembrando que se trata de uma estimativa modesta.

Vêm então duas perguntas inevitáveis: o que o Flamengo ganhou com esses jogadores nos últimos três anos (ressalvada a situação de Ibson, que chegou esse ano)? Quais seriam as perspectivas em 2013 com suas presenças no elenco, posto que nenhum dos três convive bem com a ideia de sentar no banco de reservas?  Mas sou forçado, amigos, a ir além. Se as renovações dos dois se concretizarem, além da continuidade de Ibson, eu pergunto qual será a margem que um eventual novo presidente e seu Departamento de Futebol terão para montar um time vencedor? Como farão para simplesmente colocar esses jogadores no banco de reservas sem destruir o ambiente do Departamento de Futebol? E como dispensá-los, se dificilmente, fora do Mundo Árabe, alguém pagará cifras tão astronômicas para eles jogarem seu futebol de ex-jogadores em atividade?

A coluna de hoje se encerra com um exemplo hoje poucas vezes visto no Flamengo. Esse, para mim, a despeito do pouco tempo que passou no clube e da identificação também com o Corinthians, senão um ídolo, um jogador pelo qual tenho profunda admiração por sua conduta, desprendimento e correção para com o clube. Refiro-me a Fábio Luciano, jogador que, por sua liderança positiva, resultados em campo e autoridade moral, poderia ter continuado no clube por longos anos, mas optou por parar quando viu que não mais poderia jogar no alto nível que o consagrou. Foi correto com o clube e seus torcedores. Não é um mercador de ilusões. Não presta desserviços ao Flamengo.

Bom dia e SRN a todos.