terça-feira, 17 de abril de 2012

New Deal, Now! - Parte II: organização, rendimento e contratos



Uma série de fatores contribuem para a crise, mas o Flamengo como clube profissional, não existe, e infelizmente por isso, o aspecto esportivo fica para trás, causando as tais “noticias ruins”. Neste ano olímpico, os esportes “amadores” de certa forma se igualam ao futebol e o desempenho dos atletas do Flamengo pode estar ligado aos do futebol, pelos mesmos motivos, e talvez estes não consigam desenvolver tudo que se espera. Campeões mundiais como Fabiana Beltrami, Diego Hipólito e César Cielo, podem até pensar que não, mas são muito contaminados pelo futebol e pela estrutura que não é profissional, porem funciona em alguns aspectos para o futebol, mas nos esportes olímpicos (que são muito mais “profissionais” do que o futebol) não, vide a queda de rendimento do fortíssimo elenco montado no basquete, mas que não convence a ninguém ser um time vencedor, porque estão durante grande parte da temporada 2011/2012 com dois meses de salários atrasados. A culpa é do viciado sistema não profissional, ocasionando desanimo e apatia em parte dos torcedores e sócios, e por isso, digo e repito com todas as letras que a falta de profissionalismo é a causa anemia do Flamengo, e enquanto o clube não for tratado como empresa, com politicas especificas gerenciais nada vai funcionar como deveria inclusive o clube social e os esportes olímpicos.

A falta de planejamento e o modelo de governança falido, pode ter reflexos negativos na gestão de Patricia Amorim, inclusive em seu acerto, o fortalecimento dos olímpicos, mas não da maneira que está sendo feito, tirando dinheiro do futebol e sem autonomia administrativa para as modalidades e responsabilização das mesmas, inclusive o próprio futebol, gerador de renda do clube. O livro Soccernomics, de Simon Kuper e Stefan Szymanski, tornou-se um belo manual de como pensar o esporte (primordialmente o futebol), adequadamente, como parte do entretenimento, campo de negócios. Considero esta parte tão ou mais importante do que apenas pensar o campo e bola, porque se a estrutura não funciona, a execução não irá funcionar, exatamente como no Flamengo, mal gerido e decepcionante no campo. O livro apresenta algumas dicas para a observação do mercado do futebol, e algumas delas seriam perfeitas para um clube desorganizado e sem comando como o Flamengo. Vale a pena ler ao livro.

Como um simples torcedor, igual a maioria não associada, existem algumas coisas que não conseguimos enxergar, e talvez possíveis parceiros, patrocinadores também não, vide estarmos sem um patrocinador máster para a temporada, como no ano passado. Onde está o planejamento? Qual é o posicionamento do clube em relação aos assuntos externos? Qual é sua politica empresarial? Estas são questões para qual não teremos resposta, assim como em questões de conduta interna, se existe um planejamento estratégico geral e de marketing, onde estão o programa de sócio torcedor e se ele será separado do sócio do clube social, entre outras. As contratações e o dinheiro gasto no futebol são grandes exemplos de como não se administrar patrimônios empresariais, e que fique bem claro que ocorre em todo o mundo, não exclusivamente no Flamengo.

Um dos aspectos que EU colocaria em prática URGENTEMENTE seria implantar uma comissão para contratações e desempenho, para que se avaliem os jogadores do clube e os atletas fora do clube para contratação, algo como o que foi demonstrado no filme Monneyball e no livro Soccernomics. O clube deve formar um conselho técnico de qualidade para poder contratar jogadores, não os treinadores, porque este trabalhará com os atletas que estão no clube, com uma filosofia do clube, por uma filosofia a ser implantada. Exemplo, Lyon, sete vezes seguidas campeão francês com cinco treinadores diferentes no período. Os cuidados com os gastos em transferências devem ser maximizados, estes gastos e tem pouca relação com o posicionamento em campeonatos (segundo Soccernomics, em pesquisa, na pagina 56 que tem uma tabela).

Para os autores do livro a relação contratação/rendimento é frágil, e exemplifico nacionalmente com Ronaldinho no Flamengo, Adriano no Corinthians, e pior, Wesley, que quase veio parar no Flamengo e foi para o Palmeiras por seis milhões de Euros e agora vai ficar parado por oito meses, por conta do rompimento dos ligamentos do joelho (logicamente o atleta não tem culpa disso), todos com custo altíssimo e beneficio pequeno. Os gastos com salários são mais efetivos no desempenho da equipe do que as contratações, assim como no mundo empresarial. Quem é bem remunerado e reconhecido, tanto por seus patrões, quanto pelo mercado, geralmente rende mais, sendo produtivo. O melhor a se fazer é construir uma política de contratos baseada em produtividade, o que comummente só é lembrado ou visto quando o jogador tem problemas, nos “contratos de risco”.

Todos os contratos deveriam ser de “risco”, e um exemplo de como esta lógica funciona é o sistema utilizado no Barcelona, onde 40% dos salários são baseados em produtividade e prêmios, e assim deve ser para todos os atletas, ocorrendo no médio prazo uma planificação dos contratos, uma norma. O atleta só receberá o salário “integral” se jogar a um determinado numero de partidas na temporada, não faltar a treinos, se disciplinar, produzir, vencer, e isso é suficiente para trazer motivação, e quem não estiver satisfeito, que saia e procure outro lugar para trabalhar, caso de Ibrahimovic, que não estava satisfeito em Barcelona e foi transferido para o Milan. Todos devem estar no “mesmo barco”. Quem valoriza a seus atletas vence, gastando menos no confronto entre produtividade e formação X contratações de impacto (cortinas de fumaça), sendo melhor melhorar a formação, as categorias de base do que fazer contratações que possam onerar orçamentos futuros, craque o Flamengo faz em casa, só não aproveita muito bem. Assim, com um plano de carreira para estes atletas, que querem sim sucesso, mas com estabilidade e tranquilidade para exercer sua profissão, com diretrizes claras, além de otimizar a produção, torna-se um a vitrine para outros atletas venham vestir a camisa do clube por motivos reais, com condições de trabalho decentes e valorização do ser humano que está ali. Contudo, a cobrança poderá ser maior e mais efetiva.

Novamente tendo o Barcelona como exemplo, posso assegurar que os contratos por produtividade são uma medida importante para o rendimento dos atletas dentro de campo, demonstro os números de Messi na temporada: hoje, 63 gols e 23 assistências em 52 jogos nesta temporada. Ele maximiza o exemplo porque joga a todas as partidas. A nova política estaria baseada em contratos com prazos longos; bônus por jogo e totalidade dos treinos, títulos, assistências e gols; produtividade individual e coletiva; plano de carreira e estabilidade, entre outros aspectos. Tudo isso não exclui as máximas do mercado e do futebol em si, de quanto melhor for o jogador, mais ele ganhará, mas o mesmo mercado pode se enganar, como é visto no livro Monneyball (também filme), devendo-se deve se observar ao mesmo, suas transferências e segredos. O importante é que tenhamos uma consciência clara de que muitas situações existentes podem ser modificadas, fundamentalmente se forem baseadas em uma clara política empresarial para o clube, e depois, uma consistente montagem do elenco e a contratação de quem irá comandar a ponta deste esquema, o treinador da sua equipe, assuntos estes que irei focar no próximo post.

Ubique, Flamengo!
Somos Flamengo, Vamos Flamengo!