segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Hora da Onça Beber Água




Chegou a hora da onça beber água. Se um empate já dificultará bastante a classificação para as oitavas-de-final da Taça Libertadores da América, uma derrota na quarta-feira reduzirá dramaticamente as nossas chances de classificação. E isso ocorre porque, devido à tragédia de gripe suína que assolou o México ano passado, o Chivas e o San Luis, ambos mexicanos, que se retiraram da competição de 2009 porque foram proibidos de mandar seus jogos das oitavas-de-final em casa, tiveram asseguradas as mesmas posições do ano passado na competição desse ano na mesma fase de oitavas-de-final. Assim, o quarto melhor colocado da fase de grupos enfrentará o Chivas Guadalajara e o terceiro melhor colocado enfrentará o San Luis, o que levará a, excepcionalmente, os dois segundos colocados de pior rendimento na segunda fase (fase de grupos) serem eliminados e não passarem para as oitavas.
Vencendo as duas partidas que lhe restam, o Flamengo chegará a 13 (treze) pontos e, assim, não terá dificuldades em se classificar. Essas partidas serão contra a Universidad Católica, no Chile, na quarta-feira, e contra o Caracas no Maracanã dia 21 de abril (quarta-feira da semana que vem). Já com um empate e uma vitória, chegaria a 11 (onze) pontos e, mantendo um bom saldo de gols, teria boas chances de classificação, embora não garanta nada. Já com uma derrota e uma vitória, somando 10 (dez) pontos, já ficaria bem mais difícil. Não farei contas com menos do que 10 (dez) pontos, caso de um ou dois empates, porque seria perda de tempo.
É bem verdade que o Universidad de Chile também terá dois jogos decisivos e teoricamente mais difíceis do que os nossos, isso porque enfrentará o Caracas, na terça-feira, na Venezuela, e dia 21 o Universidad Católica em um clássico regional, sempre difícil, sempre dramático, sempre com a rivalidade acima de qualquer outra coisa.
Independentemente do resultado do jogo de amanhã, o Flamengo tem que ganhar na quarta-feira, pois, em caso de derrota ou mesmo de empate, a classificação em primeiro lugar na chave ficará seriamente ameaçada.
Então, amigos, chegou a hora da onça beber água. Será na quarta-feira que separaremos os homens dos meninos? Aqueles que estão comprometidos com o projeto da Libertadores e o sonho aguardado por quase trinta anos pela maior torcida do mundo?
E é o que importa nesse ano de 2010, não é? Ou alguém ficará satisfeito com a conquista do "inédito tetra"? Do oitavo título estadual em doze anos?
Eu não!
A questão é que as últimas exibições da equipe, especialmente fora de casa, e especificamente aquela no Chile, proíbem o otimismo exagerado de nossa parte.
Para não dizerem que não falei das flores...
Que time escalar na quarta-feira? Falando muito sério, amigos, a exibição de domingo não foi nada animadora. Ganhar do Vasco em jogos decisivos não é algo que possamos levar a sério, convenhamos. E o time não jogou bem; o nosso meio de campo simplesmente não existiu; foi bem esquisito.
No primeiro tempo, o Vasco teve em torno de 60% (sessenta por cento) de posse de bola, cedeu um monte de espaços e só conseguimos fazer um gol e ter mais duas chances concretas.
No segundo tempo, o Andrade plantou o Michael na ponta esquerda e o meio ficou sem ninguém! Vimos o Toró ocupar os ainda existentes e escancarados espaços gentilmente cedidos pela defesa vascaína nos contra-ataques e, por favor, poupem-me de descrever os detalhes sórdidos... Quem não viu não perdeu nada!
O time da Universidad Católica joga parecido com o Universidad de Chile, porém sem o mesno nível de competitividade e sem a mesma eficiência defensiva, como mostra a sua campanha no Grupo 8 da Libertadores, onde perdeu para o Flamengo fora de casa e empatou com o Caracas duas vezes.
Hoje, no campeonato chileno, enquanto o Universidad de Chile é o primeiro com vinte e dois pontos em nove jogos e saldo de treze gols, o Católica está em quarto com dezessete pontos em dez jogos e saldo de sete gols.
Contudo, pode-se dizer (e eu testemunhei, por exemplo a forma com que eliminaram o argentino Colón na primeira fase, aqui chamada de "Pré-Libertadores") que é um time ofensivo e joga com a bola no chão, na base do toque e dos passes rápidos e objetivos, tal como faz o compatriota contra o qual fizemos um pontinho em seis disputados (Deus, como dói escrever isso).
Se jogarmos com o time de domingo, que mal conseguiu ter a posse da bola, seremos muito, muito, muito pressionados. E aí as chances de vitória se reduzirão.
Hoje vem a notícia de que o nosso Imperador das Pantufas de Ouro talvez não jogue também na quarta-feira, por conta de sua gravíssima lombalgia. Vou especular, então, sobre um time sem o Adriano na partida mais importante do ano até aqui.
O Andrade declarou após o jogo de domingo que aquela formação, com o Adriano no lugar do Mezenga, era a ideal. Eu fiquei apavorado, para dizer o mínimo, ao ouvir isso, pelo que vi no domingo. Acredito que o mesmo ocorra com a maioria de vocês.
O nosso amigo Patrick defende uma escalação com os jogadores mais experientes; eu concordo mas acho que não dá para jogar com o fantasmagórico, espectral e ectoplásmico Kleberson ao lado do "Velhinho Gringo" e mais dois atacantes, além do Maldonado ainda recuperando a sua forma. Além do mais, agora, sem o Adriano, as coisas mudam bastante de figura.
Diante desse quadro, sem o Adriano, eu iria de Bruno, Leo Moura, Álvaro, Angelim e Juan; Toró, Maldonado, Fierro, Michael e Petkovic; Vagner Love.
Nessa formação, Fierro e Michael jogariam abertos fariam o vai-e-vém para ajudar os laterais na defesa e fazer o "overlapping". Do Petkovic eu espero o poder de decisão em jogos decisivos, vindo do talento e da experiência. No segundo tempo, com o natural e previsível cansaço do Petkovic, deslocaria o Michael para o meio e abriria o Vinícius Pacheco na ponta esquerda, onde ele rende melhor. É um esquema muito parecido com o de 1992, se vocês repararem bem e os mais velhos puxarem pela memória. O bom desse esquema é que ele oferece poucos espaços ofensivos, desde que haja aplicação tática por parte dos jogadores.
Acaso o Toró ficasse na iminência de ser expulso, algo também natural e previsível, e o Fierro também cansasse por não jogar uma partida inteira há muito tempo, as substituições que faria seriam, no primeiro caso, a entrada do Fabrício, passando o Angelim a jogar na sobra, como terceiro zagueiro, e o Willians no lugar do chileno.
É isso, mas, convenhamos, não adianta sonhar porque provavelmente veremos, na quarta-feira, o time que começou o jogo no domingo.
Vai ser barra, vai ser muito duro de assistir; mas eu espero mais entrega e maior comprometimento do que domingo; mais vibração, sobretudo. Eu quero ver onze guerreiros em campo no Chile na quarta-feira.
É a hora da onça beber água; o momento de separar os homens dos moleques.
Não joguem a toalha. Vamos acreditar até o fim.
Fiquem com Deus e SRN a todos.