segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Dia em que Deus se despediu do Flamengo

6 de fevereiro de 1990
C.R. Flamengo 2 x 2 World Cup Masters
Amistoso06/02 - Estadio: Maracanã - Rio de JaneiroTime do 1º tempo (Flamengo de 1981): Raul(Cantarele), Nei Dias, Leandro, Marinho, Júnior, Andrade, Tita, Adilio, Zico, Nunes e Lico.Time do 2º tempo (Flamengo atual 1990): Zé Carlos, Leandro(Júnior Baiano), Fernando, Júnior(Luís Carlos), Leonardo, Renato, Edu, Ailton, Zico, Bujica e Zinho.Gols: Fernando e Leonardo, no segundo tempo - (Obs.: No 1º tempo o jogo foi 0 x 0 ).
Obs: Jogo de Despedida de Zico do Futebol.
Meus queridos amigos do Buteco, numa segunda-feira pós estreia no estadual com uma vitória de um time misto com mais reservas do que titulares, resolvi compartilhar com vocês, neste post, uma experiência inesquecível que vivi em 6 de fevereiro de 1990.
Naquela terça-feira, meu primo Rodrigo estava internado no hospital vitimado por uma apendicite. Queria desesperadamente uma companhia para ir ao estádio e, vejam só, consegui convencer minha prima Priscila, irmã do Rodrigo, torcedora do Fluminense (hahahahahaha), a abandonar o irmão no hospital e ver DEUS se despedir do futebol brasileiro e do Mais Querido DO MUNDO.
Naquele período, o Flamengo estava se sagrando campeão da Taça São Paulo de Juniores com a geração maravilhosa de Djalminha, Marcelinho e Cia., tão mal aproveitada. Mas naquela terça-feira, nada poderia ser mais importante do que a despedida do Zico.
Aos mais jovens
Tenho aqui que abrir um parêntesis para explicar aos mais novos o que foi o Zico. O Zico, amigos, bem, pensem no que foi o Raí para o São Paulo; no que foi o Robinho para o Santos; no que foi o Ronaldinho Gaúcho para o Barcelona. Agora, multipliquem isso por 160.000³ e você terão uma vaga ideia do que foi o Zico para o Flamengo.
Entendam uma coisa: todo time tem sua época de vacas magras. O Internacional, por exemplo, amargou entre 1979 e 2006 um jejum de títulos grandes, até que se sagrou campeão da Libertadores e Mundial. O Inter, antes disso, era um time pequeno? Não, claro que não.
O Palmeiras, entre 1974 e 1993, não ganhou um título expressivo, mas nem por isso deixou deixou de ser time grande até que conquistou seu segundo bicampeonato brasileiro.
O São Paulo, entre a geração Telê e o título mundial de 2005, além do tri-brasileiro, também passou por anos obscuros.
Pois o Flamengo, numa época em que não havia campeonato nacional, mas torneios que mudavam de configuração e de nome (Rio-São Paulo, Taça Brasil, Roberto Gomes Pedrosa, Taça de Prata, etc.), passou sua época de vacas magras principalmente nos anos 60, data em que o Botafogo de Garrincha imperou ao lado do Santos do Pelé no futebol brasileiro.
E o que representou Zico? O Zico representou, para o Flamengo, aquilo que todo mundo esperava.
Quando apenas o Vasco da Gama tinha um título brasileiro, a geração Zico, entre 1980 e 1992, nos deu CINCO.
Quando apenas o Santos de Pelé e o Cruzeiro de Joãozinho e Nelinho tinham a Libertadores, e tinha gente que ainda desdenhava o título, dizendo que os estaduais eram mais importantes, a geração Zico nos deu a sua. E, aliás, o Flamengo foi o SEGUNDO time, depois do glorioso e maravilhoso Santos de Pelé, a ser campeão do Mundo. E era Zico o nosso líder.
Zico representou, para mim, uma infância e uma adolescência com referência no futebol. Um período da minha vida em que, nas piores adversidades, eu tinha algo em que me mirar e me encher de esperança para encarar a vida.
Zico, jovens amigos, é sinônimo de Flamengo. Sua memória há de ser preservada eternamente.
O jogo
Bem, conter a emoção durante a partida não foi fácil. Saber que ELE estava indo embora, se despedindo, deixava um nó na garganta difícil de conter. E aqui, amigos, só para ilustrar o que foi aquela noite, pergunto-lhes se se lembram de uma despedida de um atleta com CENTO E DOZE MIL PESSOAS NO MARACANÃ?
O jogo foi um festival de craques. Lembro-me de um negão enfurecido ao meu lado nas arquibancadas urrando "Pô, o Taffarel não sabe brincar". O cara fechava o gol. Lembro me da categoria do Mario Kempes no time do World Cup Masters.
Lembro-me, ainda, da festa antes do jogo, com o Pintinho recebendo as chuteiras do Zico. Pena que o Pintinho não confirmou no profissional ser o craque que era nas divisões de base.
Ao Arthur Antunes Coimbra
Arthur, não tenho palavras para dizer o que você significou para mim, como jogador, como exemplo de honestidade e coragem. Nunca vi uma pessoa reunir tantas qualidades como atleta e como ser humano. Tentem achar alguém igual; que tenha conseguido fazer o mesmo. Ser craqueno esporte e na vida com tanto brilho. Não encontrarão.
Zico é único. Obrigado, Zico, por tudo.
PS
Por que não esperei por 6 de fevereiro? Ora, porque a inspiração bateu agora e porque, sei lá, tanta coisa vai acontecer até lá e acho que hoje o tema será objeto de maior relfexão entre os amigos.
SRN a todos!