segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Caindo a Ficha

Buon Giorno, Buteco! Os mais velhos devem se lembrar do tempo em que as ligações telefônicas feitas em telefones públicos se davam mediante o depósito de fichas. Era o tempo dos chamados "orelhões". Quem, dos que já viveram aquela época, já não passou a situação de aguardar ansiosamente pelo momento da ficha cair, de ouvir aquele barulho indicando que a ligação havia sido completada? Esse momento "mágico" (rsrsrsrsrsrsrs), tão importante, que marcava o início da comunicação entre dois pontos distantes via telefone, acabou tornando-se uma expressão coloquial para nos referirmos ao instante em que percebemos algo que nos deveria ser evidente, mas então não havia sido percebido. Mas o que isso tem mesmo a ver com o Flamengo?

Ao meu ver, para boa parte da torcida do Flamengo ainda está caindo ou por cair a ficha a respeito das severas limitações que possui esse time e o elenco. Convenhamos, vários são os pontos que justificam a ilusão: números históricos e avassaladores, a maior contratação de todos os tempos, outros reforços de altíssimo nível, a segunda colocação no campeonato brasileiro com chances de título, que ainda persistem, e o nível dos adversários, que, convenhamos, não chega a assustar.

Pois eu vou elencar os pontos que me preocupam e em relação aos quais, para mim, "a ficha caiu". Em relação a alguns deles não há como ter mudanças significativas, diante de fatores como o fechamento da janela europeia para contratações feitas por clubes brasileiros, por exemplo; mas o importane é que ainda há o que ser feito para melhorar com o elenco que temos e disputar esse título com dignidade até a última rodada. No meio dessa abordagem, exporei as minhas impressões a respeito da partida de ontem. Vamos lá então:

"Ronaldinhodependência" - hoje Ronaldinho é, digamos, sendo modesto, 70% (setenta por cento) desse time do Flamengo. Tirem os passes do Ronaldinho para gols, além dos gols por ele marcados, vejam o aproveitamento do time sem ele em campo, e calculem em que lugar o Flamengo estaria na tabela hoje. Acredito que, pelo gênio do futebol que ele é e pelo que vem jogando, que isso seja até certo ponto normal. O Flamengo do Zico não sentia quando o Galinho não jogava? E o Napoli do Maradona? Mas o ponto é que o Flamengo não produz coisa alguma sem o Ronaldinho. Pudera. Com o esquema adotado prioritariamente pelo Vanderlei Luxemburgo, especialmente com a formação contendo três volantes sem capacidade criativa alguma, as coisas são resolvidas por lampejos do Ronaldinho. O resto da partida transcorre de modo absolutamente modorrento, numa batalha ignóbil pelo meio de campo. Ao contrário, quando adota a variação ofensiva desse esquema tático, ou com os três volantes, mas que têm qualidade técnica, o próprio Ronaldinho produz mais, os números tão decantados para defender o trabalho de Vanderlei Luxemburgo ganham corpo, com muitos gols marcados, em grande volume e proporção, e outros jogadores conseguem também produzir, como Thiago Neves, Bottinelli e o centroavante da ocasião, seja ele quem for, além dos atacantes que acabam entrando no time, como Negueba ou Diego Maurício.

Ontem, no Beira-Rio, não foi diferente. Com dois dos volantes sem capacidade criativa, o Flamengo jogou um primeiro tempo truncado, mas igual, contra o Internacional, decidido por uma jogada individual, e genial, de Ronaldinho Gaúcho. "Só pra variar". E o Flamengo desceu para o intervalo vencendo por 1x0.

Mas veio o segundo tempo. O que será que aconteceu naquele segundo tempo, quando o Internacional conseguiu, com dez em campo, marcar dois gols, contra um do Flamengo? Permitam-me adentrar o segundo tópico dessa coluna.

O Trio de Volantes - não adianta. Vanderlei Luxemburgo cismou, decidiu que o Flamengo tem que jogar num sistema de "losango". Aírton à frente da zaga, Willians pela direita e Renato Abreu pela esquerda. Bem, em tese, quem disse que um esquema de lonsango não pode dar certo? Numa rápida viagem no tempo, se eu fosse o Telê Santana e fosse "obrigado", fixaria o Batista à frente da zaga, colocaria como "volantes" Paulo Roberto Falcão e Toninho Cerezo, e como meia chegando à frente eu colocaria o Zico. Será que daria errado? Rsrsrsrsrs. Na Copinha/2011, não deu certo um raio dum "pentágono"? Agora, falando sério, e voltando a 2011, a questão está nos jogadores que você usa, em que posição e frequência. Aí é que a coisa pega e o diabo mora nos detalhes.

Vanderlei Luxemburgo esse ano provou a todos nós que Renato Abreu joga o fino da bola quando, de PRIMEIRO volante, colado na zaga, pegando a primeira bola por ela rebatida, a distribui dando velocidade e qualidade ao jogo. Nessas partidas, o Flamengo atuou com apenas dois volantes e atuou com um esquema bem ofensivo. Quando é jogado para frente, seja como segundo volante ou como meia e encontra a sua frente menos espaço e a marcação do adversário, Renato Abreu perde toda a sua desenvoltura no passe, infelizmente. No esquema pelo qual desenvolveu uma tara pra lá de obsessiva, o tal do "losango", chamado pelo Patrick de "losango dos infernos", Vanderlei Luxemburgo quer porque quer que Renato Abreu marque como volante e ataque como apoiador.


No primeiro tempo da partida de ontem, Renato Abreu jogou o que tem jogado ultimamente pelo Flamengo, ou seja, um rame-rame burocrático típico do losango, mas ao menos marcou e esteve presente em campo. No segundo tempo, cansou e o Flamengo perdeu a sua vantagem advinda da expulsão de Guiñazu. O Internacional, com dez em campo, igualou a disputa pelo meio de campo, na medida em que Renato Abreu não conseguia marcar nem a sua própria sombra, o que sobrecarregou Willians e o jovem Muralha, que, por sinal, apresentou significativa subida de produção em relação ao jogo anterior, principalmente no aspecto ofensivo. Frequentemente o incansável e raçudo Júnior César avançava com velocidade pela esquerda e não encontrava ninguém para trocar bola, para aproveitar sua rapidez e ser lançado nos espaços vazios que a defesa do Internacional oferecia. Renato Abreu, lento e cansado, demorava uma eternidade para chegar ao ataque. Prova de que é no mínimo TORTO o losango de Luxemburgo.

Renato Abreu, no Flamengo de hoje, é erigido à categoria dos "insubstituíveis"; é "protegido" de Vanderlei Luxemburgo, que não admite não tê-lo em campo por sequer um minuto. Suas atuações, sob o aspecto técnico, com certeza não são levadas em conta, pois se até Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves já foram substituídos, o motivo que leva Renato Abreu a estar acima dos dois nesse quesito certamente não é técnico.

Zaga - aqui reside um dos problemas sem solução. É injusto chamar o Welinton de o Renato Abreu da zaga porque estaríamos valorizando apenas o aspecto da "proteção" que Vanderlei Luxemburgo lhe dispensa, quando Renato não é, nem de longe, tão atabalhoado, dispersivo e irresponsável. Welinton não marca pelo alto, não marca por baixo, como ficou claro nos dois gols do Internacional ontem no Beira-Rio: no primeiro, deixou Índio inteiramente a vontade para marcar o primeiro gol; depois, Andrezinho para cruzar no lance do segundo gol. Neste, é bom que se diga, Leonardo Moura revelou ser um apreciador dos gols de bicicleta ou ter medo de centroavante de porte avantajado, pois nem sequer chegou perto do grandalhão Leandro Damião.


Voltando ao Welinton, eu imagino que o Luxemburgo queira, ao lado de um zagueiro experiente, outro jovem e vigoroso. Ok. Quantos treinadores não optam por uma formação como essa? O problema é que esse outro zagueiro é o Welinton. E quem é o reserva do Welinton? O David Braz. Em que exatamente isso traz perspectivas de melhora? Não sei responder, sinceramente, mas chego a duas conclusões: a) que péssimo trabalho fez Luxemburgo na montagem do elenco nessa parte (zaga), não é, amigos? b) está na hora de tentar Alex Silva ao lado de Ronaldo Angelim. Preocupados com a idade de Angelim? Eu tenho uma sugestão: por que não tentamos reduzir a media de idade do time tirando o veterano do losango? Se Renato Abreu passasse uma temporada no banco, os volantes reservas, mais jovens e vigorosos, dariam melhor proteção à zaga, e a Angelim e Alex Silva. Que tal, hein, Luxemburgo? O que lhe parece?

Ataque - amigos, no ataque a coisa está sinistra. O titular absoluto do Inacreditável F.C., a cada dia mais absoluto na posição, outro protegido do nosso treinador, que nele deposita toda sua confiança, tem como reserva o destemido Jael, o Cruel, que ontem mais uma vez deu amostras de que não sentirá o peso do Manto Sagrado. Faço votos de que assim seja; contudo, eu aguardarei para dar o meu veredito final quando ele perder o seu primeiro gol feito (coisa que todo o centroavante faz) e quando sentir aquela massa rubro-negra impaciente, aflita, cáustica, fazer o primeiro uuuuuuuuuhhhhhhh... em seus ouvidos, para ter bem certeza disso. Nesse meio tempo, eu vou torcer muito por ele e dividir com os amigos minha angústia: a janela para transferências internacionais fechou e não temos mais quem trazer para a posição; hoje, temos um cara que sai do banco, entra pilhado e tem resolvido; se o queimarmos, quem sobrará?

Mas penso que a hora é de Jael. Pode ser cruel, porém, vermos que em breve teremos que recorrer a Thomaz, Lucas ou Nixon...

Perspectivas - Negueba é outro que voltará com maior responsabilidade do que quando saiu, pois, afinal de contas, com a contusão de Thiago Neves, por enquanto sem prazo para voltar, ele e Diego Maurício serão nossas opções, como pratas-da-casa, para a posição de atacante que cai pelos lados criando situações de gol.


Acredito que seja o momento de utilizar jogadores como Galhardo, Luiz Antonio, Muralha, Diego Maurício e Negueba. Tenho fé de que está neles o combustível que precisamos para manter o Flamengo na luta pelo título e, sobretudo, oxigenar esse esquema tático, alterando seus protagonistas e tornando-o mais vivo e apto para criar e converter em gol as situações criadas.

É ilusão achar que o Flamengo pode conquistar o título com um futebol chato, modorrento e sem criatividade até o final do segundo turno. Isso já deu o que tinha que dar. É crime de lesa-pátria e irresponsabilidade achar que o título será conquistado com jogos embolados e com o Ronaldinho Gaúcho decidindo todos eles, um a um, nos dez minutos finais com lampejos de gênio. Maior irresponsabilidade ainda é manter-se preso, apegado a essa filosofia tacanha por fidelidade a jogadores que não se mostram capazes de levar o Flamengo à conquista de seus objetivos.

Alguns deles, é certo, merecem todas as nossas homenagens, inclusive por seu passado no próprio clube, e podem, sim, ser utilizados nessa campanha; contudo, é uma traição com sua própria história e irresponsabilidade com o que está em disputa o esquema de proteção colocado em prática por Vanderlei Luxemburgo.

Bom dia e SRN a todos.