sexta-feira, 10 de junho de 2011

DIDA

Nesta última semana, durante nossas acaloradas discussões aqui no Buteco, falamos rapidamente de Dida, um nome histórico nas tradições rubro-negras, artilheiro de 264 gols no período de 1954 a 1963. Pensei em aproveitar o período das despedidas (Pet, R9 e Palocci) e fazer uma homenagem ao craque alagoano, dedicando a homenagem ao pai do nosso colega butequiano Gustavo, espectador privilegiado da história, já que deve ter conseguido ver ao vivo esta lenda rubro-negra, de quem era fã. Confesso que não é muito fácil escrever sobre um personagem que não vi em campo, pois tudo consegui foi dados na internet e na minha razoável coleção de livros sobre a história do Flamengo. Espero que os amigos apreciem a oportunidade de conhecer mais um pouco sobre este fantástico jogador, maior artilheiro da nossa história até ser superado por ELE, Zico. Aliás, outro que declarou várias vezes que seu ídolo era o Dida.

O nosso Dida se chamava, na verdade, Edivaldo Alves de Santa Rosa, nasceu em Maceió em março de 1934, tendo vivido até setembro de 2002. Na sua descoberta, o primeiro conflito biográfico. Apesar de todos os sites afirmarem que ele foi descoberto por uma equipe de vôlei do Flamengo que o descobriu em uma excursão, Arturo Vaqueiro, autor do livro “Acima de tudo rubro-negro”, declara que a descoberta se deu pela equipe de basquete do time, e não pela de vôlei. Dada a predominância do basquete sobre o vôlei no século passado, tendo a acreditar que Vaqueiro deve estar certo, pois não consigo imaginar um time de vôlei excursionando pelo Brasil em 1953. O fato é que Dida, jogando pela seleção alagoana, deslumbrou os atletas rubro-negros e em breve estava na Gávea para treinar entre os profissionais. Franzino, treinou e jogou entre os aspirantes até que assumiu o seu lugar nos profissionais, a tempo de completar o terceiro tricampeonato estadual, de 1955, mas que só foi decidido no início de abril de 1956. Sobre o jogo final, a narração que encontrei neste livro é empolgante. O campeonato estadual de 1955 se desenrolou em 3 turnos, tendo o Flamengo vencido os dois primeiros, e que poderia ter terminado em março se o Flamengo tivesse ganho do Vasco no último jogo. Com a derrota, foi preciso decidir o terceiro turno contra o América, vencendo o primeiro jogo por um a zero e levando inacreditáveis 5 a 1 no segundo jogo. Pois foi nesse terceiro jogo decisivo que Dida conquistou de vez seu espaço no time, de onde só saiu em 1963, vendido para a Portuguesa de Desportos. Tempo bom em que os ídolos do clube tinham tempo para serem cultuados e adorados pela sua torcida, e os times não se formavam e se desmanchavam em apenas um semestre de bola. O jogo decisivo tem uma outra particularidade que merece ser contada para que os mais novos possam conhecer um pouco mais da nossa história. Em 16 de novembro de 1955 morreu um dos maiores presidentes de nossa história, Gilberto Cardoso. Diz a lenda que o Flamengo disputava a final do Campeonato Carioca de Basquete, e perdia por um ponto apenas para o Syrio Libanês, quando Guguta faz uma cesta final e decreta a conquista do Pentacampeonato Estadual de Basquete. Na comemoração, os jogadores estranham a ausência do seu presidente, que estava no banco antes, sofrendo e vibrando, como era tradição. Gilberto Cardoso havia se sentido mal minutos antes, pegou seu carro para ir ao hospital, mas não conseguindo dirigir, trocou por um táxi, mas já chegou morto no hospital. Tragédia enorme para a torcida e atletas, Gilberto Cardoso seria homenageado nesse jogo final do terceiro tri, com os jogadores entrando em campo com calções negros, pelo que entendi, pela primeira vez. Confesso que minha antipatia pelos calções negros diminuirá depois de saber deste incidente histórico. Depois do jogo os jogadores ainda foram ao Cemitério João Batista completar a homenagem ao seu inesquecível presidente.

Mas voltando ao jogo decisivo, aos 15 minutos Dida abre o placar. Aos 44 m, novo gol de Dida. Aos 18 do segunto tempo, Dida faz 3 a zero, embora o juiz tenha assinalado gol de Duca. Aos 33 o América diminui e aos 44 Dida faz o seu quarto gol e decreta o Tri-Tri do Mengão.

Imaginem a festa da torcida ! Foi mais um dia em que o Rio se vestiu de rubronegro !

Dida iniciava assim uma história marcada por muitos gols. Resumo rápido, sem o qual a biografia não lhe faria justiça : 1954 (3 jogos e 1 gol); 1955 (17 j, 16 gols); 1956 (23 j, 24 g); 1957 (46 j, 34 g); 1958 (39 j, 33 g); 1959 (59 j, 46 g); 1960 (29 j, 16 g); 1961 (44 j, 28 g); 1962 (60 j, 43 g) e 1963 (37 j, 23 g).

O ataque do Flamengo, à época, era chamado de Rolo Compressor, e era formado por Joel, Duca, Evaristo, Dida e Zagallo. Um dia, quem sabe possamos trazer mais destes outros craques, alguns já bem conhecidos do torcedor flamengo.

Nosso bravo Dida foi também campeão mundial de 1958, tendo perdido a titularidade para ... Pelé ! Aliás, preceder os maiores craques que o mundo da bola era sua sina, tanto na seleção como no Flamengo, onde perdeu a condição de maior artilheiro da história do Flamengo para...Zico !

Um dos maiores problemas para quem escreve em blogs é o controle do espaço. Acredito que só a história de Dida ocuparia páginas e páginas, criando uma obra difícil de ser lida neste ambiente. O relativo pouco texto no entanto, não deve significar menor respeito ou a diminuição do seu papel na história do Flamengo. Optei por não contar, por exemplo, suas dificuldades familiares e de vida, nem detalhes do período em que, depois de sair do Flamengo, Dida voltou ao clube para trabalhar nas divisões de base. Imaginem o que significou para tantas gerações de flamenguistas a figura de Dida. A eles, um pequena inveja de não ter visto o que viram, e o nosso respeito final pelo apoio que deram e pela paixão que dedicaram ao mais querido naquela época. SRN.