quarta-feira, 27 de julho de 2011

O cartão amarelo, mas de vergonha

Creio que seja fato "transitado em julgado" que "n" erros não fazem um acerto, nem se somados e multiplicados forem entre si. Em consequência, não há por que se falar em uma ação errada para justificar outra igual ou mais ou menos errônea ainda, independente da relevância e do local onde cada qual foi realizada, como e porque foi executada. O bom senso indica abster-se de tentar explicar tais procedimentos quando cometidos, já que "explica mas não justifica" segundo a sabedoria popular.

Logo, igualmente é fato que Thiago Neves pisou na bola ao confessar, publicamente, a sua deliberada intenção e a do Ronaldinho (inocentado ontem pelo companheiro) em forçarem o recebimento do 3º cartão amarelo no jogo contra o Palmeiras, a fim de serem suspensos e ficarem fora do jogo de sábado à noite contra o Ceará, em Macaé. A princípio, por levarem em consideração que os jogos seguintes seriam mais difíceis, logo, cumpririam a punição automática contra um adversário supostamente mais fraco. Aceitarei essa explicação como possível, embora não deixe de levar em conta que existem mais eventos tentadores entre um sábado à noite e uma manhã de domingo em RJ city do que sonha a nossa vã filosofia, parafraseando o filósofo grego.

É fato também que essas artimanhas são rotineiras no futebol de todos os níveis e séries de A a Z, passando pela B, C e D do Campeonato Brasileiro, na Sul-Americana, na Libertadores, na Copa do Mundo e até no volei, com mais gravidade recentemente, aconteceu em jogo do time do sério Bernardinho que, convenientemente, perdeu jogando com os reservas a fim de pegar um adversário mais fraco na fase seguinte, em um torneio de visibilidade mundial realizado na Itália.

E não deixa de ser fato para ninguém que a hipocrisia grassa neste país, do Oiapoque ao Chuí, do Acre a Paraíba, ponto mais Leste do nosso imenso território, e graças a ela faltou pouco para os dois jogadores do Flamengo serem esquartejados em praça pública, com direito a serem pendurados em postes como maus exemplos da moral e dos bons costumes da família brasileira, atributos vilependiados pelos atletas que agiram com o regulamento do jogo na mão de acordo com depoimento do Thiago Neves, o inocente do mês.

Só não é fato a santidade com a qual muitos críticos se revestiram no aproveitamento do caso para oportuno aumento de suas audiências. Menos, menos, pessoal. Ouvi numa emissora de rádio que sob o comando de outros técnicos os dois jogadores dificilmente cometeriam tal insentatez, treinadores que jamais permitiriam tal afronta à educação esportiva. Como é que é mesmo, caras-pálidas, ouvi direito? É para rir ou para chorar?

Os caras de pau, especificamente os que usam uma imaginária auréola sobre suas cabeças, bem que poderiam combinar em botar a bola no chão encarando a realidade que norteia esse jogo de bola como ela é, divulgando a rotina como na verdade se desenrola e formando a opinião do distinto público com os fatos e as pessoas como realmente são e não da forma como em tese deveriam ser para a pureza do ambiente predominante nos bastidores de uma partida de futebol. Estou me referindo ao "são" do verbo ser e não ao "São" dos santos consagrados pela igreja, simplesmente porque estes não fazem parte desse universo esportivo em que vivemos, no qual os mais bobos escrevendo numa redação de jornal, chutando uma bola dentro de um campo ou com um microfone de uma emissora de rádio ou TV na mão esbanjam santidade na medida e no tamanho de suas conveniências e preferências.


Thiago Neves terá, hoje à noite, contra o Santos uma ótima oportunidade para mostrar que sua estratégia amplamente divulgada, e que começou dando errada contra o Ceará, pode ter uma sequência correta na Vila famosa, com uma importante vitória que amenize as consequências do rotineiro raciocínio utilizado por quase todos na administração de uma campanha dentro de uma competição e, no seu caso, confessado com o mais puro estilo de "falso esperto", aos quatro ventos e aos quatro cantos do país, dando chance às pauladas recebidas.

E que Vanderlei Luxemburgo escale o time com o espírito dominante para vencer o Santos dentro de seus domínios, obedecendo à filosofia de que jogar pra frente não dói, pelo contrário, é até prazeroso, sendo o caminho mais fácil para levar o Flamengo a uma vitória.

Gol neles, Mengão!

SRN!