quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mais Uma Saga da Minoria Rubronegra

Saudações rubronegras caros butequeiros. Graças ao espaço gentilmente aberto pelo Rocco e pelo Gustavo, com a devida licença de todos, vou entrando no sapatinho vermelho e preto e na humildade vou soltando minha prosa por aqui. Espero que apreciem sem moderação.


Rodrigo Romeiro

Ser minoria não é algo comum à torcida rubronegra, pois somos e gostamos de ser os maiores. O mais querido, o maior campeão brasileiro e carioca, a maior torcida, o maior do mundo (o Maraca) é nosso e por aí vai. Ser o maior é da essência flamenguista; existimos para tanto. Porém, como o único time verdadeiramente nacional, nem sempre estamos em maioria. Para quem é rubronegro e paulista, ou de alguns outros poucos estados e cidades do país, ser rubronegro é na maioria das vezes estar em minoria. Minoria em quantidade, pois em representatividade e força, nunca deixamos de ser maioria absoluta.

A arquibancada rubronegra em Sampa é extremamente plural e das mais bonitas de se ver. Nela está uma amostra quase perfeita do que é a torcida rubronegra. Nordestinos, nortistas, mineiros, cariocas, candangos, goianos, paulistas, pantaneiros e outros tantos irmãos brasileiros que aqui estão em busca de melhores oportunidades de vida e de trabalho. Podem ter certeza, caros butequeiros, que pelas belezas naturais da terra da garoa e pela hospitalidade do povo paulistano é que ninguém veio ou ficou.

Ontem à noite éramos, mais uma vez, a minoria. Mas naquele pequeno espaço do aconchegante Pacaembu, acomodava-se uma nação inteira. Estavam ali muito bem representadas, como poucas vezes é possível ver, não só a nação rubronegra, como também a brasileira. Arrisco a dizer que não faltou representante natural de um estado sequer. Rubronegros de todo o Brasil, com todos os sotaques e com um sentimento maior do que todos os bairrismos, xenofobias, preconceitos e intolerâncias: a paixão pelo Mengão.

Gosto de ver o Mengão colocar a porcada no rolete. Os porcos têm, em uma parcela da sua torcida, os torcedores mais bairristas de São Paulo e os que mais se incomodam com essa nacionalidade e diversidade rubronegra. Daí, dentre os paulistas, minha predileção por vitórias sobre eles. Confesso que nesse aspecto da vida tive muita sorte; até o jogo de ontem não tinha visto um mísero empate contra a porcada em estádios paulistanos. Não fui a muitos jogos, mas o cartel era considerável; três jogos e três vitórias.

Não esqueço do meu saudoso pai, contrariado, levando-me ao Parque Antártica para sermos imprensados pela polícia contra a grade e vermos o Gottardo subir no terceiro andar para marcar o gol que daria início à nossa arrancada para o título brasileiro de 1992.

Recordo muito bem de esperarmos a aula da manhã terminar na faculdade em Campinas, nos amontoarmos em seis em um Uno, chegarmos a São Paulo sem ingresso nas mãos, comprarmos de um cambista após muita labuta e vermos o Mengão sacolejar a porcada com um gol do Sávio pela semifinal da Copa do Brasil de 1997.

Lembro, como se fosse hoje, de ir ao casamento de um grande amigo em Campinas, virar a noite na festa com muito uísque e cerveja, sair da festa direto para a rodoviária, chegar ao Parque Antártica em meio a uma batalha campal entre a Mancha e a Jovem, ver o Pet fazer um jogo magistral e assistir o momento que deu início à arrancada ao hexacampeonato.

De todas as sagas da minoria guerrilheira rubronegra em estádios paulistanos fazem parte histórias de violência policial, briga entre torcidas, dificuldades para conseguir ingressos, provocações na imprensa e muitas vitórias inesquecíveis. A partida de ontem também teve a sua história extra-campo. Em decorrência da novela Kleber, o capítulo de ontem transformou-se para a porcada em uma batalha pela honra. O jogo que já era difícil tornou-se ainda mais complicado.

Fui ao jogo de ontem e tenho a impressão de que o clima de fora contaminou o ambiente dentro do campo. Foi um jogo tenso, truncado e duro de assistir. O Flamengo é um time com muito mais qualidade técnica do que o Palmeiras, mas não tão bem organizado como o adversário. A lentidão de alguns jogadores rubronegros praticamente tirou nossas chances de vitória. Contra um time que marca tão forte como o Palmeiras e que diminuiu tanto os espaços, são necessárias peças no meio de campo que se movimentem mais do que o Renato, por exemplo.

Mesmo com a bola nos pés era muito difícil penetrar na defesa adversária. O Thiago Neves foi o nosso termômetro ofensivo; quando ele melhorava o time começava a criar e a chegar. Ronaldinho não repetiu a atuação dos últimos jogos, fez algumas jogadas de efeito, cobrou boas faltas, mas não foi nada produtivo. O fator mais positivo, sem dúvidas, foi a atuação da defesa, que esteve segura nas bolas áreas e tirando alguns erros em saídas de bola, foi muito bem.

No aspecto moral o resultado não foi ruim, porque mantivemos a invencibilidade e tiramos dois pontos de um adversário direto pelo título. Mas pela conjuntura do campeonato e principalmente por causa da vitória da gambazada, o empate foi um resultado que nos deixou ainda mais distantes do líder.

Pelas últimas linhas, caros butequeiros, não fica difícil perceber a frustração de quem esperava manter a escrita e contar a saga de mais uma inesquecível vitória rubronegra. Mesmo assim, mantenho inabalável a fé de que essa será uma página da história de mais um título rubronegro. A minoria guerrilheira rubronegra dessa vez saiu com um brioso empate e, o mais importante, não perdeu a certeza de que a maior das vitórias é fazer parte da maior e mais feliz nação do mundo.

Rodrigo Romeiro e o novo colunista das Quintas-Feiras.