Salve, Buteco! Coé? Estão mais calmos e suaves com o nosso treinador Filipe Luís? Ou não deu tempo para passar? Enquanto dou boas risadas imaginando as respostas a essas perguntas, começo a escrever esse post confessando a vocês que, certamente por exagero da minha parte, dou pouca atenção a entrevistas coletivas pós-jogo. Acho que parto sempre de uma desconfiança prévia sobre a espontaneidade das respostas diante da miríade de fatores que tornam complexas as relações humanas dentro de um departamento de futebol profissional, além de sua não menos complexa, para não dizer enrolada e conflituosa, interação com a imprensa.
Tenho alguns grandes Amigos que acompanham com muita atenção as entrevistas coletivas de treinadores do Flamengo. Um deles é o Marquinhos, um fanático confesso. Já me disse, várias vezes, coisas como "Gustavo, do mesmo jeito que você gosta de números e tática, eu gosto de entrevistas coletivas. Sou fanático por entrevistas coletivas e presto atenção em cada detalhe".
Realmente, analisando por esse ângulo, não apenas o conteúdo das respostas, mas o tom de voz, o estado de ânimo, a (in) capacidade do treinador de responder sem se exaltar e ser irônico ou agressivo pode ajudar a compreender em qual estágio se encontra antes da inevitável queda. Digo inevitável porque, no Flamengo, a queda é uma certeza, separada do ato consumado apenas por meras variações temporais.
Então, em homenagem aos meus amigos fãs de entrevistas coletivas, resolvi escrever esse post analisando algumas das respostas dadas pelo nosso treinador após a dramática vitória pelo Deportivo Táchira, ainda na quarta-feira à noite.
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“Táchira mudou sua estratégia para esse jogo, eles não jogam com linha de 5 e se defenderam bem. Eles tem jogadores com qualidade defensiva. A chave foi ter um pouco mais de paciência, esperar que tivéssemos mais um pouco dos espaços”.
"Não existe nenhum time do mundo que tenha facilidade de entrar numa defesa com linha de 5, de 6, de 7. Vimos o City, um dos melhores times do mundo, contra o Cristal Palace, e não conseguiu entrar".
Meias verdades.
Pura verdade que o Táchira se defendeu bem na quarta-feira, porém não foi uma novidade na competição. A equipe venezuelana, apesar das seis derrotas em seis jogos (100% de não aproveitamento), não tomou nenhuma goleada e, como visitante, acabou se comportando melhor do que como mandante, criando dificuldades para os seus adversários.
Porém, linhas de 5, 6 e 7 não deveriam surpreender ninguém no futebol de hoje, nem tampouco a mudança de estratégia. O Táchira veio ao Rio para jogar pela honra e não ser massacrado, algo muito comum em equipes que não têm mais nada a perder em uma competição. Ninguém gosta de passar vexame em rede internacional.
Só os inocentes não previram ônibus morocotas estacionados à frente da grande área rubro-negra.
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"Atacamos com sete jogadores. Mais ofensivo que isso? Difícil. Muito difícil. Muitas vezes o adversário se fecha com 10 e temos que entrar de outras formas. Cruzamentos, bola parada... é o jeito de entrar em uma defesa tão bloqueada."
Fili em mais um momento Veneloui, ou seja, cheio de meias verdades.
De fato, sete podem ser suficientes para furar uma defesa com dez jogadores estacionados em formato de ônibus e ninguém aqui está criminalizando cruzamentos aéreos para a grande área adversária.
Só que é preciso método, né, Fili? Especialmente quando o time está cansado. Variações? Será que é pedir muito?
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"Não tem jogo fácil na Libertadores. Todos os times que estão na Libertadores são parte de cima da tabela nos seus países ou campeões, não tem jogo fácil."
Fili, meu Super. Não fode, tá? Não fode! O Palmeiras está aí para não me deixar mentir.
Um jogo de Libertadores pode se tornar fácil ou difícil conforme as atitudes dos treinadores, especialmente quando (não) estudam os adversários...
Fili não montou o elenco e não pode ser cobrado pela distância para o Palmeiras na parte física, porém é inegável que o Flamengo demorou demais para abrir o placar. Realidades coexistentes.
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“Para mim o elenco ideal tem que ter 25 jogadores. Nessa janela chegarão peças para reforçar e sairão outras. O que é normal, temos que aumentar a qualidade do elenco, o número de jogadores está suficiente”.
Aqui tenho mais dúvidas do que certezas. Por exemplo: 25 contam os 3 goleiros? Observem que, se contarem, temos na prática 22, pois o goleiro reserva (Matheus Cunha) quase nunca joga e o terceiro reserva (deconheço o nome) jamais joga, tornando forçoso concluir que o titular não cede a vaga para rodagem.
Outro exemplo: 25 (ou 22) rígido ou flexível? Conta ou não base integrada ao profissional com o mesmo sistema de jogo? Eu sei, eu sei, ele não utiliza a base, etc. É só uma pergunta conceitual, que puxa uma última.
25 (ou 22, flex ou hard) é um conceito estabelecido considerando chegadas e partidas no elenco, a partir das próximas janelas, ou os atletas do elenco atual são considerados ideais para um elenco esse número de atletas?
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"A característica dos jogadores é mais associativa. Só Gerson e Luiz Araújo têm essa característica de chutar de fora da área. É uma escolha dos jogadores. A gente treina tudo. Chute de dentro, fora da área, tabelas e os jogadores que tomam as decisões"
Intrigantes entrelinhas.
Jogadores associativos e sistema de jogo de posição.
Volto à última (terceira) pergunta do tópico anterior: os atletas do elenco atual são considerados ideais para o sistema de jogo definido pelo diretor técnico e o treinador?
Como serão as próximas janelas?
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"Sentimento de orgulho, vitória, soubemos sofrer, o goleiro foi herói. Não é fácil ganhar. Dou valor. Não podemos esquecer que esses jogadores jogaram domingo, 16h, no campo sintético contra o Palmeiras. Temos que comemorar."
Media training e psicólogo. Essas palavras não saem da minha mente. E estou falando do treinador e não do elenco. Que fique bem claro.
O time pareceu cansado mesmo e não é nenhuma novidade que o elenco tem um teto no aspecto da resistência em jogos disputados em sequência. Alguns jogadores são bastante frágeis neste quesito e tivemos vários desfalques, aumentando indesejavelmente a minutagem de outros, que jogaram no limite.
Admitida esta realidade, é preciso reconhecer, de outro lado, que é absolutamente desnecessário provocar a irritação da torcida falando em orgulho por uma atuação tão fraca nos aspectos tático e técnico. É o enaltecimento das mazelas, algo tão ilógico, quanto irracional.
Contudo, apesar disso tudo, esperar que o treinador esculhambe o próprio elenco e exponha problemas individuais é uma expectativa irreal. Talvez o torcedor possa relevar nesse ponto.
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"Minha cabeça está agora apenas no Fortaleza, no domingo."
Boa, Fili. Boa. Não menospreze o Vojvoda, apesar da crise do Tricolor de Aço.
Central Córdoba, né? Pois é.
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Sorria, Buteco. Hoje é sexta-feira. Amanhã falaremos sobre o jogo de domingo no Esquenta.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.