segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Amadorismo, Teu Nome É Flamengo

Buon Giorno, Buteco! Novembro vai terminando e com ele, ao que parece, vão se esvaindo as esperanças rubro-negras em um ano que parecia tão promissor. Contratações bombásticas, uma delas a maior da história, a promessa de construção do CT, tudo parecia maravilhoso, para no final da temporada constatarmos que o planejamento, o projeto, é oco, vazio por dentro. Mais triste ainda do que essa constatação é vermos que a forma com que o clube trata cada um dos assuntos é assutadoramente amadora, visceralmente oposta ao profissionalismo, e por isso mesmo, se lembrarmos das cifras que giram pelo Departamento de Futebol nos últimos dois anos, há boas razões para temermos pelas consequências. Começemos, então, pelo time e o elenco.


Não é novidade para quem frequenta o Buteco que eu sustento, há tempos, a opinião de que o Ronaldinho Gaúcho só renderia frutos, tecnicamente, para o Flamengo se fosse utilizado ao lado de jogadores tecnicamente bons, inclusive os volantes, e que jogassem verticalmente, num time ofensivo. A grande vantagem desse modelo é que, acaso o Ronaldinho abusasse nas baladas, e tivesse que pegar um banco, por exemplo, ou mesmo sair da equipe, restaria um time jovem, técnico, ofensivo e vertical. Ora, qual é o técnico moderno e competente, de qualquer canto do mundo em que se jogue o velho esporte bretão, que não sonha com isso? Mas não é que, no Flamengo do Luxemburgo, ele fez o oposto? Criou o time mais lento da história do clube e deixou, atrás do Ronaldinho, três volantes incapazes de acertar um passe. Um deles, vejam só, é o centro do esquema tático e não sai do time nem por decreto! Não vou me alongar nesse ponto porque estamos todos exaustos de tanto debatê-lo dia a dia aqui no Buteco e também porque a partida de ontem foi mais uma prova cabal e dolorosa do que tanto debatemos.


O certo é que não precisaríamos ter chegado ao décimo primeiro mês do ano e à trigésima sétima rodada do campeonato brasileiro, com um elenco caríssimo, agora com chances reais de ficarmos fora da Libertadores/2012, se o Departamento de Futebol fosse chefiado por alguém com conhecimento sobre futebol profissional e com autoridade no assunto, tanto para questionar e cobrar o treinador, como para decidir e encaminhar a sua demissão, quando fosse o ponto - do qual há muito já se passou, diga-se de passagem. Mas não. No Flamengo da Presidente Patrícia Amorim, o profissional encarregado dessa função é, na verdade, um grande amador, que, indagado a respeito de qualquer assunto, tem a mesma resposta pronta na ponta da línga: "vou falar com o Luxa." Se o Luxa é quem deveria ser fiscalizado, então é fácil percebermos o tamanho do buraco no qual estamos. Amadorismo é pouco para definir esse estado de coisas.


Bem, isso já seria motivo suficiente para deixar qualquer um preocupado; porém, por mais incrível que possa parecer, a situação jurídica do Ronaldinho Gaúcho é ainda mais preocupante. Digo isso porque, ao contrário de outros boleiros que volta e meia habitam a Gávea desde os anos 80, como Renato Gaúcho, Romário e Adriano, por exemplo, o Ronaldinho Gaúcho, muito bem assessorado e um grande estrategista no mundo dos negócios, não falta treinos, é pontual e comparece a todos os compromissos como atleta de futebol profissional. Logo, puni-lo disciplinarmente não é tarefa simples, pois o fato de ele comparecer a festas e noitadas, a não ser que esteja expressamente previsto em cláusulas contratuais, em princípio não pode ser motivo de punição.


Por isso mesmo, quando leio que ele não recebe há mais de dois meses, ou seja, que vem cumprindo todos os seus compromissos sem receber um centavo de seus salários, e quando leio que a empresa que supostamente teria que custear a maior parte desses salários suspendeu o pagamento porque o Flamengo vendeu o principal patrocínio de sua camisa por via de uma empresa concorrente, eu confesso que temo muito pelo futuro.


Fico imaginando se o Ronaldinho Gaúcho sai do Flamengo alardeando pelos quatro cantos do mundo que o motivo foi falta de pagamento de salários. Para um clube que luta para desfazer no mercado a fama incrustrada de mau pagador, de quem não honra seus compromissos, qual seria o impacto de um fato como esse? Some-se isso ao fato da Traffic, a maior empresa de marketing esportivo do país, dizer-se traída no mercado, e calculem o tamanho do prejuízo.


Mas nada é tão ruim que não possa piorar: eu apenas advirto que, como volta e meia diz o Assis, homem de poucas mas significativas palavras, "o vínculo do Ronaldo é com o Flamengo". A Justiça do Trabalho, acaso chamada para julgar eventual litígio, também entenderá da mesmíssima forma. O Flamengo que se resolva com a Traffic, portanto. E isso certamente se dará na Justiça Comum, em outro processo, onde a Traffic terá direito a exercer a ampla defesa e poderá alegar tudo o que lhe aprouver, como por exemplo que o Flamengo assinou com uma concorrente e descumpriu o contrato que tinha com ela. Se ela terá êxito é outra conversa, mas certamente a resposta demorará. Já na Justiça do Trabalho o Ronaldinho teria seus direitos reconhecidos bem mais rapidamente, e em dobro, como diz a CLT...


Agora imaginem só: o cara vai para as baladas, não joga nada na reta final, mas de repente sai do clube credor de uma fábula. Profissionalismo? Creio que não, certo?


Entre as reportagens falando em dirigentes comendo amendoim enquanto executivos de empresas supostamente parceiras insatisfeitos e sem local para assistir à partida para a qual supostamente foram convidados e as medonhas atuações da equipe de futebol profissional, que já não marca gols há inacreditáveis 270 (duzentos e setenta) minutos, o time vai perdendo posições na tabela e as oportunidades para disputar as principais competições ano que vem.


Analisem todo esse panorama e me digam, com sinceridade, se ele se aproxima, remotamente, de um ambiente de futebol profissional.


Mais um 0x0


Conhecem a expressão popular "empata foda"? Pois é assim que eu defino esse time do Flamengo. É um tremendo "empata foda". Esse esquema tático do Luxemburgo, as suas substituições, as suas opções, os seus jogadores prediletos são autênticos castradores da felicidade da Nação Rubro-Negra.


Ontem o Flamengo foi envolvido por um adversário do tipo "Série B", repleto daqueles jogadores que povoarão as equipes que disputarão as posições intermediárias do campeonato carioca no ano que vem. O Atlético/GO demonstrou ter organização tática, toque de bola rápido e velocidade, características inexistentes no nosso time. Teve chances claras de gol e não venceu porque falhou miseravelmente nas finalizações. Em contrapartida, não me recordo de uma única defesa do goleiro goiano durante os noventa minutos, marca registrada do esquema de três volantes, aqui no Buteco apelidado de "losango do inferno", o qual foi adotado do início ao fim da partida de ontem.


No meio de campo, Willians e Renato Abreu se encarregaram de matar todos os contra-ataques possíveis do nosso time, o primeiro com passes errados em profusão, entregues a domicílio nos pés dos adversários, enquanto o segundo, quando não isolava a bola tentando decidir a partida sozinho com um dos seus arremates de fora da área, ditava o ritmo cadenciado e improdutivo da equipe, claro que também errando vários passes inacreditáveis. Por sinal, a "autoridade" com que Renato Abreu dita o ritmo do time impressiona. Cabeça erguida, parecendo um autêntico "maestro", em termos de pose faria o Ademir da Guia sentir inveja. Algum desavisado, quando o vê dominando a bola no meio de campo, deve imaginar que se trata de um Gérson Canhota de Ouro do Século XXI, mas só até vê-lo se desfazer da bola... No mesmo nível de ambos, embora por outro motivo, foi Leonardo Moura, cuja omissão deve ser registrada. Provavelmente deixou o campo sem uma gota de suor na camisa. Poderia sair do estádio e estrelar um comercial de desodorante.


Luxemburgo, nesta reta final de competição, parece querer se superar no quesito substituições incompreensíveis. No meio da mediocridade, Deivid era o jogador mais perigoso da equipe, além de ser o artilheiro do time no campeonato e o único atacante em campo. Só o Destreinador sabe por que o tirou deixando três volantes e precisando desesperadamente dos três pontos. Todos entendemos, porém, por que o time não acertou uma vez sequer o gol e por que não marca há duzentos e setenta minutos (!).


Ronaldinho foi mal, muito mal; lento e improdutivo, uma grande decepção nesta reta decisiva, ainda conseguiu ser melhor do que Thiago Neves, que errou tudo o que tentou. Thomaz não entrou bem, enquanto Diego Maurício foi melhor do que ele, tendo sofrido pênalti claríssimo não marcado pelo árbitro paulista (mais um).


Restam duas partidas e a vaga na Libertadores cada vez mais difícil, embora a vitória do Fluminense (quem diria?) nos tenha ajudado. O confronto com o Internacional se tornou uma decisão com a indesejável situação dos gaúchos estarem à frente da tabela, graças à sequência de três partidas sem vitória e sem gols marcados.


Após uma vitória por 5x1 sobre o Cruzeiro com futebol insinuante, o Destreinador mudou o esquema tático ao levar um baile em Curitiba, ao enfrentar uma equipe melhor armada, um dos destaques táticos do ano. Desde então a equipe não marca um gol sequer. Imagino que ele ainda ache que tomou a decisão correta, afinal de contas, auto-crítica não é o seu forte.


Teremos uma semana de grandes cobranças e tensão na Gávea, pelo jeito.


Repetiremos 2008?


Bom dia e SRN a todos.