quarta-feira, 5 de novembro de 2008

BODAS DE PRATA

Ricardo Perez

Considero a todos nós, participantes do dia a dia da vida deste clube chamado FLAMENGO, torcedores especiais. Chega a parecer até que comemoramos mais as vitórias, sofremos mais com as derrotas, nos emocionamos mais com as conquistas e nos decepcionamos mais com os resultados que esperamos e que acabam não ocorrendo. Dedicamos horas dos nossos dias aqui debatendo os problemas, buscando as soluções, fazendo prognósticos, pedindo contratações e analisando jogadores com o único objetivo de encontrar os caminhos que julgamos ser os melhores para o nosso clube.Passamos dias sob efeito de ansiedade e tensão à espera da próxima partida, na expectativa da recuperação física de determinado jogador, preocupados se estes jogadores estão recebendo seus salários na data correta, assustados com uma dívida impagável que não é nossa, e fazendo contas sobre nossas possibilidades nas competições.
Mas o que esperamos receber em troca de tamanha dedicação? Apenas seriedade por parte dos nossos dirigentes e doação máxima daqueles que tratamos como ídolos – a quem invejamos por estarem tendo uma oportunidade que desde a infância todos nós sonhamos ter e que recebem salários astronômicos para fazê-lo.E a verdade é que, nesse Brasileirão, eles não têm cumprido com a sua parte e se tornaram responsáveis diretos por essa decepção que abate a todos nós, diante da proximidade da perda de um título tão conquistável como o atual. Nossos adversários lhes deram todas as chances possíveis e não souberam aproveitar. Derrotas inexplicáveis, vitórias não convincentes e empates decepcionantes, só para ficarmos restritos aos confrontos realizados dentro de casa.E se jogarmos o que jogamos a partir dos quinze minutos do primeiro tempo deste sábado, corremos o sério risco de enterrar de vez as nossas últimas esperanças.
Em países onde o futebol é o esporte mais praticado, o primeiro aprendizado com bola de qualquer criança é o passe. Na maioria das vezes, o pai pega o seu pimpolho, que mal ainda aprendeu a andar, e rola uma bola esperando que ele a devolva. Por isso mesmo, é inaceitável que profissionais SELECIONÁVEIS e eximiamente remunerados pequem tanto nesse fundamento básico. Seja no basquete, vôlei ou qualquer outro esporte coletivo, se o passe não funciona não se chega a lugar nenhum. E o nosso não está funcionando já há algum tempo.
Uma partida em que o Maxi faz gol de cabeça, o Jailton realiza uma verdadeira jogada de ala e faz um cruzamento perfeito para o nosso zagueiro, que completa com um golaço de meia bicicleta, é o que podemos chamar de atípica, não é mesmo?Começamos o jogo com o time exatamente como esperávamos, fazendo um gol na hora certa e parecendo até que o segundo era simples questão de tempo. NÃO FOI ! Reincidimos nos erros de passes nas saídas de bola, novamente nos desguarnecemos atrás ao nos mandarmos lá pra frente, atabalhoada e desnecessariamente, e acabamos dando a eles um contra-ataque que deveria ser nosso. O jogo fácil foi se complicando cada vez mais a ponto do intervalo ser comemorado e o time sair debaixo de uma estrepitosa vaia, mesmo vencendo o primeiro tempo. O resto da história vocês já conhecem e nem vale a pena lembrar.
É simplista a visão de que há um só culpado pelas nossas decepcionantes últimas atuações. Caio Jr. pode até ser o maior culpado de todos, mas não é o único. Não é ele quem erra seguidamente os passes no nosso meio de campo; não é ele quem perde gols incríveis debaixo das traves; não foi ele quem perdeu dois pênaltis no final da partida contra a mesma Portuguesa no primeiro turno; e é evidente que não foi ele quem se contratou para dirigir nossa equipe. Mas é dele a responsabilidade de corrigir erros como estes. O que me parece nítido nesse nosso segundo semestre é a falta daquela química que toda equipe vencedora possui e que demonstrávamos ter no ano passado. Nosso time parece sem TESÃO. Não sei se é rejeição pelo atual treinador, se há algum tipo de mal estar entre jogadores ou se é simplesmente falta de comprometimento de alguns. Mas que alguma coisa não está encaixando nesse grupo, parece bem claro.
E a mais recente demonstração de que o nosso treinador não tem a verdadeira dimensão da responsabilidade que é dirigir o Flamengo é a sua afirmação de que estamos reclamando de barriga cheia, pois somos o time Carioca mais bem colocado. Não entendeu ainda que a concorrência regional já não existe mais há anos. Temos ainda coadjuvantes, que na realidade não passam de meros figurantes, porque precisamos da presença de algum adversário quando entramos em campo nos estaduais. Só por isso. Não concorremos com eles. Estamos em um outro patamar, temos outras pretensões e infinitamente mais aspirações.
Mas, por mais erradas que andem as coisas lá pelo reino da Gávea, nossa paixão é eterna e incurável. Da mesma forma que um pai não renegaria um filho problemático, não conseguiremos reprimir essa paixão rubro-negra e ignorá-la dentro dos nossos corações. Não adianta virmos aqui dizer que não queremos mais saber de Flamengo, que vamos buscar outros interesses, que não acompanharemos mais suas partidas nem pelo rádio e todo esse blá blá blá, pós decepção. Esses rompantes normalmente não duram mais do que alguns dias. Bastará uma vitória convincente sobre o Botafogo e Palmeiras para que estejamos todos aqui novamente fazendo contas, por mais improváveis que sejam seus resultados.
Cabe-nos sim, repudiar veementemente a todos que se utilizam do Flamengo em beneficio próprio e lutarmos pelo afastamento sumário de cada um deles.Nossa torcida não merece diretores que se beneficiem financeiramente das negociações de jogadores, não merece um técnico que desconheça a grandeza do clube que treina, nem jogadores que nos vejam apenas como um trampolim para clubes europeus.O preço que estamos prestes a pagar pelo erro e a incompetência nas escolhas é a perda de uma hegemonia que completa bodas de prata esse ano. Há 25 anos somos o clube com maior número de títulos Brasileiros conquistados. E este orgulho nunca esteve tão perto de acabar.
Mas ainda não acabou. Faltam cinco rodadas e quem costuma desistir antes do final acabou perdendo gols históricos como o do Pet e Rondinelli.Se não der pra levar o caneco vamos lutar até o fim pela vaga na competição que pode nos levar de volta à disputa de um título mundial. Caso fiquemos novamente apenas com o Título Carioca e a vaga na Libertadores, teremos repetido o desempenho do ano passado, o que nos proporcionou um final de ano feliz e cheios de esperança para este.
Embora estejamos tristes, o gosto na boca seja amargo, a dor pela proximidade da perda de uma conquista totalmente possível seja inevitável e estejamos todos com o coração em vias de ser partido, desta vez estamos brigando na parte de cima e, sinceramente, é preferível perder uma luta pelo título do que ganhar uma contra um rebaixamento, como fizemos em vários anos recentes.Nos resta exigir que diretoria, treinador (QUE VIER) e jogadores cumpram a parte deles no ano que vem e nos proporcionem as alegrias que estão nos frustrando esse ano, pela mais clara e absoluta demonstração de incompetência de todos.
PRA CIMA DELES, MENGÃO !!!
Obrigado Ricardo Perez por mais esse Oasis de conhecimentos.