terça-feira, 25 de maio de 2010

Carência de ídolos

Nesses últimos dias, fomos pegos de surpresa com a notícia de que Adriano está de partida para o exterior. E assim, a torcida se dividiu em dois grupos : aqueles que já choram a saída do craque, torcendo para que haja uma reviravolta nas negociações e ele resolva ficar e aqueles que dizem que a hora dele chegou e ele tem que partir.

Ontem, conversando com um paciente, ele, do alto dos seus 12 anos de idade, falou que Adriano não podia sair. Que Adriano era o craque, o ídolo do time, aquele que saiu do Flamengo por baixo, voltou em grande estilo, consagrado mundialmente como o Imperador e ajudou a conquistar um título que, antes dele (meu paciente) nascer, o Flamengo já perseguia.

Eu entendo esse ponto de vista, mas não concordo. Eu sou uma torcedora romântica. Gosto quando o jogador tem uma identificação muito grande com o clube, quando o ídolo encerra sua carreira no clube que o projetou ou no clube que o tem como ídolo, enfim, coisas desse tipo que, no futebol de hoje, é meio raro. Admito que vejo os jogadores da nossa base como uma espécie de “nossos filhos” e torço pra que todos se tornem jogadores consagrados. Logo, sempre torci muito pro Adriano. Eu estava no Maracanã, no jogo em que ele levou uma vaia gigantesca e a torcida pediu pra que ele fosse vendido. E eis que, quase 10 anos depois, ele volta, de cabeça erguida, para a sua casa, para seus súditos e se torna um dos principais responsáveis pela conquista do hexa. Fiquei orgulhosa do nosso filho, do nosso garoto. Mas, nesse ano, ele tem deixado muito a desejar em seu comportamento. São faltas a treinos, a jogos, dor lombar aqui, dor não sei onde ali, briga com a mãe, escândalo com namorada, baile funk aqui e acolá, festinhas íntimas na sua casa, enfim, várias atitudes que não condizem com a vida que um atleta deveria levar. Isso, sem falar na tal bolha do ano passado.

Por causa de todas essas atitudes anti-profissionais, acho que está na hora dele voltar para o exterior. E confesso que achava que a grande maioria da torcida iria pensar o mesmo, mas, pra minha surpresa, vejo que muitos defendem a permanência dele, apesar de tudo. Seria porque, há anos, não temos um ídolo de fato? O Flamengo é um clube carente de ídolos mais recentes. Esse meu mesmo paciente tem como ídolos Fábio Luciano e Obina, além do Adriano.

A história do Flamengo é cheia de cracaços e ídolos. Alguns são unanimidades, outros nem tanto. Temos nomes como Zico, Júnior, Leandro, Andrade, Adílio, Rondinelli, Domingos da Guia, Zizinho, Dida, Carlinhos Violino, entre outros. Esses seriam os incontestáveis. Depois, vem aqueles que são ídolos para uns, mas contestados por outros. São os casos de Bebeto, Romário, Renato Gaúcho, Sávio, Athirson, Felipe, Renato Abreu, Júlio César, Juan, Gamarra, Pet, Adriano, Obina, Fábio Luciano. Como vimos, o último grande ídolo, daqueles incostestáveis, acima de tudo e todos, do bem e do mal, foi Júnior, que jogou na década de 90. A garotada mais nova não teve a chance de vê-lo então, se apegam a um Adriano, a um Obina, a um Fábio Luciano. Talvez, por isso, esse apoio ao Adriano, além, é claro, da história bonita de voltar para o Flamengo, perder dinheiro pra isso e tudo que já sabemos.

Até mesmo eu, nessa falta de ídolos, acabei elegendo Ronaldo Angelim como o ídolo da atualidade pelo fato do cara ter participado das conquistas mais recentes como o penta-tri, Copa do Brasil e o hexa. Além disso, ele tem uma humildade fora dos padrões do mundo futebolístico moderno, além do caráter e do profissionalismo. Não é de chegar atrasado aos treinamentos, muito menos de faltar, não se mete em escândalos e não aparece nas páginas policiais ou de fofocas. Mas, reconheço que, tecnicamente falando, é bem menos decisivo que Adriano.

E aí? Quem é o seu ídolo?

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Mudando rapidinho de assunto... No último jogo, contra o Grêmio Prudente, Rogério promoveu a estreia de Diego Maurício na equipe principal do Flamengo. Não tive como não me emocionar com o garoto e com a família dele. É mais um menino que vem de uma comunidade carente, que vive com pouco dinheiro, mas que está ali, tentando seu lugar ao sol. Desde já, estou na torcida por ele.