domingo, 11 de março de 2012

2 ou 3 zagueiros?


O sistema com terceiro zagueiro tem origem na Europa e utiliza o Líbero, um misto de zagueiro e meio de campo que seria responsável pela saída de bola e por orientar o posicionamento dos dois jogadores da zaga. Esse jogador, dependendo das suas características de jogo, poderia se posicionar a frente da linha de zagueiros, como um primeiro volante ou atrás fazendo a sobra na marcação. O detalhe fundamental dessa posição é que ela deve sempre ser executada por jogadores inteligentes, com tranquilidade, noção de espaço, bom passe e principalmente visão de jogo. Grandes exemplos dessa posição seriam Beckembauer, Baresi e Matthäus. O sistema foi adotado na Seleção Brasileira que disputou a copa de 90 e Mauro Galvão ocupou a função do líbero, com o resultado trágico que todos conhecemos.

Desde então foi feita uma adaptação para que o sistema com três zagueiros funcionasse mesmo em times que não disponham de um jogador com a qualidade necessária a função de líbero. Dessa forma um terceiro zagueiro comum completava a linha de zaga permitindo que os laterais tivessem mais liberdade para atacar sem deixar um buraco nos flancos da defesa. O futebol brasileiro teve um pouco mais de sucesso com essa variação dos três zagueiros, utilizada principalmente no esquema 3-5-2, que tem como destaques o SPFC de Muricy Ramalho e a Seleção Brasileira, campeã da Copa de 2002. Aliando-se isso a péssima geração de treinadores brasileiros - sem nenhuma imaginação para concepção de esquemas táticos - que dominou o mercado da bola, tivemos muitos exemplos de times escalados com 3 zagueiros mais uma penca de volantes, priorizando defesas fortes e vitórias por placar mínimo.

Mas jogar com 3 zagueiros é sinônimo de retranca? Segundo o treinador do Barcelona, os zagueiros devem ser os jogadores mais técnicos do time para garantir a qualidade na saída de bola. Guiando-se por esse princípio, o time atual do Flamengo não poderia ser escalado com 3 zagueiros já que não temos sequer 2 bons jogadores para essa posição. Mas a escolha do sistema tático não deve considerar apenas a qualidade - ou falta dela, no nosso caso - dos jogadores da linha de zaga. A simples menção de jogar com 3 zagueiros remete ao sistema 3-5-2, o mais utilizado,mas normalmente se esquece o menos famoso 3-4-3, sistema muito mais ousado e difícil de encaixar. Nosso Flamengo vem jogando desde o ano passado com 3 atacantes, de modo que poderia funcionar nesse sistema com Jr. Cesar e Leo Moura na linha média ao lado de Muralha e Luiz Antonio. Assim aquele espaço gigantesco que costuma existir entre o trio de volantes e os 3 homens da frente seria ocupado e a marcação poderia ser feita já no campo do adversário, dificultando sua saída de bola. 

Essa semana vimos o Flamengo ir a campo no seu primeiro jogo em casa pela Libertadores escalado com Wellington, David Brás e Gonzalez formando a linha de defesa. Como contra-partida, dois volantes leves como Luiz Antonio e Muralha que se posicionam bem e sabem sair jogando, além de dar mais opções ofensivas. Na minha opinião, a princípio me parece um esquema menos defensivo do que o utilizado quando 2 zagueiros eram acompanhados pelo trio infernal Williams, Airton e Renato. Percebam que na escalação da última 4a feira tínhamos apenas 3 jogadores apenas defensivos contra 4 da escalação joel-luxemburguiana. A parte ruim é que para o time encaixar em um sistema completamente novo é fundamental a realização de vários treinos táticos com foco no posicionamento especialmente da defesa, algo bastante raro no Flamengo recente e ainda mais raro na era Joel. Mais ainda, esse sistema teria muitos problemas especialmente com o retorno de Williams, Airton e Renato Abreu além da entrada de reservas como Galhardo e Negueba, que não tem nenhuma capacidade de jogar no time do Flamengo. O elenco rubro-negro foi montado para funcionar no esquema concebido por Luxemburgo, sempre com os três volantes infernais. Infelizmente, as peças que hoje poderiam significar uma grande mudança de filosofia de jogo ainda são considerados reservas.

Para a Libertadores, competição de tiro curto e decidida em mata-mata, seria possível modificar o sistema de jogo com muito treino e fazendo uso do grande intervalo entre os jogos. Talvez pudéssemos aproveitar até alguns jogos do estadual - mas não todos, obviamente, para dar ritmo de jogo e entrosamento aos jogadores na implantação do novo sistema. Hoje, porém, a escalação do Flamengo para uma competição mais longa como o campeonato Brasileiro, onde ocorrem muitos desfalques por diversos motivos e onde é necessário ter um elenco grande e preparado para jogar, está amarrada ao sistema de jogo concebido por um treinador que nem está mais no clube. Novamente, fica evidente a necessidade de um trabalho coordenado entre comissão técnica e diretoria na montagem do elenco. É fundamental também que a diretoria mantenha o direcionamento técnico alinhado para que, mesmo com mudanças de treinador, o time possa ser escalado utilizando-se sempre as melhores peças disponíveis sem perder suas características básicas.

abs e SRN